Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Óleo de coco emagrece: verdade ou mito?


Óleo ou gordura de coco é o óleo comestível obtido do fruto de Cocos nucifera (coco) através de processos tecnológicos adequados. Seu uso vem sendo associado ao tratamento da obesidade, o que fez com que esse produto fosse encarado como um milagroso emagrecedor.



O óleo de coco possui uma rica composição de ácidos graxos saturados (Tabela 1.). Esse ácidos graxos, diferentemente daqueles encontrados na maioria dos óleos, apresentam cadeias médias sendo conhecidos como AGCM (ácidos graxos de cadeia média)­.


Os AGCM presentes no óleo de coco fazem com que este possua um comportamento metabólico distinto dos demais. Estas estruturas são rapidamente absorvidas no intestino, pois não passam pela ação da enzima lipase pancreática como ocorre com os ácidos graxos de cadeia longa (AGCL). Os AGCM são transportados diretamente para o fígado pela veia porta. Já os AGCL após ação da lipase pancreática são lançados na circulação sistêmica e só então transportados para a fígado na forma de lipoproteínas denominadas quilomícrons.

No fígado os AGCM são rapidamente oxidados gerando energia, sem participar da via de produção de colesterol e sem serem estocados como depósito de gorduras, como ocorre com os AGCL.

Sendo assim, a teoria que os AGCM  são facilmente oxidados a lipídeos para a obtenção de energia e a sua não deposição no tecido adiposo fazem que o óleo de coco seja utilizado para o tratamento da obesidade. Fato este que fez com que os demais consumidores encarassem este produto como um excelente aliado para a perda e peso.  Contudo, ainda não existe um embasamento cientifico que realmente correlacione a perda de peso com a utilização do óleo.

Um estudo conduzido por pesquisadores de Alagoas analisou 40 mulheres na faixa de 20 a 40 anos, que forem divididas randomicamente em dois grupos: um­­ que recebeu óleo de coco e outro que recebeu óleo de soja por 12 semanas de forma duplo-cega. Ambos os grupos receberam orientação dietética com nutricionista ,com dieta hipocalórica, com orientação para a prática de atividade física.

O grupo tratado com a suplementação de óleo de coco não apresentou alteração do perfil lipídico e nenhum dos dois grupos apresentou perda de peso. Contudo, pode-se observar que houve redução da circunferência abdominal no grupo suplementado com óleo de coco em relação ao óleo de soja (-1,4 cm versus 0,6 cm). O estudo também revelou que a suplementação com o óleo de coco teve uma tendência a elevar os níveis de insulina circulante. [4]

Os pesquisadores deste trabalho concluíram que estudos mais prolongados são necessários para o entendimento das ações do óleo de coco. [4]

Apesar das diversas teorias positivas sobre o óleo de coco, ainda são escassos e controversos os estudos que o associem ao emagrecimento e ao perfil lipídico. A gordura saturada do óleo de coco, mesmo que com melhor composição que outras fontes de gordura saturada, deve ter seu consumo equilibrado e não ser utilizado comente para a finalidade de emagrecimento.

Não foi inventado ou descoberto nada até hoje, que seja imediato, para a saúde do corpo e que substitua a combinação da boa e velha reeducação alimentar e a prática de exercícios físicos.

(Layz Carneiro e Adair Pacheco)


Referências Bibliográficas:

[1] ANVISA. Resolução RDC nº 482, de 23 de setembro de 1999. Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Óleos e Gorduras Vegetais. D.O.U. - Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 13 de outubro de 
1999.  Disponível em:  http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a2190900474588939242d63fbc4c6735/ RDC_482_1999.pdf?MOD=AJPERES

[2] VEJA. Óleo de cooc para emagrecer não passa de uma bobagem. Disponível em:  
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/oleo-de-coco-para-emagrecer-nao-passa-de-uma-bobagem

[3] Liau KM, Lee YY, Chen CK, Rasool AHG. An open-label pilot study to assess the efficacy and safety of virgin coconut oil in reducing visceral adiposity. ISRN Pharmacology. 2011;2011:949686, 1-7.

[4] Assunção ML, Ferreira HS, Santos EAF, Cabral Jr R, Florêncio MMT. Effects of dietary coconut oil on the biochemical and anthropometric profiles of women presenting abdominal obesity. Lipids. 2009; 44:593–601





Um comentário:

  1. O óleo de coco tem sido utilizado no tratamento da obesidade em virtude do seu alto teor de ácidos graxos de cadeia média, uma vez que os mesmos são facilmente oxidados sem se depositar no tecido adiposo, sendo assim considerado um potencial redutor da gordura corporal. Estudos envolvendo as populações africanas e do Pacífico Sul, cujas dietas contém grandes quantidades de óleo de coco demonstraram que não existe relação entre a ingestão desse óleo e a ocorrência de dislipidemia e obesidade. A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) posicionou-se sobre a não comprovação da eficácia do óleo de coco, enfatizando que há poucos estudos sobre seu uso frente ao peso corporal, sendo alguns resultados controversos. A ABRAN completa que quando o óleo de coco é comparado a óleos vegetais menos ricos em ácido graxo saturado, ele aumenta o colesterol total, em especial o LDL, o que contribui para um maior risco cardiovascular. Cabe aos profissionais de saúde informar e alertar a população sobre o uso do óleo de coco. Por isso, as considerações finais feitas na postagem do blog sobre o consumo equilibrado são de extrema importância.

    Referências:
    - ABRAN, Associação Brasileira de Nutrologia. Posicionamento oficial da Associação Brasileira de Nutrologia a respeito da prescrição de óleo de coco. São Paulo, 2017.
    - BEM, Riana Augusta Dauber Bevilaqua de. Óleo de Coco: Uma revisão sistemática. 2015.

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