Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Achocolatados x Ovomaltine e o Malte: Você sabe o que está comprando?


Segundo a legislação os ingredientes dos alimentos embalados devem constar em ordem decrescente, ou seja, do presente em maior quantidade até o em menor proporção. Sendo assim, os achocolatados são compostos principalmente de açúcar. O Ovomaltine se diz melhor que os demais achocolatados porque contém MALTE! Ora, qual é realmente a vantagem se são todos majoritariamente açúcar? E O QUE É MALTE? Ou melhor, “extrato de malte” como consta na lista de ingredientes?

Legislação

De acordo com a Portaria nº 42, de 14 de janeiro de 1998, que regula a Rotulagem de Alimentos Embalados, na lista de ingredientes devem constar todos seus componentes em ordem decrescente, da respectiva proporção.

Ingredientes dos achocolatados, conforme declarado no rótulo.
*Clique nas imagens para melhor visualizá-las.

Os achocolatados Gold e Sempre light são dietéticos, ou seja, especialmente formulados para atender às necessidades de pessoas com distúrbios no metabolismo de sacarose, frutose e/ou glicose3.


Comparando-se os rótulos de produtos achocolatados tradicionais, é possível verificar que eles apresentam como primeiro ingrediente o açúcar. O que significa que ele é o principal componente destes produtos. No entanto, dentre os achocolatados, o Ovomaltine se destaca, pois já no nome induz a presença de dois componentes que não são comumente encontrados nos demais: o Ovo e o Malte. O ovo nós conhecemos, mas e o Malte, o que é?
A ANVISA em sua Resolução - CNNPA nº 12, de 1978 define o Malte como o produto resultante da germinação e posterior dessecação do grão de cevada Hordeum sativum ou de outros cereais. O produto é designado simplesmente "malte" quando obtido da cevada; quando obtido de outro cereal, será designado pela palavra "malte" seguido do nome do cereal de origem. Ex.: malte de milho.


Fundamentos Bromatológicos



Na figura A que é o rótulo posterior do produto, destacado pela seta de cor roxa, o fabricante destaca a presença de mais de 20% de extrato de malte, já no rótulo frontal (figura B), marcado pela mesma cor de seta, o produto também alega conter 10 vitaminas, Ferro, Zinco e Cálcio e novamente destaca a presença de agora mais de 20% de malte.
Mas o que é esse 20% de malte? Seria do total de pó, 20% é malte, ou seja, das 400g temos 80g de puro malte? Mas, o ingrediente utilizado não é o extrato de malte? Então, o extrato de malte é composto de 20% de malte?
O extrato de malte é o produto obtido unicamente do malte de cevada após tratamentos como: maceração, extração e concentração. Sendo o produto em pó, tem-se o extrato seco de malte que é obtido pela evaporação da água do extrato de malte utilizando, por exemplo, spray-drying.No processo de extração são obtidas as substâncias químicas solúveis em água da cevada.Um extrato bem concentrado apresenta teor de sólidos em torno de 20-25%4.


Além disso, o fabricante informa que o extrato de malte contribui para que o produto seja nutritivo. Porém, ele é comumente usado com outras funções, principalmente em produto de panificação por promover aumento na atividade da levedura (o que acelera o processo fermentativo), maior retenção de gases, aumento de volume e redução do tempo de forno. Também sendo usado como realçador de sabor e adoçante natural em produtos alimentícios, agente de escurecimento, desenvolvendo cor e brilho e agente umectante, retendo água, aumentando a vida de prateleira. O uso de extrato de malte é bem conhecido em produtos, como: panetones, fornecendo cor, sabor e maciez; biscoitos tipo creamcracker, auxiliando o processo de fermentação; pão italiano, auxiliando na melhoria da cor da casca, e bolo de chocolate, potencializando o sabor5. Assim, a função do extrato de malte no produto seria a de torná-lo mais saboroso e não de agregar valor nutritivo pois embora ele seja fonte de proteínas, vitaminas e sais minerais, não existe estudos que indiquem suas quantidades reais.
Agora compare a definição para Malte da ANVISA e o texto que responde a pergunta "O que é Malte" presente no rótulo do produto.Esta definição é puramente mercadológica e pouco científica, com objetivo apenas de incentivar o consumo e não de informar o consumidor.

Ainda na figura, marcado por setas de cor verde constata-se que o rótulo diz que é rico em malte, mas como ele não é um nutriente essencial não se pode avaliar a utilização desta expressão (“rico”) ficando a cargo do fabricante o uso da mesma. Caso fosse um nutriente essencial 100 mL do produto pronto para o consumo deveria conter 30% da IDR de referência, por ser um produto sólido, para poder rotular como “rico” em malte.

Ao contrário, as vitaminas e minerais presentes no ovomaltine que alega ser “enriquecido com vitaminas e minerais” são nutrientes essenciais e, portanto, deverão estar presentes em 30% da IDR de referência em 100mL do produto pronto para consumo para ser permitida a utilização do “claim” rico (Portaria n º 31, de 13 de janeiro de 1998).
Observe que a tabela de informação nutricional mostra as quantidades de vitaminas e minerais na porção que é de 30g e desta forma a maioria das porcentagens encontra-se acima de 30% da IDR. No entanto deve-se atentar para dois erros: Primeiro que não poderiam ser consideradas ricas em 10 vitaminas, pois duas não estão acima de 30% e o mesmo ocorre para a maioria dos minerais. Outro problema é que utilizando a coluna de %VD para crianças de 7-10 anos de idade e a indicação de preparo do produto podemos calcular as quantidades de vitaminas e minerais e ver que se são utilizadas 30g em 150mL de leite, em 100mL da bebida pronta as quantidades de vitaminas e minerais serão ainda menores que as tabeladas.Por exemplo, para a vitamina A que representa 30% da VD em 30g de ovomaltine em 150mL de leite, em 100mL haveria 20%.

As setas em azul indicam o local no rótulo onde o fabricante recomenda ao consumidor o acesso do site da marca. Este é considerado uma extensão do rótulo, pois contém diversas informações sobre o produto, porém onde não há regulamentação. Além de conter historinhas e jogos direcionados ao público infantil.

Conclusão

As informações no rótulo frontal e posterior referentes à presença de malte e extrato de malte são contraditórias, sabendo-se que malte e extrato de malte são diferentes e estão em desacordo com a Resolução - CNNPA nº 12, de 1978 da ANVISA que diz que os rótulos dos maltes e seus derivados devem trazer a indicação clara do seu tipo e de sua origem. Ex.: "Extrato de malte", "Extrato de malte de milho" ou "Extrato de milho maltado". O fabricante confunde o consumidor quanto a vantagem do produto relativo ao conteúdo de malte, que é um componente pouco conhecido pelo público, pois seu “claim” RICO caracteriza que é uma substância benéfica.Veja que este é diferente de um simples anúncio de “contém malte” que não induz nenhuma idéia de saudável. Porém, esta alegação não é regulada e não caracteriza uma não conformidade do rótulo.
No entanto o produto descumpre as limitações de nutrientes para apresentar o “claim” de enriquecido com vitaminas e minerais. A partir dos cálculos apresentados para as quantidades de vitaminas e minerais é possível ver que o consumidor está sendo enganado quanto as reais quantidades de nutrientes do produto e os “claims” utilizados estão em desacordo com a legislação.
A legislação é falha porque permite que se utilize de termos que exaltam a presença de ingredientes sem delimitar sua quantidade e, consequentemente, a existência real de algum benefício. Há também uma falha na fiscalização, pois apesar das não conformidades o produto permanece no mercado.


Bibliografia
1.Portaria nº 42, de 14 de janeiro de 1998 sobre Rotulagem De Alimentos Embalados.Link.

2.Resolução - CNNPA nº 12, de 1978.Link.

3. Mércia de Freitas Eduardo*, Suzana Caetano da Silva Lannes.Achocolatados: análise química. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas.Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences.vol. 40, n. 3, jul./set., 2004.Link.

4. CRISTINA LEISE BASTOS MONTEIRO MALTE.. Boletim do Centro de Pesquisa de Processamento de Alimentos, Vol. 4, No 1 (1986).Link.

5.GUTKOSKI,Luiz Carlos. Efeito do extrato de malte de aveia nas características físicas de pão de fôrma. Braz. J. Food Technol., III SSA, novembro 2010.Link.

6.http://www.ovomaltineforever.com.br/

7.Portaria n º 31, de 13 de janeiro de 1998.Link.

AUTORES: CAROLINA ARAÚJO E PRISCILLA GOMES

8 comentários:

  1. Excelente trabalho. A despeito do malte não representar um perigo em potencial (a não ser para os diabéticos), podemos observar neste trabalho que a publicidade pode induzir erroneamente de que se trata de um produto com diferencial no mercado. E neste aspecto, a discordância mais relevante consta na Portaria n º 31, de 13 de janeiro de 1998, no qual o claim "rico" deve indicar a presença de 30% da IDR referenciada em 100ml do produto. O ovomaltine se utiliza desta alegação embora podemos observar (vide tabela de informação nutricional) que temos valores dos micronutrientes abaixo de 30% e, além disso, os demais minerais também estão abaixo do limite estabelecido de 30% para o claim "rico".

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  2. Segundo a Resolução - CNNPA nº 12, de 1978, alimentos enriquecidos são definidos como "todo alimento ao qual for adicionada substância nutriente, com o objetivo de reforçar o seu valor nutritivo, seja repondo quantitativamente os nutrientes destruídos durante o processamento do alimento, seja suplementando-os com nutrientes em nível superior ao seu conteúdo normal".
    Para que o produto seja considerado com uma foonte de vitaminas, por exemplo, as vitaminas citadas no rótulo, isoladamente ou em conjunto, na ração diária média, deverão ter os seguintes teores:
    VITAMINA A- 1.200 U.I
    VITAMINA B1- 0,45 mg
    VITAMINA B2- 0,75 mg
    VITAMINA C- 15,0 mg
    NIACINA OU NIACINAMIDA- 4,5 mg
    COMPLEXO B- uma quantidade que fornecerá, no mínimo, as seguintes quantidades de 3 das vitaminas:
    a)VITAMINA B1- 0,3 mg
    b)VITAMINA B2- 0,3 mg
    c)VITAMINA B6- 0,25 mg
    d) NIACINA OU NIACINAMIDA- 1,5 mg
    e) ÁCIDO PANTOTÊNICO- 0,5 mg
    Dessa maneira, ratifica-se a despreocupação por parte do fabricante do produto, visto a quantidade de vitaminas descrita na embalagem não se adequa aos parâmetros acima, constatando o erro na descrição de produto rico, nesse caso, em vitaminas.
    O consumidor acredita no que lê no rótulo, como também acredita que há uma fiscalização eficiente que o proteja. E o fabrincante, confia nisso. Além disso, o fabricante também confia na fiscalização, ou melhor, na falta dela. Dessa forma, é livre para atacar o consumidor, garantindo a venda de seu produto. Criticar a legislação, a fiscalização, a indústria é uma forma de demonstrar insatisfação e indignação. Mas isso basta? Conscientizar a população e procurar meios mais efetivos de mudança também é nosso dever para que se estabeleça o respeito ao consumidor.

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  3. Ótimo trabalho em que aborda as contradições existentes em inúmeros rótulos, sempre na tentativa de ludibriar o consumidor e enaltecer o produto a qualquer custo. As empresas procuram brechas na legislação e muitos simplesmente ignoram as regulamentações. O fabricante também usa a falta de conhecimento sobre o malte e não faz a distinção devida ("Extrato de malte", "Extrato de malte de milho" ou "Extrato de milho maltado").
    Os fundamentos bromatológicos foram claramente explorados e explicados, mostrando em mais alguns pontos a falta de fiscalização dos produtos e de seus rótulos.

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  4. Muito técnico essas informações ficou confuso gostaria de um linguagem mais simples e esclarecedoras. Finalmente existe algum risco para as crianças ou mesmo o adulto? Engorda mais do q nutre. Enfim adoro o sabor e minha neta também.

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    1. Concordo.gostaria de saber o que de fato ocorre na alimentação das crianças com " malte".

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  5. Ovomaltine é uma delicia. Tomo a 40 anos. E depois, considerar o que a ANVISA pensa ou a UFRJ prefiro ficar com rótulo dos suiços.....

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  6. Ovomaltine é uma delicia. Tomo a 40 anos. E depois, considerar o que a ANVISA pensa ou a UFRJ prefiro ficar com rótulo dos suiços.....

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