Conforme o Conselho Federal de Nutricionistas, por praticamente não conter calorias, os adoçantes artificiais podem ser utilizados ao longo de um período de restrição calórica com finalidade de perda de peso. Contudo, para o indivíduo que deseja perder peso e que não possui nenhuma patologia, como diabetes, é preferível optar pelas versões naturais de adoçantes, como o estévia (CFN, 2016).
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, os adoçantes dietéticos são aqueles caracterizados como produtos elaborados para serem usados em dietas com restrição de sacarose, frutose ou glicose. Logo, esses carboidratos não podem ser usados em sua fabricação. A principais substâncias presentes nos adoçantes dietéticos aprovados para serem consumido no Brasil são: Acessulfame de Potássio, Aspartame, Ciclamato, Estévia, Neotame, Sacarina e Sucralose (SBD, 2016). Essas substâncias citadas podem ser definidas como edulcorantes, pois conferem o sabor doce ao adoçante. A sacarina, o ciclamato de sódio e o aspatame são exemplos de edulcorantes artificiais, ou seja, aqueles que são fabricados sinteticamente. Já o esteviosídeo é classificado como edulcorante natural (Inmetro, 2006). Ele está presente no adoçante dietético não é calórico da marca Linea 100% Stevia. O objetivo desse texto é apresentar as possíveis vantagens e desvantagens quanto ao uso desse produto frente a outros tipos de adoçantes dietéticos.
Os glicosídeos de esteviol são obtidos a partir das folhas de Stevia rebaudiana Bertoni. A extração ocorre pela ação de água quente sobre as folhas e em seguida, o extrato aquoso é passado por uma resina de adsorção que apreende e concentra os glicosídeos de esteviol (FAO, 2016). Os principais glicosídeos de esteviol de propriedade edulcorante são o esteviosídeo e o rebaudiosídeo A, com 5,8 ± 1,3 e 1,8 ± 1,2 respectivamente, de porcentagem do peso das folhas secas da planta (Gardana, 2010). A nomenclatura química do esteviosídeo é 13-[(2-O-β-D-glucopyranosyl-β-D-glucopyranosyl)oxy] kaur-16-en-18-oic acid, β-D-glucopyranosyl ester e sua fórmula química é C38H60O18. Já a nomenclatura do rebaudiosídeo A é 13-[(2-O-β-D-glucopyranosyl-3-O-β-Dglucopyranosyl-β-D-glucopyranosyl)oxy]kaur-16-en18-oic acid, β- D-glucopyranosyl ester e sua fórmula química é C44H70O23 (FAO, 2010). A estrutura química de ambos, está representada na figura a seguir:
Quem define os limites de Ingestão Diária Aceitável (IDA) de adoçantes é o Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA), um comitê internacional formado por especialistas científicos administrado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Esse comitê avalia a segurança de aditivos alimentares, contaminantes, substâncias tóxicas que ocorrem naturalmente e resíduos de medicamentos veterinários em alimentos. O JECFA recomenda que a quantidade de ingestão de dose diária deverá ser 0 a 4 mg/kg de peso corporal/dia para os glicosídeos de esteviol, expresso como esteviol. O Nível de Efeitos Adversos Não Observados, para esteviosídeo foi de 970 mg/kg por peso corporal/dia.
Quanto à vantagem da baixa ou nenhuma toxicidade, os estudos de toxicocinética realizados pelo JECFA indicaram que o esteviosídeo e rebaudiosídeo A não alterados são pouco absorvidos, contudo esses glicosídeos são hidrolisados pela microbiota intestinal e transformados em esteviol, que por sua vez é absorvido. Depois da absorção, o esteviol é metabolizado, tornando-se, principalmente, glucuronido de esteviol, que é excretado na urina de seres humanos. De acordo com o Immetro, o edulcorante glicosídeos de esteviol é totalmente atóxico e seguro para o organismo (Inmetro, 2006).
O adoçante dietético natural Stévia, apresenta vantagens frente a adoçantes artificiais, como o ciclamato e a sacarina, por poder ser usado por hipertensos. E no caso desses edulcorantes artificiais citados, o uso por hipertensos é contra indicado. O fato de poder ser usado em pacientes com insuficiência renal é vantajoso frente ao edulcorante Acessulfame de Potássio, já que este é contra indicado para pessoas com deficiências renais que necessitam limitar a ingestão de potássio (Inmetro, 2006).
Em animais, a estévia não produziu efeitos adversos sobre a gestação, porém não existem estudos quanto ao seu uso durante a gestação em humanos (Yodyingyuad, 1991) Já, o edulcorante aspartame é contra indicado em gestantes e lactentes (Inmetro, 2006) A estévia pode ser usada em pacientes com fenilcetonúria e não foram descritas reações alérgicas até o momento (Torloni, 2007). Já, o edulcorante aspartame é contra indicado em pessoas com fenilacetonúria. Esta condição clínica pode ser caracterizada como uma anomalia rara que acontece em indivíduos cujo organismo não consegue metabolizar a fenilalanina (aminoácido presente no leite, carne, pão, etc.) e frequentemente é diagnosticada após o nascimento, por meio do teste do pezinho (Inmetro, 2006).
As atividades farmacológicas e os benefícios terapêuticos dos glicosídeos de esteviol incluem ações antitumorais e anticâncer, antiinflamatórias, anti-hiperglicêmicas, anti-hipertensivas, antidiarréicas, imunomoduladoras, diuréticas e inibitórias (RIZZO et al., 2013). Estudos revelam menores níveis glicêmicos pós-prandiais em pessoas que consomem stévia, um deles revelou diminuição de 18% da glicemia pós-prandial após a suplementação de 1g de esteviosídeos em um grupo de 12 diabéticos tipo 2 com o uso de 1 grama de amido como controle (Gregersen, 2004).
Podem ser encontradas duas importantes desvantagens quanto ao uso do adoçante contendo edulcorante estévia, frente a outros tipos de edulcorantes. A primeira delas é bastante relevante e tem relação com as propriedades sensoriais. De acordo com Torloni, esses glicosídeos possuem gosto amargo de ervas ou alcaçuz no momento da ingestão, ao contrário da sacarina, cujo amargor emerge como resíduo no final da degustação (Torloni, 2007). No estudo realizado por Steinle et al., onde foi feita a Avaliação da Aceitação de chá-mate adoçado com aspartame, extrato de estévia e sacarose, antes e após exercício físico, foi revelado que a aceitação da amostra com estévia foi significativamente inferior em relação a todos os atributos avaliados, tanto antes como após a realização de exercício físico (Steinle, 2005).
A segunda desvantagem é em relação ao custo, onde frascos com conteúdo de 60 mL custam em torno de R$ 18,00. Adoçantes dietéticos artificiais, como por exemplo, de sucralose, da mesma marca, com conteúdo superior ao primeiro, 75mL, custa em torno de R$ 10,00, valor 45% menor do que o frasco com adoçante contendo stévia.
Mesmo sendo de origem vegetal, já existem estudos que relatam o consumo do esteviosídeo, adoçante obtido da planta Stevia rebaudiana, por animais de laboratório mostrou que a substância pode causar lesões no DNA das células de diferentes órgãos. Destacando ainda, que, quando penetra em uma célula, como a de uma bactéria presente no nosso trato intestinal, ocorre a sua metabolização e a produção de uma outra substância, o esteviol, que é tóxico. Muitos estudos ainda são necessários para que se possa provar a real segurança do uso do produto. Até que isto ocorra, todo cuidado é pouco! Jamais faça uso de forma indiscriminada. Siga as orientações de profissionais qualificado para tal orientação.
ResponderExcluirAnalisando todos os benefícios apresentados por essa pesquisa, a estévia pode atuar como um importante edulcorante em alimentos dietéticos. Porém, como fora apontado, a maior desvantagem é a percepção sensorial, caracterizada por seu gosto amargo de ervas ou alcaçuz no momento da ingestão, sendo visto como um entrave para substituição à sacarose pela indústria alimentícia. Para reverter esse quadro, de acordo Antonio Pasquel Ruiz, engenheiro de alimentos, é necessária a remoção total (derivados terpenoides) ou parcial (os próprios glicosídeos) das substâncias presentes do extrato glicosídico da estévia, o que minimiza o forte sabor e possibilita sua aplicabilidade pela indústria. Além disso, de acordo com o Global Stevia Institute, dependendo da formulação, alguns sabores complementares também podem ser utilizados para completar o perfil do sabor e de doçura.
ResponderExcluirOs benefícios ou malefícios da Stevia para a saúde irão depender do seu processo de produção. Em sua forma natural, a planta oferece benefícios à saúde, como a prevenção de doenças como diabetes, obesidade e problemas no coração. O produto mais seguro para ser consumido é aquele mais próximo do natural, em que as folhas da planta são desidratadas e moídas em forma de pó. É a forma que sofre menos processos industriais e não deixa de oferecer o gosto doce aos consumidores. A pior e mais perigosa forma da planta é aquela que passa por muitos processos de industrialização, como é o caso do adoçante Truvia. Entre a extração do rebaudiosídeo e a adição de substâncias como solventes químicos, a fabricação é feita em 42 etapas, que servem para deixar o produto mais doce, deixando-o 400 vezes mais doce que o açúcar. Com tantas modificações, o adoçante nem pode mais ser considerado uma Stevia.
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ResponderExcluirEm uma revisão mais atualizada sobre o consumo do extrato da Stevia rebaudiana (SAMUEL et al, 2018), se observa que os efeitos tóxicos da extrato de estévia são principalmente obtidos quando não há a purificação após a extração, resultando em toxicidade reprodutiva em animais. Estudos de toxicidade crônica com extratos de estévia com pureza acima de 95 % (sendo o esteviosídeo o marcador usado) testados em diferentes porcentagens da dieta diária (0, 2,5 e 5%), mostraram que até 2,5 % não foram observados nenhum evento adverso. Com esse valor fixado como NOAEL (No Observable Adverse Effect Level), pode ser calculado que até 970 mg/kg*dia de extrato ou 383 mg de equivalentes de esteviol/kg*dia, ou quando levado um fator de segurança de 100 vezes, temos uma ingestão diária adequada (ADI) de 0-4 mg de equivalentes de esteviol/kg por dia. Nessa mesma revisão, os autores demonstram os dados de artigos que explanam o perfil de consumo do extrato de estévia em diversos países, demonstrando que a mediana do consumo está abaixo do valor estabelecido para ADI de 4 mg/kg*dia. Além disso, foi demonstrada a segurança em testes de toxicidade reprodutiva, carcinogênese e mutagênese (esse último refutando os dados de dois estudos prévios que demonstraram efeitos mutagênicos para o produto mas que obtiveram diversas inconsistências metodológicas, tanto no desenho, usando uma espécie de bactéria cujas condições de cultivo não eram aplicáveis à fisiologia humana, quanto na interpretação dos resultados). Dito isso, o extrato de estévia é uma alternativa segura ao uso de outros adoçantes e a açúcares. Além de sua importância para a saúde de indivíduos diabéticos que não podem fazer a ingesta de açúcares, o uso da Stevia rebaudiana possui implicações econômicas favoráveis ao Brasil, uma vez que, por ser planta nativa, permite ganhos econômicos sobre a utilização de patrimônio genético.
ResponderExcluirReferência: SAMUEL, P. et al. Stevia Leaf to Stevia Sweetener: Exploring Its Science, Benefits, and Future Potential. The Journal of Nutrition, v. 148, n. 7, p. 1186S-1205S. Jul/2018