A L-Carnitina é um aminoácido produzido pelo fígado, principalmente a partir do consumo de proteínas, vem sendo utilizado como co-adjuvante em tratamento de doenças cardiovasculares. Seria essa mais uma promessa da grande indústria de suplementos? Leia mais
Fundamentos
Bromatológicos
A L-carnitina é uma amina produzida pelo fígado,
rins e cérebro, a partir dos aminoácidos lisina e metionina. Essa molécula tem
função fundamental na geração de energia pela célula através do transporte de
ácidos graxos de cadeia longa do citoplasma da célula para a mitocôndria, onde
serão oxidados e produzirão ATP.
A partir de uma dieta balanceada, 50g a 100g de
carnitina podem ser absorvidas diariamente, sendo a carne e produtos lácteos as
maiores fontes de obtenção.
A homeostase dessa molécula é baseada no consumo dietético
e na produção endógena associada à reabsorção renal da mesma. Dessa forma,
quanto menor a ingestão de carnitina, maior será a reabsorção renal, assim como
um aumento no consumo da mesma irá levar a uma maior excreção, o que seria o
caso do uso suplementar de carnitina.
Legislação
De acordo com a Portaria nº32, de 13 de janeiro de 1998, a qual foi emitida pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Vigilância Sanitária, classificam-se como suplementos: Vitaminas isoladas ou associadas entre si; Minerais isolados ou associados entre si; Associações de vitaminas com minerais. Produtos fontes naturais de vitaminas e ou minerais, legalmente regulamentados por Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) de conformidade com a legislação pertinente desde que não ultrapassem 100% da IDR (Ingestão Diária Recomendada). Acima dessas dosagens são considerados como medicamentos. Já produtos como albumina, aminoácidos, hipercalóricos, bebidas isotônicas e produtos à base de carboidratos são considerados, de acordo com Resolução nº 18, publicada pela ANVISA em 2010, uma categoria de produtos com finalidade e público específicos – Alimentos para Atletas- como é o caso da L carnitina.
O registro da L-carnitina na ANVISA se encontra na categoria de ‘novos alimentos e novos ingredientes’, devendo atender ao Regulamento Técnico Específico de Rotulagem de Alimentos Embalados. É descrito ainda que especificamente para a L-carnitina devem constar no rótulo as seguintes informações:
· "Não utilize mais do que 2g diários de L -carnitina"
· "O Ministério da Saúde adverte: não está comprovado que este produto melhore o desempenho físico."
· "O produto não é indicado para redução de gordura corporal"
· "O consumo acima da quantidade recomendada pode provocar sintomas como náusea, diarréia e vômito"
Além disso, sabe-se que a Carnitina interage com coenzima Q10, ácido pantoténico e ainda com a colina, reduzindo assim sua excreção urinária e aumentando seus níveis intracelulares.
Discussão
A sugestão de consumo fornecida na embalagem indica
que deve ser utilizar 30mL do suplemento ao dia, o que indica um consumo de 2,3
mg de L-carnitina e 5,0mg de ácido pentotênico. Levando em consideração que
segundo a Avisa um indivíduo não deve fazer uso superior a 2,0 mg de
L-carnitina por dia e que a ingestão diária recomendada de ácido pantotênico é
de 5mg, e este é amplamente encontrado em diversos tipos de alimentos, o uso
deste suplemento provavelmente irá fornecer uma quantidade em excesso de ambos
os componentes.
Essa substância é considerada uma substância
vitamim-like, por apresentar uma estrutura química semelhante à das vitaminas
do complexo B, em particular a colina. Trata-se um aminoácido não essencial,
sendo produzido pelo organismo através de Lisina e Metionina. Sua função
fundamental é a geração de energia pela célula, pois age nas reações
transferidoras de ácidos graxos livres do citosol para mitocôndrias,
facilitando sua oxidação e geração de adenosina trifosfato.
Estudos mostram que a L-carnitina ajuda a aumentar
o rendimento cardíaco, a contração do miocárdio, a produção de ATP e a
resistência do coração ao exercício físico. Atua ainda a nível dos triglicéridos,
aumentando os níveis de HDL. E no que diz respeito à saúde do cérebro, a
L-carnitina pode ajudar a retardar o envelhecimento das células cerebrais. É
útil também para promover a concentração, a memória e as capacidades de
aprendizagem.
Apesar de muitos estudos demostrarem grandes
benefícios da suplementação de carnitinia em problemas cardiovasculares, a sua
principal utilização é para perda de peso pela queima de gordura. Hoje em dia
esse uso ainda é muito controverso e não existem estudos que suportem essa
teoria mesmo com a suplementação. Estudos afirmam que as quantidades excessivas
de cartinina no organismo iram ser eliminados pelos rins, o que pode acarretar,
no uso excessivo e prolongado, problemas renais.
Bibliografia
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Portaria nº32, de 12 de janeiro de 1998. Disponível em: <http://www.saude.rj.gov.br/comum/code/MostrarArquivo.php?C=MjI1NA%2C%2C>. Visualizado
28.05.18
Registro ANVISA nº
626980076 - L-CARNITINA LIQUIDA. Disponível em: <https://www.smerp.com.br/anvisa/?ac=prodDetail&anvisaId=626980076
A presente invenção refere-se ao uso de L-carnitina, ou um de seus sais farmaceuticamente aceitáveis, é descrito em combinação com glicose para a preparação de um medicamento útil para diminuir o número de mortes causadas por infarto do miocárdio agudo, para reduzir o número de dias gasto por pacientes de infarto em cuidados intensivos em hospital, e para reduzir o número de episódios de insuficiência cardíaca pós-infarto, em que a L-carnitina é administrada intravenosamente dentro apenas de algumas horas do início de sintomas de infarto do miocárdio agudo em uma dose inicial de 9 gramas ao dia em combinação com 1000 a 1500 mL de uma solução de glicose a 5% durante 5 dias, após o que o tratamento com L-carnitina é continuado em uma dose de 4 gramas ao dia administrados oralmente.
ResponderExcluirEstudos recentes também associam a ingestão de L-carnitina como potencial terapia antioxidante para disturbios neurometabólicos, considerando a facilidade que a mesma tem de atravessar a barreira hemato-encefálica e seu grande poder anti-oxidante. Relaciona-se a deficiência de L-carnitina nos tecidos afetados, o que indica que a suplementação seria bem vinda e também seu uso como antioxidante para evitar danos secundários causados por espécies reativas muito comuns nesse tipo de doença.
ResponderExcluirGene. 2014 Jan 10;533(2):469-76. doi: 10.1016/j.gene.2013.10.017. Epub 2013 Oct 19.
Alessandro Valdez DRE 113137435