Shake Herbalife: Imagem ou Benefícios?

A maioria das pessoas já tentou alguma vez na vida reduzir gordura ou aumentar sua massa muscular. E nessa luta pela boa forma e peso adequado vale tudo. Os Shakes são alimentos especialmente formulados e elaborados de forma a apresentar composição definida, adequada a suprir parcialmente as necessidades nutricionais do indivíduo. Mas será que a redução total de calorias, independente da composição de dieta adotada, ou seja, da proporção de gorduras, proteínas ou carboidratos, é determinante para o emagrecimento? E será que existe uma diferença entre as empresas quanto ao enquadramento à legislação e o preço associado ao produto? A Herbalife preconiza mais que emagrecimento, mas uma alteração na qualidade de vida do consumidor. Seria por isso tão mais cara?

Por: Patrícia Garcia Ferreira e Thiago de Paiva Garcia

Introdução

A obesidade foi enquadrada recentemente como epidemia mundial, e dados estimativos da organização mundial de saúde (OMS) de 2002 apontam para mais de um bilhão de adultos com excesso de peso no mundo, sendo 300 milhões considerados obesos. No Brasil, estudos epidemiológicos mostram que 40% da população adulta já se enquadram em classificação de sobrepeso e segundo pesquisas recentes do IBGE (2008-2009) a obesidade já atinge 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres em idade adulta.

Em paralelo, o perfil da propaganda alimentícia brasileira cria uma ideologia confusa de estética e saúde, atrelando o segundo necessariamente ao primeiro. Uma pesquisa realizada pelo laboratório Abbot® em alguns países (Alemanha, Brasil, China, Itália e Inglaterra) constatou que o brasileiro tem uma visão deturpada do que seria o corpo saudável, geralmente buscando dietas rápidas e milagrosas a um balanço nutricional equilibrado e uma reeducação alimentar.

Nesse contexto, vários alimentos ou produtos alimentícios vêm bombardeando o mercado com promessas de melhorarem a saúde e/ou um emagrecimento rápido e eficiente. Dentre esses podemos citar as rações humanas, alimentos com baixa caloria, e o alvo desse trabalho, os shakes substitutos parciais de refeição.

A Herbalife é uma empresa consagrada no mercado na venda de produtos destinados a proporcionar um estilo de vida saudável. A marca é reconhecida mundialmente e apresenta diversos projetos sociais, fomento a atividades desportivas e oportunidade de negócios. A proximidade do cliente com os distribuidores Herbalife, ou como se refere à própria empresa, “mentores para um estilo de vida saudável”, é o ponto chave para a credibilidade em seus produtos.

O objetivo geral desse trabalho é pesquisar a regularização sanitária desses produtos (shakes para substituição parcial das refeições) junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com base nos critérios presentes na resolução correspondente (RDC 30/98). Como objetivo específico buscou-se fazer um paralelo, com base em regulamentações e trabalhos científicos, de qual seria a dieta ideal para se perder peso e uma comparação do produto de escolha (shake herbalife) com outros do mercado com base na relação custo/benefício.

Legislação

Os shakes são legislados pela Portaria ANVISA no 30/98, que os caracterizam como alimentos para controle de peso, que se classificam em Alimentos para Redução ou Manutenção de Peso por Substituição Parcial das Refeições ou para Ganho de Peso por Acréscimo às Refeições.

-Energia: A energia fornecida pelo alimento não deve ser inferior a 200 kcal (840 kJ) nem exceder a 400 kcal (1.680 kJ) por porção pronta para o consumo.

-As proteínas presentes devem fornecer no mínimo 25% e no máximo 50% do valor energético total desses alimentos. A ingestão total diária de proteínas não deve exceder a 125g.

-Lipídios: A energia fornecida pelos lipídios deve ser no máximo de 30% do valor energético total do alimento, incluindo o mínimo de 3% da energia proveniente dos lipídios derivados do ácido linoléico.

Em relação às rotulagens desses produtos, estes devem atender às normas de rotulagem em geral e também às normas de rotulagem dos Alimentos para Fins Especiais. Devem constar no painel principal, a designação do alimento, seguido da finalidade a que se destina e devidamente em destaque e negrito “Consumir somente sob supervisão de médico e/ou de nutricionista.” Nos demais painéis da embalagem devem constar a informação nutricional, sendo que, os valores nutricionais devem ser declarados por 100g ou 100mL do alimento e ainda, obrigatoriamente, por porção, indicando também o número de porções contidas na embalagem. Também deve constar a instrução do modo de uso para manutenção, redução ou ganho de peso corporal e orientações em destaque e em negrito, “Ao consumir este alimento aumentar a ingestão diária de água” e “Este produto não deve ser usado na gestação, amamentação e por lactentes, crianças, adolescentes e idosos, exceto sob indicação de médico ou nutricionista.”

Fundamentos Bromatológicos Anunciados

De acordo com o artigo “Comparasion of Weight-Loss Diets with Different Compositions of Fat, Protein and Carbohydrates” publicado na “The New England Journal of Medicine” foi observado que apesar da composição distinta de macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas) em uma dieta, o essencial para o controle do peso é a redução calórica.

No entanto, para o bom funcionamento do organismo é necessário que os nutrientes estejam em quantidades balanceadas, tanto em nível de macro quando de micronutrientes. Caso a proporção de nutrientes esteja discrepante em relação aos valores recomendados, o consumo rotineiro pode trazer agravos à saúde. Idealmente, as contribuições calóricas devem ser: carboidratos (55%), proteínas (15%) e gorduras (30%).

Como visto, alguns riscos estão associados a uma alimentação não-balanceada, por exemplo, o consumo ineficiente de proteínas pode levar uma diminuição da massa muscular enquanto seu aumento gera um quadro de cetoacidose (metabolização do componente principal das proteínas, os aminoácidos).

De uma forma geral, os Shakes presentes no mercado apresentam uma redução significativa e similar no número de calorias por porção, no entanto, algumas diferenças são observadas na composição de macronutrientes, e mais ainda, na relação de preços entre as diferentes empresas, tendo como produto mais caro no mercado o Shake Herbalife, foco desse trabalho.

Discussão

Como apresentado anteriormente, para que uma dieta surta efeito é essencial que essa tenha um corte calórico, independente do macronutriente reduzido. No entanto, uma análise da figura I indica que há uma diferença significativa, dentre os principais shakes no mercado, na composição relativa dos macronutrientes reduzidos.

Tal efeito já foi apresentado como um fator de risco a saúde, uma vez que um teor muito baixo de gordura, por exemplo, pode não suprir as necessidades do organismo em repor suas membranas biológicas e/ou produzir mensageiros secundários lipofílicos. Em paralelo, teores baixos de proteínas podem levar uma redução da massa magra, ou seja, da massa muscular do indivíduo. No entanto, as consequências podem não ser observadas a curto prazo, uma vez que mecanismos regulatórios do metabolismo são capazes de interconverter alguns nutrientes.

Contudo, respeitando-se valores mínimos necessários de gordura, proteínas e/ou carboidratos, foi comprovado que mesmo que a relação de gordura seja elevada em relação aos outros macronutrientes, os níveis de colesterol (LDL) são reduzidos. O mesmo não é válido para dietas ricas em carboidratos, que não leva uma redução nos níveis séricos de insulina, diferente de outras composições de dietas.

Essa ineficiência na redução dos níveis sérios de insulina pode ser um fator limitante para o uso dos shakes por indivíduos que apresentem hiperglicemia (ou que sejam grupo de risco para diabetes), uma vez que praticamente todos os Shakes (exceto Herbalife) contêm valores elevados de carboidrato em sua composição, possivelmente na tentativa de mascarar o sabor ruim que estes possuem.

A tabela I, abaixo, foi construída a partir dos rótulos das principais marcas no mercado e algumas incongruências com a legislação foram observadas.

A legislação preconiza que o valor energético obtido de proteínas em Shakes seja de no mínimo 25% e no máximo de 50% e que gordura tenha no máximo 30%, sendo no mínimo 3% de lipídios derivados do ácido linoléico. Não há dados especificando a quantidade energética derivada de carboidratos.

As marcas Diet Way, Bio Slim e Diet Shake apresentam valores energéticos derivados de proteínas muito abaixo do valor mínimo estipulado de 25%. A marca Bio Slim ainda apresenta percentagem de energia derivada de gordura de 1,85%, que é inferior ao valor mínimo exigido de lipídios derivados do ácido linoléico (não declarado no rótulo). E embora a marca Diet Shake apresente um valor um pouco superior a 3%, como não é declarado a origem da gordura, não se pode inferir se está em acordo ou desacordo com a legislação.

Para a marca Herbalife não foi encontrado no rótulo a frase negrito “Consumir somente sob supervisão de médico e/ou de nutricionista.”. Constava apenas a frase “Este produto não deve ser usado na gestação, amamentação e por lactentes, crianças, adolescentes e idosos, exceto sob indicação de médico ou nutricionista.”, o que pode gerar a idéia errada que apenas essa parcela da população deve ter acompanhamento de um médico ou nutricionista.

A análise realizada da legislação mostrou que a maioria dos Shakes presentes no mercado não estava de acordo a RDC 30/98, responsável pela regulação desses produtos, o que indica uma fiscalização ineficiente desse tipo de produto.

Ao analisar a tabela II, referente ao preço por 100 g dos Shakes analisados, observamos o seguinte perfil:

Shake Herbalife custa, em média, três vezes mais que os outros Shakes analisados, uma vez, que como citado acima, o fator determinante para a redução de peso é a redução calórica, e todos os Shakes analisados, com exceção do Bio Slim, apresentam valores calóricos em torno de 332 Kcal, logo o fator determinante para o preço não é a efetividade do produto, mas toda uma imagem de saúde associada.

Conclusão:

Devido à variedade de composição entre os Shakes analisados, é possível observar uma ineficiência regulatória da RDC 30/98, visto que, a legislação permite uma variação significativa na proporção dos nutrientes e não estabelece uma faixa de valores para carboidratos. Em consequência disso, as empresas tem a liberdade de adaptar o seu produto em prol de maior competitividade no mercado, como, por exemplo, valores excessivos de carboidratos em detrimento das outras fontes calóricas, o que melhora seu sabor mantendo a quantidade reduzida de calorias.

O Shake Herbalife apresenta o maior preço do mercado, mas também é o que melhor se enquadra na legislação, o que corrobora a ideologia da empresa de não vender apenas produtos, mas sim um estilo de vida saudável.

Referências:

AZEVEDO, B.A.R.; RIBEIRO, S.M.L. Avaliação do estado nutricional e do balanço energético de um grupo de atletas de ginástica artística Motriz, Rio Claro, v.13 n.3 p.165-173, jul./set. 2007.

Brasil, Portaria nº 30, de 13 de janeiro de 1998. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/30_98.htm Acesso em: 05/06/11.

Codex Alimentarius: Formula Foods for Use in Weight Control Diets, CODEX STAN 181, 1991, item 3.2.3.1.

Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida der doenças e agravos não transmissíveis. http://www.inca.gov.br/inquerito/docs/sobrepesoobesidade.pdf Acesso em: 05/06/11.

Obesidade e redução do peso corporal. Moulim,C. et al. Disponível em: http://www.amway.com.br/downloads/misc/Obesidade_IMEN.pdf Acesso em: 05/06/11.

Revista Herbalife, Catálogo de Produtos, ed 3, 2010

SACKS, F.M et al., Comparison of weight-loss diets with different compositions of fat, protein, and carbohydrates The New England Journal of Medicine, v.360 n.9 p.859-873, feb 26,2009.