Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Quercetina: O anjo que caiu do céu?

              Este flavonóide ganhou popularidade pela ação antioxidante prevenindo doenças degenerativas e cardíacas. Foram descobertas também ações antitumorais, antivirais, antidiabéticas e imunológicas. O suplemento já circula a um bom tempo no mercado, mas ainda restam dúvidas sobre sua utilização. Qual seria a concentração necessária para aproveitar dos benefícios da quercetina ? Veja mais....

Introdução

             A quercetina é um membro da família dos flavonóides, um dos antioxidantes mais importantes na dieta. Está presente em alimentos, incluindo vegetais, frutas, chá e vinho, bem como inúmeros suplementos alimentares e é conhecida por exercer efeitos benéficos à saúde.Devido ao potencial antioxidante, anticarcinogênico e efeitos protetores aos sistemas renal e cardiovascular, a quercetina vem sendo utilizada como suplementação alimentar. A quercetina pode ser vendida com vários nomes comerciais, como Super Quercetin, Quercetina 500mg ou Quercetina Biovea, a composição de cada suplemento varia de laboratório para laboratório, sendo muitas vezes associada à vitamina C.





       
 

Fundamentos Bromatológicos

                Os flavonóides são importantes componentes da dieta humana embora, geralmente, sejam considerados não nutrientes, ou seja, substâncias sem valor nutritivo. São consumidos diariamente na dieta humana, porém, uma quantificação mais exata do total de flavonóides ingeridos torna-se difícil devido à falta de tabelas com dados sobre sua distribuição nos alimentos. O consumo total estimado varia entre 26 mg e 1 g/dia, de acordo com o consumo de fontes específicas como vinho tinto, chá preto, cerveja, frutas (maçã, uva, morango), vegetais (cebola, couve, vagem, brócolis), grãos, nozes, sementes e especiarias. A quercetina, o mais abundante flavonóide presente na dieta humana, geralmente encontrado nos alimentos na forma glicosilada, representa cerca de 95% do total dos flavonóides ingeridos. A cebola, maçã e brócolis são as fontes majoritárias da quercetina.

                Potencial antioxidativos: devido à suas propriedades sequestrantes de radicais livres e por quelar íons metálicos, protegendo assim os tecidos dos radicais livres e da peroxidação lipídica. A quercetina pode inibir o processo de formação de radicais livres em três etapas diferentes: na iniciação (pela interação com íons superóxido), na formação de radicais hidroxil (por quelar íons de ferro) e na peroxidação lipídica (por reagir com radicais peroxi de lipídeos). O uso associado com a vitamina C aumenta a biodisponibilidade pela regeneração da forma antioxidada da quercetina.
                Potencial Anticarcinogênico: a quercetina regula o ciclo celular, interage com os locais de ligação do estrogênio tipo II, diminui a resistência às drogas e induz a apoptose de células tumorais podendo tornar-se um potente composto antitumoral. Adicionalmente, a quercetina inibe a atividade da tirosina quinase.
                Estudos verificaram que a quercetina pode atuar em doenças cardiovasculares, inibindo importantes passos da angiogênese in vitro, incluindo a proliferação, migração e formação tubular das células do endotélio, em doenças renais, tendo ação de preservação da integridade histológica renal com diminuição do dano tubular e da inflamação intersticial.
                Em maio de 2016, um grupo de pesquisadores brasileiros afirmou ter descoberto um medicamento antiviral capaz de combater dengue, zika e chikungunya. A fórmula, composta por três substâncias já conhecidas e presentes em alimentos, vitaminas e remédios com diferentes funções, contém quercetina, um anti-histamínico e o terceiro componente antiviral permanece sob sigilo. A fórmula, nomeada de D6501, atua em diferentes frentes, inibindo a replicação do vírus nas células e estimulando as defesas do organismo. Já o componente anti-histamínico atuaria comprimindo os vasos sanguíneos, evitando quadros hemorrágicos.

Legislação

         No Brasil existem algumas leis e regulamentações que dispõem sobre alimentos e suplementação de vitaminas. Porém, não há um consenso entre pesquisas e essas regulamentações para a padronização de doses de quercetina, de acordo com patologias. Na Anvisa a quercetina tem registro no órgão como substância estabilizadora de formulações, sem função terapêutica descrita.

Conclusão

         Para os que desejam utilizar dos benefícios da quercetina, atenção. Como apresentado, não existe uma legislação específica sobre a suplementação de quercetina no Brasil, sendo necessário não só a criação de legislações, como pesquisas mais específicas em torno da utilização para o tratamento de patologias. É muito importante destacar que qualquer uso de suplementação tem que ser indicado por um profissional capacitado para isso.

Referências

BEHLING, E.B.; SENDÃO, M.C.; FRANCESCATO, H.D.C.; ANTUNES, L.M.G.; BIANCHI, M.L.P. Flavonoid quercetin: general aspects and biological actions. Alim. Nutr., Araraquara, v. 15, n. 3, p. 285-292, 2004.
Askari G, Ghiasvand R, Feizi A, Ghanadian SM, Karimian J. The effect of quercetin supplementation on selected markers of inflammation and oxidative stress. Journal of Research in Medical Sciences : The Official Journal of Isfahan University of Medical Sciences. 2012;17(7):637-641.
      Fonte: Quercetina uma nova tendência
Fonte: Suplemento de Quercetina - Antioxidante Natural
Fonte: Pesquisadores brasileiros testam remédio contra dengue, zika e chikungunya

Disponível em: http://www.cff.org.br/impressao.php?noticia=3747

6 comentários:

  1. Os fitoterápicos possuem uma excelente ação in vitro e in vivo nas mais variadas patologias, porém a principal limitação de seu uso é a quantidade a ser administrada ou a quantidade de alimento a ser consumida pelo paciente para que haja uma resposta fisiológica efetiva. De acordo com um fabricante, o suplemento dietético contendo aproximadamente 2g de quercetina pode resultar em uma concentração plasmática de até 50µM. Além disso, foi demonstrado por ensaio clínico de fase I, que a administração intravenosa de 420mg de quercetina em uma paciente em estado terminal de câncer de ovário diminuiu em seis vezes a concentração sérica de um marcador proteico especifico para o tipo de tumor. Os estudos em humanos também demonstraram que a ingestão crônica da quercetina é importante para que haja concentrações bioefetivas e proporcionar a ação quimiopreventiva do composto. Vale ressaltar, como foi observado no trabalho, ainda não há uma legislação especifica para a utilização da quercetina como fitofármaco, porém a legislação brasileira vem demonstrando interesse na aplicação de produtos naturais na saúde da população, como exemplo o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que propõem ações para o acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos.

    Carlos Luan Alves Passos DRE: 113100739

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  2. A ação antioxidante dos flavonoides está diretamente ligada à capacidade sequestrante de radicais livres e quelante de íons metálicos, protegendo os tecidos da peroxidação lipídica e estresse oxidativo.
    A quercetina sequestra espécies reativas de oxigênio (OH e O2), inibe a xantina oxidase e a peroxidação lipídica, além de apresentar propriedade quelante e estabilizadora de ferro.
    A ação antiobesogênica e antidiabética da quercetina tem sido investigada. Pesquisas que estimulam o aumento do tecido adiposo marrom têm sido realizadas como estratégia promissora para a prevenção da obesidade.
    Em estudo com modelo animal, a quercetina, presente na casca da cebola, remodelou as características do tecido adiposo branco, favorecendo o escurecimento destes adipócitos, através da ativação da AMP-proteína quinase. Quanto ao seu feito antidiabético, a suplementação de quercetina (10-50mg/kg ao dia) em ratos Alloxan diabéticos normalizou a glicemia e o glicogênio hepático, além de reduzir colesterol sérico e LDL dos animais. Também se mostrou efetiva na redução da resistência à insulina, hiperlipidemia e inflamação em ratos Zucker obesos.
    O treinamento físico é a melhor estratégia para aumentar o número e a função das mitocôndrias no músculo. A quercetina exerce efeito anti-inflamatório no exercício físico, uma vez que modula a sinalização intracelular, através da cascata de sinalização inflamatória, inibindo a ativação do fator de transcrição nuclear pró-inflamatória (NfkB). A ação antioxidante da quercetina inibe o processo de formação de radicais livres em três etapas diferentes: na iniciação, pela interação com íons superóxido, na formação de radicais hidroxil, por quelar íons de ferro, e na peroxidação lipídica, por reagir com radicais peroxi de lipídeos. Os primeiros estudos indicaram aumento no conteúdo mitocondrial a partir da suplementação de quercetina e como consequência, maior resistência durante os exercícios, foram com animais. Outro efeito importante da quercetina sobre a performance esportiva seria o seu efeito psicoestimulante muito simular ao da cafeína. Por apresentar maior afinidade por receptores de adenosina que outros flavonoides, a quercetina é capaz de bloquear receptores de adenosina no cérebro, aumentando o efeito da dopamina durante a prática esportiva. Seria, portanto, um recurso ergogênico interessante e possível de ser utilizado, principalmente em indivíduos sensíveis à cafeína.

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  3. Os flavonóides constituem uma das classes de moléculas naturais que caracterizam os alimentos como funcionais. Antioxidantes como a quercetina, além de atuarem diretamente no sequestro de radicais livres, também agem na indução de diversas vias bioquímicas antioxidantes, ativadas em resposta ao estresse oxidativo, que está ligado à inflamação e ao desenvolvimento de diversas doenças crônicas, o que explica a grande funcionalidade da quercetina.
    Por ser uma molécula de origem natural com tantos benefícios, a quercetina, de fato, parece ser um presente da natureza, e pode ser vista como inofensiva pela população, entretanto sabe-se que o excesso de qualquer substância pode ser danoso para um indivíduo. E devido a falta regulamentações sobre o uso terapêutico da quercetina, muito menos de limites de dose, alertar a população sobre os riscos do uso indiscriminado é uma tarefa complicada. Abordar a ausência de legislações sobre o uso de quercetina e de outros fitoquímicos, e a partir disso, reforçar a necessidade da orientação profissional na suplementação alimentar, é necessário em tempos que ainda se acredita que substâncias naturais são isentas de riscos a saúde.

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  4. Gabrie dos Santos Ribeiro26 de setembro de 2020 às 16:33

    Assim como a quercetina, há diversas outras moléculas polifenólicas naturais de caráter oxidantes, como o EGCQ, curcumina, safranal, resveratrol e por aí vai. De fato, todas essas moléculas têm um considerável valor benéfico para a saúde, porém antes de introduzi-las como suplementos alimentares são necessários muitos outros estudos sobre seus benefícios e, principalmente, riscos para a saúde. É evidente que, por se tratar de um polifenol, a quercetina terá um efeito cardio e neuro protetor, uma vez que vai sequestrar os radicais livres e espécies reativas de oxigênio (ROS) formadas ao longo dos processos metabólicos do organismo. Consequentemente, haverá a redução de diversos processos patológicos que sejam causados e/ou agravados pelos radicais livres e ROS. Entretanto, é necessário estabelecer, em primeiro lugar, o quão benéficas são essas moléculas para a saúde. Teria, a quercetina, uma atividade relevante em comparação aos mecanismos antioxidantes do corpo? Além disso, qual seria a concentração mínima necessária para que este processo seja, de fato, efetivo? O efeito protetor é óbvio, assim como de todos os polifenóis, flavonoides, chalconas, e outras moléculas aromáticas, mas o quanto de quercetina é necessário para atingi-lo? Além disso, a partir de que ponto este composto deixa de ser benéfico e passa a ser prejudicial para a saúde? Afinal, o ECGQ, por exemplo, é altamente descrito na literatura pelo seu potencial protetor, semelhante ao da quercetina, porém, hoje em dia, sabe-se que esta molécula, em concentrações altas, possui um efeito hepatotóxico consideravelmente revelante. Existe uma diferença entre uma molécula 100% natural e presente na dieta, em concentrações baixas, e uma suplementação com esta molécula. Embora a quercetina seja uma substância naturalmente presente em alimentos, isto não a torna isenta de efeitos maléficos para à saúde e para o corpo, e enquanto não sejam realizados estes estudos, é extremamente perigoso chama-la de “anjo que caiu do céu”.

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