Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Adição de ácidos graxos essenciais em Fórmulas Infantis

Atualmente, podemos encontrar no mercado muitos tipos de fórmulas infantis, com grande variedade nos rótulos, que demonstram diversos nutrientes que são adicionados. Alguns nutrientes são de extrema importância para o desenvolvimento do bebê, como os ácidos graxos essenciais, que não são produzidos pelo organismo e são muito úteis para o desenvolvimento neurológico e a função visual de uma criança. Sendo assim, formulas infantis que contem essas substâncias podem fazer diferença no QI de uma criança. Então, por que há essa diversidade tão grande nas formulas infantis?

Descrição do produto

O produto Aptamil® Premium 1, da marca Danone®, é uma fórmula infantil destinada para o uso por crianças de até seis meses de vida. Contém proteínas lácteas. É comercializado em latas de 400 e 800 gramas. Além do Aptamil Premium 1, é vendido também o 2, destinado a crianças a partir dos seis meses, e o 3, indicado para crianças a partir do décimo mês de vida.  É enriquecido com prebióticos, ácidos graxos essenciais (ácido docosahexanoico – DHA - e ácido araquidônico – ARA) e nucleotídeos. 

Legislação

De acordo com a Portaria n° 997 de 05 de dezembro de 1998 do Ministério da Saúde, considera-se Fórmula Infantil o produto em forma líquida ou em pó, destinado à alimentação de lactentes, sob prescrição, em substituição total ou parcial do leite humano, para satisfação das necessidades nutricionais deste grupo etário; excetuando-se as fórmulas destinadas a satisfazer necessidades dietoterápicas específicas.

Segundo a RDC n° 46 de 25 de setembro de 2014 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), quando forem adicionados os nutrientes ácido docosahexaenoico (DHA) e ácido araquidônico (ARA), taurina, nucleotídeos, l-carnitina, frutooligossacarídeos (FOS) e galactooligossacarídeos (GOS) e ou outros nutrientes opcionais, suas quantidades devem ser declaradas na informação nutricional. No rótulo do produto Aptamil®, é declarado que a fórmula contém alguns elementos citados nesse trecho da legislação, como DHA, ARA, FOS e GOS que são prebióticos, e nucleotídeos. E é visto que o rótulo contem as quantidades desses componentes na tabela de informação nutricional, conforme é exigido na resolução.

Para as fórmulas infantis, de acordo com o Informe Técnico nº 36 de 27 de junho de 2008 da ANVISA, os valores da informação nutricional devem ser declarados por 100g ou 100 ml do alimento quando exposto à venda; e no rótulo do produto, observamos que esse critério também é atendido.

Discussão

O ácido docosahexanoico (DHA) e o ácido araquidônico (ARA) são ácidos graxos de cadeia longa que estão presentes na formulação do produto demonstrado acima. Especialistas apontam que o DHA é fundamental para o desenvolvimento cerebral e para a visão das crianças, e que deve fazer parte da dieta da mãe desde a gestação. O DHA atua na formação, no crescimento e no próprio funcionamento do cérebro. Esse órgão começa a ser estruturado ainda no útero, quando se formam bilhões de células nervosas chamadas neurônios. Elas são protegidas por uma capa de gordura, a bainha de mielina, que também ajuda na comunicação entre os neurônios, as chamadas sinapses – e, quanto mais delas, mais rápido é o pensamento. A mielina é composta por uma combinação de uma proteína (esfingomielina) e gordura – no caso, o DHA.

Nosso corpo é rico em ácido alfa-linoleico (ALA), o precursor do DHA e por meio do qual conseguimos metabolizar o nutriente no organismo. Porém, o grau de conversão é reduzido e, por isso, a ingestão de DHA se faz necessária. Além do DHA, o ARA também é considerado um dos principais componentes da membrana fosfolipídica das células do sistema nervoso central. Os ácidos graxos de cadeia longa são rapidamente absorvidos no cérebro durante o seu período de desenvolvimento, que corresponde o último trimestre de gravidez até aproximadamente dois anos de idade. Embora maior parte desses ácidos graxos essenciais sejam adquiridos e utilizados no período pré-natal, após o nascimento também há o acúmulo desses lipídeos e são fornecidos principalmente pela amamentação. Ou seja, esses ácidos graxos atuam sobre o crescimento, a funcionalidade e a integridade do cérebro.

O leite materno apresenta três vezes mais ARA e DHA que o leite de vaca, sendo o segundo insuficiente para atender as necessidades do lactente. Os neonatos mais vulneráveis para desenvolver deficiência desses ácidos graxos são os recém-nascidos prematuros e os que são alimentados com fórmulas infantis sem a presença desses ácidos graxos. Foi observado em estudos que recém-nascidos que tiveram deficiência nas quantidades desses lipídeos poderiam sofrer de crescimento inadequado, dermatites, aumento da susceptibilidade de infecções, entre outros problemas.

A melhor forma de assegurar a oferta desses lipídeos para o bebê é por meio do leite materno, porém, quando a prática da amamentação é impossibilitada, o uso das fórmulas infantis pode ser uma alternativa para a alimentação do bebê. As fórmulas infantis deveriam mimetizar o leite materno, necessitando que fossem constituídas com o máximo de nutrientes possíveis que são encontrados no leite materno, porém não é o que acontece com as que estão à venda no mercado e sim somente em algumas versões como ditas “premium”. Apesar do avanço tecnológico e diversas modificações que esses produtos sofreram ao longo do tempo, essas fórmulas ainda apresentam grandes diferenças na composição quando comparadas ao leite materno.

No Brasil, tudo isso ainda é muito recente, as fórmulas infantis começaram a ser comercializadas com ácidos graxos de cadeia longa no início de 2008. Porém, lá fora, o DHA já é considerado essencial para o desenvolvimento infantil. A European Food Safety Authority (EFSA) aprovou, em maio de 2011, que três frases de saúde relativas ao DHA fossem impressas nos rótulos de alimentos fonte ou enriquecidos. É preferencial que a suplementação das fórmulas infantis com o ARA e DHA sejam feitas com quantidades próximas daquelas que são encontradas no leite materno.

O efeito benéfico dos ácidos graxos essenciais para a saúde humana já foi evidenciado em diversos estudos. Durante toda a etapa do crescimento do bebê, a oferta desses ácidos graxos em quantidades adequadas é fundamental para o bom desenvolvimento e funcionamento do cérebro e da retina. Alguns estudos já observaram maiores concentrações de ácidos graxos de cadeia longa nos eritrócitos e no plasma de recém-nascidos prematuros que foram alimentados com fórmulas enriquecidas com ARA e DHA, em comparação com os que foram alimentados com as fórmulas sem a adição desses componentes; apesar de não terem alcançado os níveis de ácidos graxos nos prematuros alimentados com leite materno. Por isto, é incontestável que o leite materno é a melhor forma de oferta desses ácidos graxos para o bebê. Além disso, mais investigações são necessárias para analisar os possíveis efeitos do uso de fórmulas infantis enriquecidas no desenvolvimento das crianças.

Conclusão

Nota-se um projeto em curso, não somente para “customização” das fórmulas infantis, mas também para instauração de uma imagem de “alimento funcional” diferenciado e superior ao leite materno. Isto é, as fórmulas infantis tendem a evoluir na contracorrente: em vez de convergirem para serem todas o mais similar possível ao leite materno e, em decorrência, serem cada vez mais similares entre si, elas, inversamente, se vergam às forças da concorrencialidade e procuram, por ações de ordem mercadológica, se diferenciar mais e mais umas das outras. Diferenciam-se adicionando substâncias que inspiram alegações nutricionais e de saúde, como DHA, ARA, prebióticos, probióticos e entre outros, criando versões “premium” que não beneficiam a todas as crianças.

Autores: Natália Silva de Santana, Nathalia Correia Nascimento e Rafael de Oliveira Batista.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. RDC n° 46, de 25 de setembro de 2014. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/Resolu%25C3%25A7%25C3%25A3o%2BRDC%2B46_2014_Altera%2BRDC%2B43_2011_.pdf/9b12d745-3c3f-48fb-9b1e-a035f60d625a?version=1.0>. Acesso em 5 Nov. 2018.

DANONE. Nossos produtos: Fórmulas infantis. Disponível em: http://www.danonebaby.com.br/formulas-infantis/. Acesso em: 07 Nov. 2018.

KUS, Mahyara Markievicz Mancio et al . Informação nutricional de fórmulas infantis comercializadas no Estado de São Paulo: avaliação dos teores de lipídeos e ácidos graxos. Rev. Nutr.,  Campinas ,  v. 24, n. 2, p. 209-218,  Apr.  2011 .  Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141552732011000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  08  Nov.  2018. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 997, de 05 de dezembro de 1998. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1998/prt0977_05_12_1998_rep.html>. Acesso em: 6 Nov. 2018.

SILVA, Deila Regina Bentes da; MIRANDA JUNIOR, Paulo Fernando; SOARES, Eliane de Abreu. A importância dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa na gestação e lactação. Rev. Bras. Saude Mater. Infant.,  Recife,  v. 7, n. 2, p. 123-133,  Apr.  2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151938292007000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  06  Nov.  2018. 



Um comentário:

  1. Atualmente, existem diversas formulas infantis tentando chegar o mais próximo possível do leito materno mas mesmo assim a amamentação é de extrema importância para o desenvolvimento do bebe e isso vem escrito na própria embalagem das fórmulas infantis. Achei bem interessante a Danone fazer a adição de ácidos graxos, principalmente de DHA e ARA, que são encontrados 3 vezes mais no leite materno, e são de extrema importância para o desenvolvimento neurológico do bebe e nas outras marcas que já vi no mercado nunca tinha percebido adição desses ácidos graxos.

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