Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Cápsulas de Cardo Mariano: A utilização de cápsulas desse suplemento alimentar é realmente eficaz no tratamento de doenças hepáticas e digestivas?


                                  


                      
                                Figura 1: Embalagem do produto Cardo Mariano

            A recomendação no uso de suplemento alimentar de cápsulas de Cardo Mariano vem sendo cada vez mais utilizado pela comunidade médica para tratamento de doenças hepáticas e digestivas. No entanto, cabe questionar: este produto é realmente efetivo no combate a essas doenças? Quais são os cuidados na utilização desse suplemento?




Apresentação:
No trabalho em questão será discutida a utilização sobre o uso do suplemento alimentar Cardo Mariano. A indagação proposta foi: Seria mesmo a utilização de cápsulas de Cardo Mariano eficazes no tratamento de doenças digestivas e hepáticas? A hipótese é de que a presença de silimarina( silibina, silidianina, taxifolina e silicristina) possui propriedades anti-hepatotóxicas e digestivas.
A silimarina, substância encontrada em frutos maduros de Cardo Mariano (Sylibum marianum) possui ações descritas em pacientes que a utilizam em casos de doenças de alteração do figado e gástricas. Logo, o objetivo do estudo é verificar se esses compostos são, de fato, efetivos no tratamento dessas patologias para qual este suplemento está sendo indicado e apontar para sua posologia, contraindicações e possíveis efeitos adversos ou interações que possam ocorrer e que possam gerar um risco para o paciente que está fazendo uso do mesmo. A procura pela utilização de fitoterápicos vem crescendo e está presente em nossa sociedade que visa atingir o completo bem-estar minimizando os riscos provenientes de medicamentos que podem comprometer mais a saúde humana. Tal fato pode ser verificado quando depara-se com dados estatísticos que indicam que, no Brasil, o comércio de fitoterápicos é de 5% em relação mercado total de medicamentos, avaliando-o em mais de 400 milhões de dólares. (Pinto et al., 2002). A importância da utilização de fitoterápicos também se mostra evidente pelo Ministério da Saúde que possui uma política denominada Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, criada em 2006, pelo Decreto de número 5.813. Tal política visa buscar a inserção de plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à Fitoterapia no SUS, com segurança, eficácia e qualidade, em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, além de promover o maior uso sustentável da diversidade, entre outros aspectos. Originado da Europa, naturalizado na América, sendo conhecido por vários nomes tais como cardo-de-santa-maria, cardo-leiteiro, cardeiro e cardo-branco. Utilizado há mais de 2.000 anos pela população que o conhecia em função do senso popular sobre as ações deste. Utilizado também com outras finalidades como anti-inflamatória, antioxidante, demulcente, galactagoga. Pode ser empregado para auxiliar no tratamento de cirrose, hepatite e gordura no fígado já que resguarda a integridade hepática em função de ações que serão  aqui debatidas nos tópicos posteriores. Tendo em vista tal importância atribuída aos medicamentos fitoterápicos e sabendo-se que a utilização dos mesmos é de ampla distribuição, o presente estudo visa auxiliar na pesquisa com intuito de verificar se o Cardo Mariano possui atividade farmacológica e pode, assim, ser utilizado para o tratamento dessas doenças. Além disso serão avaliados aspectos como posologia, possíveis interações que possam ser encontradas, contraindicação no uso se houver e outras pontuações importantes a respeito de tal medicamento fitoterápico.


Descrição do produto:
              As cápsulas de Cardo Mariano são utilizadas para diversos fins terapêuticos tais como antidepressivos, anti-inflamatório, antioxidante, colagogo, demulcente, diurético, galactagogo, hepatoprotetor, tônico amargo. No entanto, suas principais ações estão relacionadas a seus efeitos hepatoprotetor e digestivo pronunciado.

Fundamentos bromatológicos:

             Silybum marianum é composta de ácidos (gama-linoleico, oleico, palmítico), esteróis, flavonoides (apigenina, kaempferol, naringina e quercitina), histamina, óleo essencial, mucilagem, proteínas, saponinas e tiramina. A silimarina é o princípio ativo do cardo-mariano, trata-se de uma substância derivada da mistura de flavolignanas (isosibilibina, silibina, silicristina e silidianina), com os flavonóides presentes no cardo. Planta herbácea bienal, lactescente, ereta, espinhenta, de 40 a 140 cm de altura, nativa da região Mediterrânea da Europa e Ásia e naturalizada no sul do Brasil. Tem folhas simples, de cor verde-acinzentada, com manchas brancas ao longo das nervuras, e margens onduladas e orladas de espinhos e cílios, de 15 a 25 cm de comprimento. Flores purpúreas, reunidas em capítulos hemisféricos, solitários e terminais, com brácteas terminadas em espinho. Cresce espontaneamente em campos cultivados nas regiões de altitude do sul do país, onde chega a ser considerada planta daninha. É ocasionalmente cultivada como ornamental e utilizada na culinária na Europa. É, contudo, na medicina caseira onde é mais conhecida desde tempos remotos, considerada como erva amarga, aperiente, diurética, tônica e regeneradora das células hepáticas, estimulante do fluxo biliar, espasmolítica e auxilia em processos digestivos.
A literatura etnofarmacológica registra o uso da tintura de suas sementes para o tratamento de problemas urinários, biliares e uterinos, mas seu emprego deve ser feito somente com indicação médica. Preparações desta planta têm sido desde longa data empregadas por via oral para o tratamento de doenças do fígado e da vesícula referidas como icterícia, cirrose, hepatite e intoxicações, principalmente. Os resultados de ensaios farmacológicos feitos com esta planta registram, além de um efeito benéfico sobre o aparelho cardiovascular, uma forte ação hepatoprotetora, atribuída à silimarina; este princípio ativo é na verdade um complexo ativo constituído de uma mistura de três silibinas que são flavonolignanas existentes em suas sementes na concentração de até 3%, mas inexistente nas outras partes desta planta. O cardo-mariano é relatado por apresentar propriedades hepatoprotetoras e é principalmente utilizado para doenças do fígado, icterícia e auxilia em problemas gástricos. Tradicionalmente, o cardo-mariano foi utilizado por enfermeiros para estimular a produção de leite, como tônico amargo, demulcente, antidepressivo e para dores dispépticas. Tanto os frutos quanto as folhas são utilizados como medicinais, mas atualmente o fruto é o principal alvo de investigações, ou seja, o farmacógeno em função da presença de silimarina em sua composição, tornando-se este o  farmacologicamente ativo responsável por produzir o efeito hepatoprotetor e auxiliar em problemas digestivos.

Figura 2: Molécula de Silibinina. É o principal componente ativo da silimarina, que é extraída da planta Silybum marianum, que está presente na suplementação alimentar por Cardo Mariano e que é responsável por promover o efeito farmacológico.

Legislação: 
          De acordo com a RDC número 48, de 16 de marco de 2004, é denominado um medicamento fitoterápico. Também se enquadra como medicamento novo pela ANVISA segundo a Resolução – RE de número 218, de 5 de fevereiro de 2002.
A classificação de um fitoterápico de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) segundo a RDC número 48, de 16 de marco de 2004 é todo aquele produto que foi obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas  ativas vegetais. Tais parâmetros como a eficácia, segurança são validadas em levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecno-científicas em publicações ou ensaios clínicos fase 3 (ANVISA, 2004).

Discussão:  
            Estudos indicaram que o Cardo Mariano age diretamente como um antihepatotóxico. Possui efeito terapêutico devido à silibina, e esta estimula várias funções das células hepáticas, tais como a proliferação celular, a síntese proteica, a assimilação do oxigênio, a formação de energia, a reparação das membranas celulares danificadas, etc. A silimarina tem uma forte ação antioxidante, protegendo as células hepáticas contra a peroxidação lipídica da membrana celular e das organelas dos hepatócitos, resguardando, desta forma, sua integridade e, assim, a função fisiológica do fígado de eventuais substâncias tóxicas, além de proporcionar uma função digestiva melhorada.  Age aumentando a síntese de RNA mensageiro, o que acelera a síntese proteica. É utilizada no tratamento de hepatopatias crônicas, cirrose hepática, esteatose e lesão hepatotóxicas, produzindo rápida melhora dos sintomas clínicos tais como: cefaléia, astenia, anorexia, distúrbios digestivos, sensação de peso epigástrico. A silimarina também estimula a atividade da superóxido dismutase (SOD) e aumenta os níveis de glutationa peroxidase (GSH), os dois principais sistemas enzimáticos envolvidos na neutralização de radicais livres de oxigênio. A silimarina tem ainda ação anti-inflamatória e antialérgica. Vários estudos realizados por intoxicação com álcool chegaram à conclusão  de que 420 mg/dia de silimarina em 4 semanas de tratamento foi capaz de reduzir os níveis enzimáticos alterados pelo uso do álcool. Deve-se ter em vista que no alcoolismo crônico o etanol é convertido a acetaldeído pela álcool desidrogenase e uma parte por uma via metabólica acessória que usa o sistema microssomal. Neste caso a peroxidação lipídica induzida pelos radicais livres parece ser o mecanismo principal para os danos nos hepatócitos, sobretudo quando a concentração de glutationa é baixa. Com o tratamento de silimarina pode-se detectar que em todos os casos de cirrose há diminuição das enzimas asparto amino transferase, alanina amino transferase, GOT, GPT, -GT, bilirrubina e por outro lado aumento dos níveis de SOD e glutationa peroxidase, comprovando, assim a melhora no perfil hepático sugerido pela suplementação alimentar com Cardo Mariano.

1)      Posologia: Recomenda-se a ingestão de 2 cápsulas por dia de cardo mariano. Cada um com uma refeição principal
2)      Reações adversas: Diarréia, reações cutâneas alérgicas.
3)      Precauções: Não apresenta efeitos embriotóxicos, podendo ser administrada tanto durante a gravidez como no período de aleitamento.
4)      Interações: Até o presente não foram descritas interações com outros fármacos.
5)      Contra-indicações: Hipersensibilidade à silimarina. Obstrução mecânica das vias biliares.


Conclusão: O presente trabalho demonstra a presença de compostos presentes nas cápsulas de suplementação alimentar com Cardo Mariano e, através de evidências buscadas na literatura torna-se clara a ação deste como um potente auxiliador na proteção hepática e auxiliadora no processo de digestão. A molécula de Silmarina, presente nos frutos maduros, considerado o farmacógeno, realiza efeitos que foram questionados na indagação do trabalho, o que comprova que o fitoterápico Cardo Mariano pode ser uma alternativa farmacológica para o tratamento de desregulações digestivas e com função hepatoprotetora.


Referências Bibliográficas:


  PINTO, C.A. et al. Produtos naturais: atualidade, desafios e perspectivas. Química Nova, v.25, p.45-61, 2002.

              Cardo Mariano. O que é, Benefícios, Efeitos Colaterais e Como Tomar. Disponível em: http://www.mundoboaforma.com.br/cardo-mariano-o-que-e-beneficios-efeitos-colaterais-e-como-tomar

Cardo Mariano. Literatura de Cardo Mariano. Disponível em: http://naturell.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Literatura_Cardo_Mariano.pdf

Coisas da roca. Cardo desde a antiguidade usado para diversas aplicações. Disponível em: https://www.coisasdaroca.com/plantas-medicinais/cardo.html

             Serda da natureza. Cardo Mariano. Disponível em: http: www.serdanatureza.com/artigos-cardo-mariano.php

           Medicina natural. Cardo Mariano: benefícios, efeitos e propriedades medicinais. Disponível em: http://www.medicinanatural.com.br/cardo-mariano-silybum-marianum


Lemnis Farmácia. Cardo Mariano: protetor hepático e antioxidante. Disponível em: http://www.lemnisfarmacia.com.br/carduus-marianus-cardo-mariano-ou-silimarina-%E2%80%93-protetor-hepatico-e-antioxidante

            Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada(RDC) número 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 de março. 2004. 


          
            Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf
           
Autora: Ana Elisa Cunha Sobral 

DRE: 114050694 








            

3 comentários:

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  2. Embora o Cardo mariano ( Silymbum marianum) tem sido utilizado com aparente segurança na gravidez (HERNANDEZ, NAZAR,1982),principalmente por seu efeito estimulante sobre a produção de leite, porém trata-se de um medicamento alopático como qualquer outro, sua origem vegetal não o isenta de cuidados durante o uso por gestantes. Um trabalho da Universida de Coimbra diz que apesar de estudos mostrarem a atividade galactogoga de S. marianum,há poucos dados na literatura científica sobre o uso seguro dessa droga vegetal, desta forma não se aconselha sua ingestão na gravidez até que mais estudos sejam realizados ( SILVA, Maria Garcia;2015). Sabe-se que o uso de plantas medicinais por populações há milhares de anos é considerada por órgãos reguladores com indício de segurança ( CLARKE, Julia Helena; 2007), mas as populações leigas dificilmente correlacionam evidências sutis de toxicidade com o uso dessas plantas. Além disso, foi observado que o boldo-verdadeiro (Peumus boldus Molina), uma planta tão comum em jardins teve atividade abortiva e de alterações anatômicas e nos blastocistos (Almeida et al.,2001), ou seja, o uso de fitoterápicos por gestantes não é trivial. Sendo assim, mais estudos científicos são necessários para confirmar a segurança do cardo mariano quando usada por mulheres grávidas.

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