Figura 1 : Disponível em : < http://www.piracanjuba.com.br/produtos/zero-lactose>
Percebe-se que a empresa investiu muito no marketing e tomou
as devidas precauções em relação a regulamentação de indicação de nutrientes
através da RDC 259/2002, mas, será que
isso é o suficiente ?
O público consegue entender que esse tipo de leite é apenas
para quem de fato é intolerante a lactose?
O caso da garota de 2 anos e meio que teve a reação alérgica
a um dos produtos ‘’ zero lactose’’ reflete como o conceito de intolerância e
alergia ainda causa dúvidas e como a lactose é muitas vezes associada a
componente único do leite.
Como a campanha #poenorotulo
mudou a rotulagem não apenas do
leite, como também de outros produtos considerados alergênicos ? LEIA MAIS
Introdução :
A intolerância a lactose ocorre quando não ocorre a digestão
de Lactose em quantidades significativas pela enzima lactase, logo, a digestão
e absorção da lactose ficam comprometidas, acumulando-se no intestino grosso no qual as
bactérias realizam o processo de fermentação, gerando ácido lático e gases que
promovem retenção de água, diarréia e cólicas.
Além disso, não há participação do sistema imunológico no
processo, como ocorre em uma alergia.
O processo alérgico é uma resposta do sistema imunológico a proteínas, logo, não
existe alergia a lactose que é um açúcar e sim as proteínas do leite, por
exemplo, a caseína. A alergia não é apenas um mecanismo complexo, como também é
fatal em qualquer dose, o que não ocorre com a intolerância.
Figura 2 : Disponível em : < http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/09/produto-sem-lactose-pode-ter-leite-em-sua-formula-entenda-razoes.html
>
Figura 3 : Disponível em : < http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/09/produto-sem-lactose-pode-ter-leite-em-sua-formula-entenda-razoes.html
>
2-) Fundamentos bromatológicos
O leite é composto por gordura, proteína ( principalmente
caseína e albumina), sólidos não gordurosos e água que possuem valores mínimos
considerados normais de 3 % , 2,9% e 8,4 % respectivamente, mas, a água não
está incluída nos sólidos totais.
Dentre esses sólidos, podemos destacar a Lactose que é um
dissacarídeo composto por dois tipos de açúcar ( Galactose e Glicose) e não é
tão doce quanto outros dissacarídeos, como a sacarose.
3-) Legislação
A RDC 259/2002, se aplica à
rotulagem de todo alimento que seja comercializado, qualquer que seja sua
origem, embalado na ausência do cliente, e pronto para oferta ao consumidor,
mas, o problema é que não abrange os alimentos que causam alergia. O caso da
garota de 2 anos e meio que teve a reação alérgica a um dos produtos ‘’ zero
lactose’’ é um exemplo de como essa RDC é falha nessa parte. O caso foi
investigado, porém, a empresa seguiu as regras de rotulagem estabelecidas pela
RDC 259/2002. Em 2014, foi criado o movimento Põe no rótulo ( #poenorotulo) cujo objetivo é conscientizar a população para a necessidade da rotulagem destacada de alimentos reconhecidamente mais alergênicos : trigo, leite, soja, ovo, peixe, crustáceos, amendoim, oleaginosas.
O resultado desse movimento foi em Junho de 2015 com a criação da RDC 26/2015 que dispõe sobre os requisitos para a rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. A norma se aplica aos alimentos, incluindo as bebidas, ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia embalados na ausência de consumidores, inclusive aqueles destinados exclusivamente ao processamento industrial e os destinados aos serviços de alimentação. Essa resolução é aplicada de forma complementar a RDC nº 259/2002 e foi estabelecido um prazo de 12 meses para as empresas se adequarem a essa RDC.
Dentre as medidas, é a declaração " Alérgicos : Pode conter (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares) " que deve constar no rótulo em casos em que não for possível garantir a ausência de contaminação cruzada dos alimentos, ingredientes, aditivos alimentares ou coadjuvantes de tecnologia por alérgenos alimentares.
Figura 4 : Disponível em : < http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/industria-pede-mais-tempo-para-por-alimentos-alergenicos-nos-rotulos-19330596
>
4-) Discussão e conclusão
O marketing pode confundir o
consumidor acerca de produtos zero lactose, apesar da RDC 26/2015.
Um exemplo disso é da marca
Piracanjuba através da frase “ É indicado para todos os níveis de intolerância
á lactose, mesmo para os consumidores mais sensíveis “. Se o produto não possui
lactose, quem é intolerante não vai apresentar nenhuma reação, logo, não faz
sentido o ‘’ sensíveis ‘’.
Além disso, o consumidor pode pensar que quem
é alérgico pode consumir. A idéia de sensível para quem apresenta reação
alérgica não é errada visto que é necessário o contato com apenas uma pequena
quantidade do alérgeno e a reação é grave, porém, nunca será a lactose pois é
um açúcar e não uma proteína que continua presente no leite zero lactose.
Enfim, a verdade é que as pessoas
pensam que a lactose é o principal componente do leite e a partir daí surge a
idéia de que a pessoa que apresenta algum problema com o leite ou seus
derivados é devido a esse açúcar, logo, o produto zero lactose torna-se a
solução do problema, porém, não o é para quem é alérgico.
O surgimento de produtos zero
lactose, fez várias empresas investirem no marketing, mas, pode passar uma
mensagem que é interpretada de forma errônea pelo consumidor, gerando episódios
de reação alérgica como o caso da garota de 2 anos e meio que teve a reação
alérgica a um dos produtos ‘’ zero lactose’’.
5-) Referências
BRASIL. Ministério da Saúde,
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC n. 26, de 2 de
Julho de 2015. Requisitos para rotulagem obrigatória dos principais
alimentos que causam alergias alimentares..
Diário Oficial da União, Brasília, 3 de Julho de 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde,
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC n. 259, de 20
de Setembro de 2002. Regulamento
Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados. Disponível em : <http://www.ibravin.org.br/admin/arquivos/informes/1455824267-1ed.pdf
>
Intolerância á lactose. Disponível em : < http://drauziovarella.com.br/letras/l/intolerancia-a-lactose/
> Acesso em 3 de Agosto de 2016
Movimento Põe no rótulo. Disponível em : < http://www.poenorotulo.com.br/ >
Acesso em 3 de Agosto de 2016.
Como rotular alergênicos de acordo com a RDC 26/15 .
Disponível em : < http://foodsafetybrazil.org/como-rotular-alergenicos-de-acordo-com-a-rdc-2615/
> . Acesso em 3 de Agosto de 2016.
BRANDÃO, C, SEBASTIÃO ;
CARDOSO, L. MARIA ; MATEDI, L, MILEDE.
Alergia e intolerância ao leite
de vaca. Disponível em : < http://www.ufv.br/dta/artigos/tolerancia.htm
>. Acesso em 3 de Agosto de 2016.
DURR, WALTER, JOÃO.
et al. Produção de leite conforme
instrução normativa número 62. 4. Ed. Brasília : SENAR 2012. Disponível em
: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/CRC/SENAR%20-%20Produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20leite%20conforme%20IN%2062.pdf
>. Acesso em 3 de Agosto de 2016.
GONZÁLEZ,
H, D. ET al. Uso do leite para monitorar
a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Porto Alegre. 2001.
SIMON,
DANIEL ; SILVEIRA, R, THEMIS ; WORTMANN, C, ANDRÉ. Análise
molecular da hipolactasia primária do tipo adulto : uma nova visão do
diagnóstico de um problema antigo e freqüente. Porto Alegre. Revista da AMRIGS. 2013.
Disponível em < http://www.amrigs.org.br/revista/57-04/0000222859-14_1222_Revista%20AMRIGS.pdf
>. Acesso em 3 de Agosto de 2016.
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Estudos e Pesquisas dos alunos da disciplina Bromatologia em Saúde oferecida pela Faculdade de Farmácia da UFRJ, que adota um modelo tutorial, onde estudantes exercitam a construção autônoma de conhecimentos, com pesquisa e extensão convergindo para ensino.
Apresentação
Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.
O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.
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