Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Óleo de Groselha Negra: O que é isso de AGL presente?


Figura 1. Produto: Óleo de Groselha Negra da marca Fortvitta 

Nas drogarias, nos deparamos com a venda do óleo de groselha negra, anunciado como fonte natural de Ácido Gama-Linolênico. Esse AGL, um precursor das prostaglandinas, é afirmado como um potente mediador anti-inflamatório, o problema é que 


 a maioria das pessoas não têm ideia de seus benefícios. O Ácido Gama-linolênico é comumente conhecido como ômega 6, ácido graxo poli-insaturado, que segundo Laszlo (2013), é um princípio ativo que possui inigualáveis propriedades terapêuticas que têm se mostrado eficientes em desordens da pele (dermatites, eczemas, ressecamento, descamação, vermelhidão, pruridos, queimaduras, psoríases), problemas hormonais femininos (TPM, cólicas, dores nos seios), hiperplasia da próstata, calvície androgenética, desordens do diabetes, colesterol e triglicérides elevados, além de ser um potente antiinflamatório natural benéfico nas doenças reumáticas e artrites.


Fundamentos Bromatológicos
O óleo de groselha negra contém uma quantidade bastante significativa de ácido gama linolênico, que é o principal ácido graxo desse óleo, além de vitaminas, minerais e fitonutrientes. Ele contém cerca de 15-20 g de ômega 6, nutriente com grande importância anti-inflamatória, refletindo em maiores benefícios para a saúde.
Este óleo também contém uma quantidade significativa de tocoferóis (vitamina C), atuando, portanto, como um agente antioxidante, onde evita que as fibras de colágeno e elastina sejam degradadas pelos radicais livres.
Segundo estudos de Zlatanov (1999), esse óleo também é composto de esteróis vegetais conhecidos como fitoteróis, no qual já oferecem benefício à saúde em pequenas quantidades. Foram encontrados o campesterol, anti-inflamatório que auxilia na redução da degeneração da cartilagem na artrite; estigmasterol, anti-cancerígeno que também ajuda na redução da glicose, bem como exerce efeito sobre o hormônio da tireóide; e o β-sitosterol, que é importante para reduzir os níveis de colesterol no sangue. Além disso, esse mesmo estudo, cita a presença também de quantidades significativas de antocianinas e flavonoides, que são importantes em diversas funções do organismo.
Abaixo, segue as informações nutricionais das cápsulas de óleo de groselha negra, fornecidas pelo fabricante Fortvitta:
Figura 2. Informações Nutricionais do Óleo de Groselha Negra 


Legislação
Segundo a ANVISA, o óleo de groselha negra em cápsulas se enquadra na categoria de novos alimentos e novos ingredientes sob registro nº 669690022. Por definição na Resolução nº 16 de 1999, alimentos e ou novos ingredientes são os alimentos ou substâncias sem histórico de consumo no País, ou alimentos com substâncias já consumidas, e que, entretanto, venham a ser adicionadas ou utilizadas em níveis muito superiores aos atualmente observados nos alimentos utilizados na dieta regular. Ainda assim, a ANVISA coloca como novos alimentos e novos ingredientes, aqueles alimentos que se enquadram em alimentos em forma de apresentação não convencional na área de alimentos, tais como cápsulas, comprimidos, tabletes e similares.
Nesta mesma resolução, que estabelece o regulamento técnico referente a procedimentos para registro de alimentos e ou novos ingredientes, o item nº 4.2. declara que alimentos que vierem a ser comercializados em forma de cápsulas, comprimidos ou outras fórmulas farmacêuticas, e que não apresentem alegação de propriedade funcional ou de saúde cientificamente comprovada, deverão trazer no rótulo a seguinte informação: “O Ministério da Saúde adverte: Não existem evidências científicas comprovadas de que este alimento previna, trate ou cure doenças”. De fato, o presente produto da marca Fortvitta apresenta esta informação em seu rótulo, como pode ser visto na figura 2.

Discussão
Segundo a empresa Fortvitta, o diferencial do seu produto é a possibilidade de regular a pressão arterial e o metabolismo do colesterol, além de auxiliar na firmeza da pele, fortalecimento e hidratação dos cabelos, bem como combater celulite. Na descrição de seu produto, a empresa também declara que é fonte de vitaminas e minerais que atuam no sistema nervoso melhorando os sintomas de depressão e dando disposição para a prática de atividades físicas.
Diante disso, apesar do óleo de groselha apresentar diversos benefícios e haver vários estudos que o relaciona a alguns efeitos terapêuticos, sejam eles auxiliares em condições imunes, pré-menstruais, disfunções capilares e ainda cardioprotetores, o mesmo ainda não é considerado um alimento funcional, segundo o órgão fiscalizador. Sendo assim, como esse produto ainda é considerado um produto novo, e no rótulo ainda conste que não existem evidências científicas comprovadas quanto ao se efeito preventivo ou curativo, o mesmo deve ser usado sob moderação, seguindo a recomendação de uso contido no rótulo ou indicado por um profissional competente. Ainda mais que não se tem dados que comprove a segurança e eficácia do produto, então não se tem certeza quanto aos efeitos adversos que podem aparecer relacionados ao produto em si, apenas os estimados envolvendo seus componentes.

Conclusão
A presença do ácido gama-linolênico nas cápsulas de óleo de groselha negra traz diversos benefícios para a saúde, porém, o consumidor deve estar ciente de que não se trata de um alimento registrado como funcional. Então, o mesmo, deve procurar orientação profissional para ter um melhor aproveitamento dos efeitos terapêuticos que esse produto pode oferecer.

Referências:
1. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Novos alimentos e novos ingredientes. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/novosalimentos> Acesso em: 28 mai. 2018.
2. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº 16 de 30 de abril de 1999. Disponível em:<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/RESOLUCAO_16_1999.pdf/66b77435-cde3-43ce-839f-f468f480e5e5> Acesso em: 28 mai. 2018.
3. LASZLO, F. Óleo de Groselha Negra – Ribes Nigrum – Fonte natural de AGL. Disponível em: <http://laszlo.ind.br/campanhas/OLEO_GROSELHA_NEGRA_LASZLO.pdf> Acesso em: 28 mai. 2018.
4. MATTOS, K. A. C. e FERNANDES, P. M. Alimentos com alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde: legislação e número de registro no brasil. Disponível em: <http://www.cpgls.pucgoias.edu.br/7mostra/Artigos/SAUDE%20E%20BIOLOGICAS/ALIMENTOS%20COM%20ALEGA%C3%87%C3%83O%20DE%20PROPRIEDADES%20FUNCIONAIS.pdf> Acesso em: 28 mai. 2018.
5. OILHEALTHBENEFITS. Disponível em: < https://oilhealthbenefits.com/black-currant-seed-oil/> Acesso em 4 jun. 2018.
6. ZLATANOV, M. D. Lipid composition of Bulgarian chokeberry, black currant and rose hip seed oils. Journal of the Science of Food and Agriculture. Bulgária, v. 79, p. 1620-1624, Apr. 1999. 

3 comentários:

  1. Quando falamos em malefícios do ômega 6, nos referimos aos problemas que podem surgir quando ele é consumido em quantidades muito maiores que o ômega 3, já que o equilíbrio entre esses dois ácidos graxos é a chave para aproveitar os benefícios de ambos.
    Alguns especialistas acreditam que a razão ideal entre o consumo de ômega 3 e ômega 6 é de 1:3, ou seja, deve-se ingeri-lo no máximo três vezes mais que o ômega 3. A Organização Mundial de Saúde estabelece uma proporção ideal de 1:5 até 1:10. Ultrapassar esses limites pode predispor à inflamação crônica.
    A melhor maneira de equilibrar essa relação é evitar o consumo de fontes ruins de ômega 6, como frituras e alimentos processados, ao mesmo tempo aumentando a ingestão de ômega 3, através da alimentação ou uso de suplementos (somente sob prescrição médica).

    ResponderExcluir
  2. Isabela Bezerra de Lima19 de setembro de 2020 às 18:29

    A 5-alfa redutase é uma enzima que catalisa a formação de dihidrotestosterona (DTH) a partir do hormônio sexual masculino testosterona em certos tecidos como a glândula prostática, pele, folículos pilosos, fígado e cérebro. O DHT em níveis elevados é associado à calvice masculina, câncer de próstada, acne inflamatória, depressão e outros efeitos indesejáveis. Segundo Lazlo, foi demostrado que o AGL (ácido gama-linolênico) é um potente inibidor desta enzima, assim sendo, um benefício em potencial atrelado ao principal componente do óleo de Groselha Negra. Todavia, devem ser feitos mais estudos sobre esse efeito, uma vez que, não existem muitos dados na literatura que defendem essa aplicabilidade deste óleo.
    Referencia:
    LASZLO, F. Óleo de Groselha Negra – Ribes Nigrum – Fonte natural de AGL. Disponível em: Acesso em: 19 set. 2019.

    ResponderExcluir
  3. O ácido gama-linolênico (AGL), como citado no testo, é um precursor das prostaglandinas, tendo também, por si só, efeitos antinflamatórios e antioxidantes.
    Sua via inclui diminuição de importantes fatores pró-inflamatórios, como as interleucinas 1B e 6.
    Por ser um precursor araquidônico, também tem ação central, como por exemplo, no combate a esclerose múltipla (1), a artrite reumatóide (2) e neuropatias periféricas (3)

    Referências:
    (1) -https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780128052983000244
    (2) -https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780702055140000798
    (3) -
    https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B978032335868200013X

    ResponderExcluir