Figura 1: Embalagem do produto
Cardo Mariano
A
recomendação no uso de suplemento alimentar de cápsulas de Cardo Mariano vem
sendo cada vez mais utilizado pela comunidade médica para tratamento de doenças
hepáticas e digestivas. No entanto, cabe questionar: este produto é realmente efetivo
no combate a essas doenças? Quais são os cuidados na utilização desse
suplemento?
Apresentação:
No trabalho em
questão será discutida a utilização sobre o uso do suplemento alimentar Cardo
Mariano. A indagação proposta foi: Seria mesmo a utilização de cápsulas de
Cardo Mariano eficazes no tratamento de doenças digestivas e hepáticas? A
hipótese é de que a presença de silimarina( silibina, silidianina, taxifolina e
silicristina) possui propriedades anti-hepatotóxicas e digestivas.
A silimarina, substância encontrada em frutos maduros
de Cardo Mariano (Sylibum marianum)
possui ações descritas em pacientes que a utilizam em casos de doenças de
alteração do figado e gástricas. Logo, o objetivo do estudo é verificar se
esses compostos são, de fato, efetivos no tratamento dessas patologias para
qual este suplemento está sendo indicado e apontar para sua posologia,
contraindicações e possíveis efeitos adversos ou interações que possam ocorrer
e que possam gerar um risco para o paciente que está fazendo uso do mesmo. A
procura pela utilização de fitoterápicos vem crescendo e está presente em nossa sociedade que visa atingir o completo
bem-estar minimizando os riscos provenientes de medicamentos que
podem comprometer mais a saúde humana. Tal fato pode ser verificado quando
depara-se com dados estatísticos que indicam que, no Brasil, o comércio de
fitoterápicos é de 5% em relação mercado total de medicamentos, avaliando-o em
mais de 400 milhões de dólares. (Pinto et al., 2002). A importância da
utilização de fitoterápicos também se mostra evidente pelo Ministério da Saúde
que possui uma política denominada Política e Programa Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos, criada em 2006, pelo Decreto de número
5.813. Tal política visa buscar a
inserção de plantas medicinais,
fitoterápicos e serviços relacionados à Fitoterapia no SUS, com segurança,
eficácia e qualidade, em consonância com as diretrizes da Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares no SUS, além de promover o maior uso
sustentável da diversidade, entre outros aspectos. Originado da Europa,
naturalizado na América, sendo conhecido por vários nomes tais
como cardo-de-santa-maria, cardo-leiteiro, cardeiro e cardo-branco.
Utilizado há mais de 2.000 anos pela população que o conhecia em função
do senso popular sobre as ações
deste. Utilizado também com outras finalidades como anti-inflamatória,
antioxidante, demulcente, galactagoga. Pode ser empregado para auxiliar no
tratamento de cirrose, hepatite e gordura no fígado já que resguarda a
integridade hepática em função
de ações que serão aqui
debatidas nos tópicos posteriores. Tendo em vista tal importância atribuída aos
medicamentos fitoterápicos e sabendo-se que a utilização dos mesmos é de ampla distribuição, o presente estudo visa auxiliar na pesquisa
com intuito de verificar se o Cardo Mariano possui atividade farmacológica e
pode, assim, ser utilizado para o tratamento dessas doenças. Além disso serão avaliados aspectos como posologia, possíveis
interações que possam ser
encontradas, contraindicação no
uso se houver e outras pontuações
importantes a respeito de tal medicamento fitoterápico.
Descrição do produto:
As cápsulas de Cardo Mariano são utilizadas para diversos fins terapêuticos tais como antidepressivos, anti-inflamatório, antioxidante, colagogo, demulcente, diurético, galactagogo, hepatoprotetor, tônico amargo. No entanto, suas principais ações estão relacionadas a seus efeitos hepatoprotetor e digestivo pronunciado.
Fundamentos bromatológicos:
A Silybum marianum é composta de ácidos (gama-linoleico, oleico, palmítico), esteróis, flavonoides (apigenina, kaempferol, naringina e quercitina), histamina, óleo essencial, mucilagem, proteínas, saponinas e tiramina. A silimarina é o princípio ativo do cardo-mariano, trata-se de uma substância derivada da mistura de flavolignanas (isosibilibina, silibina, silicristina e silidianina), com os flavonóides presentes no cardo. Planta herbácea bienal, lactescente, ereta, espinhenta, de 40 a 140 cm de altura, nativa da região Mediterrânea da Europa e Ásia e naturalizada no sul do Brasil. Tem folhas simples, de cor verde-acinzentada, com manchas brancas ao longo das nervuras, e margens onduladas e orladas de espinhos e cílios, de 15 a 25 cm de comprimento. Flores purpúreas, reunidas em capítulos hemisféricos, solitários e terminais, com brácteas terminadas em espinho. Cresce espontaneamente em campos cultivados nas regiões de altitude do sul do país, onde chega a ser considerada planta daninha. É ocasionalmente cultivada como ornamental e utilizada na culinária na Europa. É, contudo, na medicina caseira onde é mais conhecida desde tempos remotos, considerada como erva amarga, aperiente, diurética, tônica e regeneradora das células hepáticas, estimulante do fluxo biliar, espasmolítica e auxilia em processos digestivos.
A literatura etnofarmacológica registra o uso da
tintura de suas sementes para o tratamento de problemas urinários, biliares e
uterinos, mas seu emprego deve ser feito somente com indicação médica.
Preparações desta planta têm sido desde longa data empregadas por via oral para
o tratamento de doenças do fígado e da vesícula referidas como icterícia,
cirrose, hepatite e intoxicações, principalmente. Os resultados de ensaios
farmacológicos feitos com esta planta registram, além de um efeito benéfico
sobre o aparelho cardiovascular, uma forte ação hepatoprotetora, atribuída à
silimarina; este princípio ativo é na verdade um complexo ativo constituído de
uma mistura de três silibinas que são flavonolignanas existentes em suas
sementes na concentração de até 3%, mas inexistente nas outras partes desta
planta. O cardo-mariano é relatado por apresentar propriedades hepatoprotetoras
e é principalmente utilizado para doenças do fígado, icterícia e auxilia em
problemas gástricos. Tradicionalmente, o cardo-mariano foi utilizado por
enfermeiros para estimular a produção de leite, como tônico amargo, demulcente,
antidepressivo e para dores dispépticas. Tanto os frutos quanto as folhas são
utilizados como medicinais, mas atualmente o fruto é o principal alvo de
investigações, ou seja, o farmacógeno em função da presença de silimarina em
sua composição, tornando-se este o
farmacologicamente ativo responsável por produzir o efeito
hepatoprotetor e auxiliar em problemas digestivos.
Figura 2:
Molécula de Silibinina. É o principal componente ativo da silimarina, que é
extraída da planta Silybum marianum,
que está presente na suplementação alimentar por Cardo Mariano e que é
responsável por promover o efeito farmacológico.
Legislação:
De acordo
com a RDC número 48, de 16 de marco de
2004, é denominado um medicamento fitoterápico. Também se enquadra como
medicamento novo pela ANVISA segundo a Resolução
– RE de número 218, de 5 de fevereiro de 2002.
A classificação de um fitoterápico de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) segundo a RDC número 48, de 16 de marco de 2004 é todo aquele produto que foi obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. Tais parâmetros como a eficácia, segurança são validadas em levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecno-científicas em publicações ou ensaios clínicos fase 3 (ANVISA, 2004).
Discussão:
Estudos
indicaram que o Cardo Mariano age diretamente como um antihepatotóxico. Possui efeito
terapêutico devido à silibina, e esta estimula várias funções das células
hepáticas, tais como a proliferação celular, a síntese proteica, a assimilação
do oxigênio, a formação de energia, a reparação das membranas celulares
danificadas, etc. A silimarina tem uma forte ação antioxidante, protegendo as
células hepáticas contra a peroxidação lipídica da membrana celular e das
organelas dos hepatócitos, resguardando, desta forma, sua integridade e, assim,
a função fisiológica do fígado de eventuais substâncias tóxicas,
além de proporcionar uma função digestiva melhorada. Age aumentando a síntese de RNA mensageiro, o
que acelera a síntese proteica. É utilizada no tratamento de hepatopatias
crônicas, cirrose hepática, esteatose e lesão hepatotóxicas, produzindo rápida
melhora dos sintomas clínicos tais como: cefaléia, astenia, anorexia,
distúrbios digestivos, sensação de peso epigástrico. A silimarina também
estimula a atividade da superóxido dismutase (SOD) e aumenta os níveis de
glutationa peroxidase (GSH), os dois principais sistemas enzimáticos envolvidos
na neutralização de radicais livres de oxigênio. A silimarina tem ainda ação
anti-inflamatória e antialérgica. Vários estudos realizados por intoxicação com
álcool chegaram à conclusão de que 420
mg/dia de silimarina em 4 semanas de tratamento foi capaz de reduzir os níveis
enzimáticos alterados pelo uso do álcool. Deve-se ter em vista que no
alcoolismo crônico o etanol é convertido a acetaldeído pela álcool
desidrogenase e uma parte por uma via metabólica acessória que usa o sistema microssomal.
Neste caso a peroxidação lipídica induzida pelos radicais livres parece ser o
mecanismo principal para os danos nos hepatócitos, sobretudo quando a
concentração de glutationa é baixa. Com o tratamento de silimarina pode-se
detectar que em todos os casos de cirrose há diminuição das enzimas asparto
amino transferase, alanina amino transferase, GOT, GPT, -GT, bilirrubina e por
outro lado aumento dos níveis de SOD e glutationa peroxidase, comprovando,
assim a melhora no perfil hepático sugerido pela suplementação alimentar com
Cardo Mariano.
1) Posologia: Recomenda-se a ingestão de 2 cápsulas por dia de cardo mariano. Cada um com uma refeição principal
2) Reações adversas: Diarréia, reações cutâneas alérgicas.
3) Precauções: Não apresenta efeitos embriotóxicos, podendo ser administrada tanto durante a gravidez como no período de aleitamento.
4) Interações: Até o presente não foram descritas interações com outros fármacos.
5) Contra-indicações: Hipersensibilidade à silimarina. Obstrução mecânica das vias biliares.
Conclusão:
O
presente trabalho demonstra a presença de compostos presentes nas cápsulas de
suplementação alimentar com Cardo Mariano e, através de evidências buscadas na
literatura torna-se clara a ação deste como um potente auxiliador na proteção
hepática e auxiliadora no processo de digestão. A molécula de Silmarina,
presente nos frutos maduros, considerado o farmacógeno, realiza efeitos que
foram questionados na indagação do trabalho, o que comprova que o fitoterápico
Cardo Mariano pode ser uma alternativa farmacológica para o tratamento de
desregulações digestivas e com função hepatoprotetora.
Referências Bibliográficas:
PINTO, C.A. et al. Produtos naturais: atualidade, desafios e perspectivas. Química Nova, v.25, p.45-61, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada(RDC) número 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 de março. 2004.
Autora: Ana Elisa Cunha Sobral
DRE: 114050694
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ResponderExcluirEmbora o Cardo mariano ( Silymbum marianum) tem sido utilizado com aparente segurança na gravidez (HERNANDEZ, NAZAR,1982),principalmente por seu efeito estimulante sobre a produção de leite, porém trata-se de um medicamento alopático como qualquer outro, sua origem vegetal não o isenta de cuidados durante o uso por gestantes. Um trabalho da Universida de Coimbra diz que apesar de estudos mostrarem a atividade galactogoga de S. marianum,há poucos dados na literatura científica sobre o uso seguro dessa droga vegetal, desta forma não se aconselha sua ingestão na gravidez até que mais estudos sejam realizados ( SILVA, Maria Garcia;2015). Sabe-se que o uso de plantas medicinais por populações há milhares de anos é considerada por órgãos reguladores com indício de segurança ( CLARKE, Julia Helena; 2007), mas as populações leigas dificilmente correlacionam evidências sutis de toxicidade com o uso dessas plantas. Além disso, foi observado que o boldo-verdadeiro (Peumus boldus Molina), uma planta tão comum em jardins teve atividade abortiva e de alterações anatômicas e nos blastocistos (Almeida et al.,2001), ou seja, o uso de fitoterápicos por gestantes não é trivial. Sendo assim, mais estudos científicos são necessários para confirmar a segurança do cardo mariano quando usada por mulheres grávidas.
ResponderExcluirmelhor-estimulante-natural
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