Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Considerações sobre o uso do Aptamil Profutura 1 como substituto do leite materno para o desenvolvimento lactente eficaz

O leite materno humano é considerado a fonte de nutrientes mais adequada para atender às crianças nos primeiros meses de vida. Nos casos em que a amamentação não é possível, seria o Aptamil Profutura 1 uma formulação adequada para suprir essa necessidade?

Descrição do produto
O Aptamil Profutura 1 produzido pela marca Danone é considerado uma fórmula infantil de partida em pó, sendo recomendada para bebês desde o nascimento até os 6 meses de idade. Se trata de um produto mais rico em ácidos graxos e micronutrientes quando comparado com os seus antecessores, visando uma melhor metabolização dos lipídios na dieta, melhor digestão e menor perda de cálcio nas fezes, de forma a reduzir a cólica e a constipação. Dessa forma se alcançaria um produto mais nutritivo, se assemelhando mais ao leite materno. No entanto, tal “tecnologia” resulta em uma elevação no custo para o consumidor.

O ideal é a utilização de fórmulas que contenham prebióticos e os ácidos graxos conhecidos como LC-PUFAS. O Aptamil Profutura 1 apresenta uma fórmula enriquecida com os nucleotídeos prebióticos GOS/FOS. Estes são, em sua maior parte, carboidratos que servem de alimento às bactérias benéficas presentes no intestino, favorecendo o crescimento destes microrganismos e melhorando a imunidade da criança. Já os ácidos graxos LC-PUFAS são apresentados na fórmula como DHA (ácido decosahexanoico) e ARA (ácido araquidônico), sendo estes os ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa essenciais para o desenvolvimento neurológico da criança.

Legislação
A RDC 43/2011 define fórmula infantil como um “produto, em forma líquida ou em pó, utilizado sob prescrição, especialmente fabricado para satisfazer, por si só, as necessidades nutricionais dos lactentes sadios durante os primeiros seis meses de vida (5 meses e 29 dias)”.

Essa mesma RDC descreve quais os requisitos nutricionais dessas fórmulas, informando os valores de conteúdo mínimo e máximo de cada nutriente.

Também é descrito na RDC 43/11, seção II, artigo 21, que, para garantir que a formulação seja adequada como fonte única de nutrientes do lactente, pode-se adicionar ingredientes às fórmulas infantis além dos essenciais. Deve-se levar em consideração os compostos e limites normalmente encontrados no leite humano e/ou benefícios similares aos encontrados em lactentes amamentados exclusivamente com leite humano.

Com relação aos prebióticos, deve-se ter no máximo 0,8g/100 ml em uma combinação de 10% de frutooligossacarídeos e 90% de galactooligossacarídeos.

De acordo com o artigo 26, capítulo IV, dessa mesma RDC, “os produtos devem atender aos regulamentos técnicos específicos de boas práticas de fabricação; aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia de fabricação; contaminantes; características macroscópicas, microscópicas e microbiológicas; e outras legislações pertinentes”.

O informe técnico nº. 36, de 27 de junho de 2008 exige alguns aspectos com relação à tabela nutricional desses produtos: não deve haver indicação de porção na tabela nutricional; os valores devem ser declarados por 100 g/100 mL tal como exposto a venda ou por 100 mL do alimento preparado e pronto para consumo ou declarados por 100 kcal; deve-se declarar todos os nutrientes além dos obrigatórios (quantidade dos nutrientes da composição essencial e da composição opcional); todos os essenciais devem constar na tabela mesmo quando ausentes e os opcionais apenas quando adicionados.


Discussão
O primeiro leite produzido pela mãe, conhecido como colostro, é considerado “a primeira vacina do recém-nascido”, por sua riqueza em anticorpos, apresentando menos gorduras e mais proteínas do que o leite maduro. Assim, é necessária a ingestão de uma pequena quantidade a cada mamada para satisfazer o bebê nutricionalmente.

O leite materno orienta para o crescimento da flora intestinal do bebê através do chamado “bifidusfactor”, como as bifidobactérias e os lactobacilos. A elevação do número desses microrganismos no trato gastrointestinal do bebê leva à síntese de moléculas antibacterianas e antibióticas, resultando na inibição da proliferação de bactérias patogênicas, resistência a infecções e estímulo da resposta imune contra bactérias.

No entanto, algumas lactantes apresentam baixa produção de leite, onde este não é suficiente para atender o bebê, ou até mesmo casos em que representa risco para a saúde da criança, gerando a necessidade de utilização das chamadas “infant formulas”.

A composição dessas formulações tem a intenção de se assemelhar ao máximo ao leite materno, através de composição química mais próxima possível, inclusive em termos de valor biológico. No entanto, algumas substâncias são de difícil incorporação nas fórmulas infantis; por isso, algumas infant formulas, como o Aptamil Profutura 1, propõem a suplementação orientada de prebióticos, a partir de dose e período de utilização adequados.

Nos casos em que a amamentação não é possível, a formação dessa flora pode se dar através do uso de prebióticos: substâncias que promovem o crescimento dessas bactérias benéficas para a microflora do cólon dos bebês, como exemplo os oligossacarídeos (FOS e GOS). Estas substâncias são parcialmente digeridas no intestino delgado e são responsáveis pelo fortalecimento do sistema imune e desenvolvimento da flora bifidogênica.

Nos bebês, estudos descrevem que estes prebióticos regulam a microbiota intestinal, modulam a absorção de cálcio e metabolismo de lipídeos e que são considerados uma suplementação segura capaz de facilitar o trânsito intestinal.

É importante ressaltar que o uso de fórmulas infantis requer orientação médica, sendo indicada em casos de necessidade nutricional verdadeira, tendo em vista que o seu uso indiscriminado pode levar a prejuízos à saúde.

Existem diversos estudos comparando, sob uma visão bromatológica, o leite humano e as fórmulas infantis, como o de Corkins et al (2017):


Tendo como base os levantamentos comparativos da literatura e ao confrontar o rótulo do Aptamil Profutura 1 com os requisitos exigidos da ANVISA, após realização das devidas conversões de unidade, pode-se observar que este produto atende nutricionalmente o que é preconizado pelo órgão regulatório.

No entanto, apesar dessa formulação fornecer os nutrientes provavelmente necessários para o bebê, vale ressaltar que o leite materno é dinâmico e próprio para o filho, sendo capaz de se adaptar às necessidades da criança. Ele varia de acordo com diversos aspectos, como a idade do lactente, a dieta e estado de saúde da mãe, influências ambientais. As fórmulas infantis, por outro lado, não se modificam e apresentam variação nos valores dos seus nutrientes.

O fabricante, por sua vez, destaca no seu site e na embalagem do produto a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde (MS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de que o leite materno seja oferecido como fonte exclusiva de alimentação do bebê até os 6 meses de vida e a importância de se seguir a prescrição do médico ou nutricionista.

Com relação à representação dos componentes na tabela nutricional, observa-se que o produto em questão atende ao exigido pela legislação. No entanto, a composição química está descrita em uma extensa tabela com inúmeras vitaminas e minerais, o que não permite a compreensão acerca do produto por uma pessoa leiga, já que não apresenta uma relação com a necessidade diária.

Conclusão
O Aptamil Profutura 1 atende nutricionalmente aos bebês uma vez que contém os nutrientes necessários e conformes com o que é preconizado pela legislação. No entanto, deve-se levar em consideração que as necessidades do bebê variam de acordo com diversos fatores que não necessariamente se aplicam a todos os indivíduos, e as fórmulas infantis não são dinâmicas. A adição dos prebióticos, além de todos os outros componentes necessários, pode ser uma tentativa de atenuar a diferença entre o leite materno e a fórmula infantil, visando sempre a maior semelhança possível.


Autores: Jessica Milheiro e Priscilla Mestolo.

Referências Bibliográficas
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico nº. 36, de 27 de junho de 2008. Orientações sobre a declaração da informação nutricional em alimentos para fins especiais e outras categorias específicas.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada nº 43, de 19 de setembro de 2011. Dispõe sobre o regulamento técnico para fórmulas infantis para lactentes.
Corkins et al, 2017. Donor human milk for high-risk infant: preparation, safety, and usage in the United States. Pediatrics. 2017.
Millani, E.; Konstantyner, T.; Taddei, J. A. A. C. Efeitos da utilização de prebióticos (oligossacarídeos) na saúde da criança. Rev. Paul. Pediatr. São Paulo, 2009


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