Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A cevada muito além do uso na indústria cervejeira



A cevada, Hordeum vulgare, vem sendo cultivada no Brasil apenas para uso cervejeiro desde 1930 através da transformação deste grão em malte. Porém, existem diversos estudos mostrando uma vasta gama de benefícios decorrentes da inclusão deste cereal na alimentação. A cevada tem potencial de ajudar na prevenção de câncer, principalmente de cólon, além de ter componentes utilizados na formação de ossos e na liberação de energia. Além disso, existem indícios de diminuição da formação de cálculos biliares e de aumento da sensibilidade à insulina.

Será então que não seria interessante desenvolvermos mais o uso deste cereal como fonte alimentar no Brasil ao invés de utilizarmos toda a produção nacional para a fabricação de cervejas?!

Cevada é o mais antigo dos cereais hoje em cultivo e apresenta grande capacidade de adaptação, pois consegue germinar até mesmo no polo ártico. Atualmente é o quarto cereal em ordem de importância, com produção da ordem de 150 milhões de toneladas por ano, representando 10% do total de grãos produzidos mundialmente. Cerca de 75% da produção é destinada a alimentação animal e humana, sendo o restante transformado em malte ou conservado como semente. No Brasil, a cevada vem sendo cultivada apenas para uso cervejeiro desde 1930. Porém, o cultivo para alimentação humana está despertando interesse já que a cevada passou a ser considerada um alimento funcional. A cevada é um cereal rico em carboidratos, fibras, vitaminas do complexo B, selênio e magnésio. Em 100g de grãos de cevada, encontra-se cerca de 73g de carboidratos, 12 g de proteínas, 37,7 mg de selênio e 1,94 mg de magnésio. Este cereal pode ser consumido na forma de grãos, farinha ou chá.

A ingestão de cereais como cevada é importante para o bom funcionamento do intestino, aumenta o bolo fecal e facilita o trânsito intestinal devido a grande quantidade de fibras. Esta maior facilidade no processo de digestão ajuda a prevenir o câncer de cólon. A presença dos minerais magnésio e selênio torna a cevada um alimento importante para o sistema imunológico. Além disso, o magnésio é um mineral utilizado na formação dos ossos e na liberação de energia dos músculos, e o selênio é um antioxidante que ajuda a proteger as células. Há também relatos de benefícios da cevada para o tratamento de doenças pulmonares, desmineralizações, diarréias, infecções dos intestinos e em estados febris, além de ser ótima fonte de energia para pessoas em convalescença, idosos e vegetarianos. As Diretrizes Dietéticas dos EUA recomendam a ingestão de três porções diárias de cereais ricos em fibras, e que metade delas seja cereais integrais.

Os resultados de um estudo prospectivo com 51.823 mulheres na pós-menopausa demonstraram uma redução de 34% no risco de câncer de mama nas que consumiram maior quantidade de fibra comparativamente àquelas que consumiram uma quantidade mínima. Sendo assim, a cevada também pode ser utilizada para prevenção deste tipo de câncer, por ser um alimento que apresenta grande concentração de fibras. Além disso, no subgrupo de mulheres que já tinham feito tratamentos de compensação hormonal, aquelas que consumiram mais fibra, especialmente fibra de cereal, demonstraram uma redução de 50% do risco de câncer de mama em comparação com as que consumiram o mínimo de fibras.

Em estudos sobre a ingestão global de fibras e sobre os tipos de fibras consumidos durante um período de 16 anos por mais de 69 mil mulheres, os pesquisadores descobriram que aquelas que consumiram mais fibras (solúveis e insolúveis) tinham 13% menor risco de desenvolver cálculos biliares, em comparação com as mulheres que consumiram alimentos com um teor de fibras mínimo. As mulheres que ingeriram mais alimentos ricos em fibras insolúveis, como a cevada, ganharam ainda mais protecção contra os cálculos biliares: um risco 17% menor em comparação com aquelas que consumiram quantidades mínimas. Adicionalmente, a protecção era proporcional à quantidade; um aumento de 5 gramas no consumo de fibras insolúveis provocou um decréscimo de 10% na ocorrência de cálculos biliares. Os pesquisadores responsáveis por esse estudo acreditam que a fibra insolúvel não só acelera a duração do trânsito intestinal, como também reduz a secreção de ácidos biliares, aumenta a sensibilidade à insulina e reduz os níveis de triglicérides.

É importante lembrar que a cevada possui o glúten em sua composição e, sendo assim, não deve ser consumido por portadores da doença celíaca.

Desta forma, este é um cereal com potenciais benefícios à saúde que deveria ter seu uso como grão mais desenvolvido no país. Parte da produção nacional de cevada deveria ser destinada ao consumo na forma de cereal, ao invés da transformação em malte para posterior produção de cerveja, como é feito em diversos outros países nos quais a maior parte da produção tem esta finalidade.

Um comentário:

  1. Quem não pensa em cerveja ao ouvir falar em cevada?! Esse trabalho despertou o interesse sobre o uso da cevada além da cervejaria.
    Um estudo realizado na Universidade Federal de Santa Maria (Bortolotti, C.M.) cita sobre os efeitos benéficos das beta-glucanas presentes na porção solúvel da fibra alimentar de cevada, tais como implicações com o colesterol sérico e redução da glicose sanguínea, além de propriedades anticarcinogênicas. Cita ainda que, apesar de não ser comumente utilizada nos produtos de panificação, a adição de farinha de cevada no pão de forma não prejudica a composição de nutrientes e resulta em um aumento favorável nos teores de fibras e da capacidade de absorção de água - sendo que na medida em que se aumenta os níveis de substituição de trigo por cevada (após 30% de substituição), observa-se um aumento na firmeza e diminuição do volume dos pães.
    Logo, há a possibilidade de produção e comercialização de pães já contendo essa farinha de cevada.
    Ainda sobre as diretrizes dietéticas dos EUA, no que diz respeito a ingestão diária de três ou mais alimentos contendo farinha integral, vale ressaltar que, de acordo com o Food and Drug Administration (FDA, 2006), cereal integral consiste em um grão íntegro cujos componentes anatômicos principais (endosperma, germe e casca) estão presentes nas mesmas proporções que no grão intacto. A farinha de cevada é um alimento classificado como integral pela USDA’s Pyramid Servings Database.
    Portanto, por que não adicionar cevada como forma de cereal alimentação diária (e não apenas naquele copinho de chopp gelado)?

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