Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 16 de junho de 2018

Vinho tinto e o seu papel na prevenção de doenças cardiovasculares


O vinho tinto quando consumido em quantidades moderadas apresenta comprovadamente benefícios para o sistema cardiovascular, principalmente no que diz respeito a doenças como a aterosclerose, além de outros benefícios à saúde, principalmente de caráter preventivo. Graças a presença de compostos fenólicos em sua composição, esta tem se mostrado uma estratégia prazerosa e eficaz na redução de doenças. Mas será que o consumo de vinho tinto pode ser, de fato, um aliado no combate às doenças cardiovasculares?


Apresentação: O vinho tinto tem sido considerado, há alguns anos, um grande aliado com potente redução dos riscos de doenças cardíacas. Porém, qual seria o embasamento científico para esta atividade? Esta se deve, na verdade, a um componente encontrado nas uvas (principal ingrediente para a fabricação dos vinhos), o resveratrol. O mesmo mostrou até então um caráter preventivo principalmente no que diz respeito a aterosclerose, formação de placas de ateroma nos vasos sanguíneos, que impedem a passagem de sangue. Graças a presença desse e de outros compostos fenólicos em sua composição, o consumo de vinho tem se mostrado uma estratégia prazerosa e eficaz na redução de doenças. Alguns estudos demonstraram o real benefício deste composto para o nosso organismo.

Descrição do produto: De acordo com a Revista Adega, os vinhos tem a sua base de composição metade nos elementos constituintes da uva e outra metade na fermentação alcoólica do seu sumo. Detalhando mais estes componentes, encontramos: álcool: (9 a 15% - álcool etílico e glicerol; ácidos orgânicos (málico e cítrico, presentes na uva) e succínico, lático e acético (produzidos na fermentação); sais (fosfato, sulfatos, cloretos, tartaratos, malatos e lactatos); compostos fenólicos: conferem coloração e parte do sabor, além das propriedades terapêuticas; ésteres, aldeídos e cetonas.

Fundamentos bromatológicos: Como mencionado, acredita-se que o principal componente do vinho responsável por sua atividade preventiva de doenças cardiovasculares é o resveratrol. Ele é um composto fenólico, do tipo estilbeno, da classe dos polifenóis não flavonoides encontrados na uva e seus derivados, produzido naturalmente pela pele das uvas em resposta à infecção por fungos, incluindo a exposição às leveduras durante a fermentação. Trata-se de um composto fenólico, encontrado na uva e seus derivados e tem demonstrado eficácia na prevenção de doenças cardíacas graças a sua capacidade em diminuir os níveis de lipídeos no soro sanguíneo e agregação plaquetária, aumentar o colesterol HDL, diminuir o LDL-c e prevenir a obstrução das artérias.

Legislação: Os vinhos e derivados da uva e do vinho são regidos pela lei nº 7.678, de 08 de novembro de 1988 regulamentada pelo Decreto n° 8.198, de 20 de fevereiro de 2014. Além disso, também dispõe de legislações para o controle da utilização de aditivos alimentares e coadjuvantes para vinhos, como por exemplo a RDC Nº 123, publicada em 2016. 
De acordo com a Portaria nº 229, de 25 de outubro de 1988, do Ministério da Agricultura, os vinhos devem ser compostos por uvas frescas, sãs e maduras e estabelece os limites máximo e mínimo para alguns componentes do vinho, o que vai garantir a preservação de suas características. A quantidade de polifenóis não é mencionada nestas legislações, bem como a presença de descrição destes e de outros ingredientes no rótulo. 
Apesar disso, de acordo com Dos Santos Lima e colaboradores (2014), os vinhos brasileiros possuem em sua composição elevados níveis de resveratrol, assim como os sucos de uva. A produção destas bebidas na região nordeste do Brasil tem sido beneficiada nutricionalmente pelos aspectos climáticos da região, com altas concentrações de resveratrol. 

Discussão: Apesar de todos os benefícios demonstrados pelo consumo de vinho, deve-se chamar a atenção também para os efeitos maléficos do consumo excessivo de álcool. Caminhando ainda nesta dualidade, alguns estudos demonstram que fazendo um uso moderado desta estratégia que para alguns soa muito saborosa, é possível obter resultados positivos na prevenção de doenças cardiovasculares, através de diferentes mecanismos, como: efeito antiinflamatório, cardioprotetor e antioxidante. De acordo com a revisão publicada pela Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, estes três mecanismos podem ser explicados da seguinte forma: 
  • Capacidade de inibir a atividade da esfingosina quinase, e regulação negativa da expressão de interleucina-1 (IL-1) e fator de necrose tumoral α (TNF- α), reduzindo desta forma a resposta inflamatória; 
  • O efeito cardioprotetor do resveratrol vai desde a inibição da agregação plaquetária, a prevenção da oxidação de LDLc, o vasorelaxamento e vasodilatação, proteção do endotélio vascular contra disfunções e danos oriundos de dietas inadequadas, até a redução da obesidade;
  • Existem moléculas capazes de neutralizar espécies reativas de oxigênio, responsáveis pelo estresse oxidativo que pode originar danos a moléculas como o DNA, gerando problemas de saúde. Dentre as substâncias neutralizantes, podemos destacar o resveratrol.
Porém, um limitante muito importante para estes estudos é o fato que a maior parte deles foi conduzida com resveratrol em cápsulas ou tabletes, o que deixa uma dúvida em relação a extrapolação destes resultados para o consumo de vinho. 

Apesar de não existirem estudos muito robustos sobre as apresentações do resveratrol e suas diferenças e semelhanças, os resultados apresentados até então são capazes de embasar a opinião de especialistas que continuam recomendando fortemente a ingestão de vinho e suco de uva, como uma possibilidade de diminuição de várias doenças, dentre elas as cardíacas. 

Conclusão: Embora os estudos da literatura apresentem um efeito positivo e benéfico do resveratrol na saúde, seus dados são ainda muito limitados no sentido de não fazerem uma correlação direta com as quantidades de resveratrol encontradas nos vinhos. A realização de mais pesquisas se faz necessária visando verificar a possibilidade de extrapolar estes dados já obtidos para o consumo de vinho. 
Além disso, vale o destaque também para uma oportunidade das empresas produtoras de explorar essa informação. Tendo conhecimento das propriedades deste composto, um controle de qualidade capaz de dosá-lo e informar em seu rótulo a quantidade, seria uma excelente estratégia de marketing e possibilidade de aumento do lucro, além de contribuir para o conhecimento do próprio consumidor. 


Referências: 
  • Chang, G.R.; Chen, P.L.; Hou, P.H.; Mao, F.C. Resveratrol protects against diet-induced atherosclerosis by reducing low-density lipoprotein cholesterol and inhibiting inflammation in apolipoprotein E-deficient mice. Iranian journal of basic medical sciences. Vol. 18. Num. 11. p. 1063. 2015. 
  • Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 229, de 25 de outubro de 1988. Esta norma tem por objetivo complementar os padrões de Identidade e Qualidade do vinho.. 1988. 
  • Dos Santos Lima, M.; Silani, I.D.S.V.; Toaldo, I.M.; Corrêa, L.C.; Biasoto, A.C.T.; Pereira, G.E.; Bordignon-Luiz, M.T.; Ninow, J.L. Phenolic compounds, organic acids and antioxidant activity of grape juices produced from new Brazilian varieties planted in the Northeast Region of Brazil. Food chemistry. Vol. 161. p. 94-103. 2014. 
  • Pereira Júnior, E.S.; Medeiros, N.S.; Dani, C.; Funchal, C. Suco de uva: fonte de compostos bioativos com benefício à saúde. Nutrição Brasil. Vol. 12. Num. 3. 2013. 
  • Ruivo, J.; Francisco, C.; Oliveira, R.; Figueiras, A. The main potentialities of resveratrol for drug delivery systems. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences. Vol. 51. Num. 3. p. 499-513. 2015. 
  • Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. Suplementar 1. v.11. n.67. p.620-629. Jan./Dez. 2017. ISSN 1981-9919 
  • Revista da Adega.<http://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-componentes-do-vinho-parte-1_5934.html> . Acessado em jun/2018. 
  • Blog do Coração - SOCESP<http://www.socesp.org.br/blogdocoracao/2011/06/01/o-vinho-e-bom-para-a-saude/>. Acessado: jun/2018.

3 comentários:

  1. Trabalhos científicos têm relacionado o consumo de
    vinho com benefícios à saúde. Os maiores responsáveis pelos efeitos benéficos do vinho são os polifenóis, por possuírem potente efeito antioxidante e ação antibiótica. Entre os polifenóis do vinho mais estudados quanto à ação benéfica à saúde humana, destaca-se o resveratrol, que possui ação protetora em relação às doenças cardiovasculares. Entretanto, é fundamental ressaltar que esses benefícios só ocorrem quando o vinho é bebido com moderação, durante as refeições, regularmente e por pessoas que não tenham contra-indicação ao consumo de bebidas alcoólicas. O consumo de vinho está relacionado com benefícios sobre o coração e circulação, digestão, osteoporose, obesidade, entre outros. De acordo com pesquisas, parece que o consumo de uma ou duas taças de vinho por dia, levando em conta uma boa absorção dos princípios ativos, seria bastante adequado.
    Referências bibliográficas:
    ANDRADE, A. C. M.. Ação do vinho tinto sobre o sistema nervoso
    simpático e função endotelial em pacientes hipertensos e hipercolesterolêmicos.
    114 p. Tese (Doutorado Ciências Área de Concentração:
    Cardiologia) - Faculdade de Medicina de São Paulo (USP), 2006.
    COMACHIO, G.; TOLEDO, L. R. O vinho tinto como alimento funcional:
    uma revisão da literatura sobre a quantidade recomendada.
    GIEHL, M. R. et al. Eficácia dos flavonóides da uva, vinho tinto e
    suco de uva tinto na prevenção e no tratamento secundário da aterosclerose.
    Scientia Medica, Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 145-155

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  2. Um artigo de revisão mostrou resultados favoráveis em relação aos flavonóides do vinho tinto, onde exerceram uma forte ação antioxidante em humanos e animais, reduzindo a oxidação do colesterol LDL, diminuindo a pressão arterial e conseqüentemente a vasoconstrição arterial, além de melhorar a função endotelial; e que o consumo desta bebida mostrou uma associação inversa com o risco de doença cardiovascular. O suco de uva mostrou ser mais rico em flavonoides que o vinho tinto, aumentando significativamente os flavonóides no plasma. Entretanto, houve controvérsias sobre seu efeito antioxidante em humanos e animais, pois se mostrou eficaz em alguns estudos, inibindo a oxidação do colesterol LDL e diminuindo o desenvolvimento da placa lipídica, porém em outros estudos não reduziu a oxidação do colesterol LDL, embora tenham ocorrido modificações favoráveis em outros fatores que participam do desenvolvimento da lesão aterosclerótica, como diminuição da agregação plaquetária, melhora da função endotelial, vasodilatação, redução do colesterol total, redução de citocinas inflamatórias e redução da pressão arterial. O estudo diz também que é fundamental que sejam realizados estudos longitudinais com o suco de uva, para que se possa chegar a um resultado mais esclarecedor em relação ao seu benefício como antioxidante.
    Referência bibliográfica:
    GIEHL, MARA RÚBIA et al. Eficácia dos flavonóides da uva, vinho tinto e suco de uva tinto na prevenção e no tratamento secundário da aterosclerose. Scientia Medica , Porto Alegre, v. 17, n. 03, p. 145-155, set. 2007.

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  3. m relação ao consumo de álcool e doença cardiovascular, pesquisas científicas mostram que esta substância pode trazer tanto prejuízos como benefícios. De um lado, o consumo excessivo está fortemente associado a malefícios para a saúde como um todo; de outro, evidências epidemiológicas apontam uma associação inversa entre uso moderado* e risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Vale ressaltar que parte das informações mencionou os benefícios do consumo de vinho e de seus componentes em sua composição, em especial os polifenóis (Resveratrol), que são substâncias naturais com potentes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Um artigo demonstrou quais mecanismos pelos quais o álcool e/ou polifenóis poderiam exercer efeitos cardioprotetores: diminuição do estresse oxidativo, diminuição da inflamação e da aterosclerose, melhora no perfil lipídico (aumento dos níveis de HDL), melhora da função endotelial e pressão arterial, e atuação no sistema fibrinolítico e trombose.

    Referência Bibliográfica:
    Estruch R, Ros E, Salas-Salvadó J et al. Primary prevention of cardiovascular disease with a Mediterranean diet. N Engl J Med. 2013, 4;368(14):1279-90.

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