Sabe-se que indivíduos
contaminados com arsênico apresentam desordens que vão desde distúrbios
gastrointestinais à câncer. O FDA desde 2011 monitora os níveis de arsênio em
alimentos. Em 2016, FDA propôs um nível limite de 100ppb de arsênio inorgânico
em alimentos a base de arroz em cereais infant formula. Porém, foram visto que
empresas ainda apresentam um percentual maior que o limite. Será que nossos
bebês estão protegidos? Quais são os riscos? Leia mais…
1. INTRODUÇÃO
Os
alimentos infant fórmula são definidos por lei como, em parte, um alimento para
ser usado por crianças que simula leite humano ou é adequado como um substituto
total ou parcial para o leite humano. Os alimentos infant formula são
importantes durante os 4 aos 6 meses de idade que é o período de maior
crescimento e desenvolvimento e a quantidade de nutrientes requeridos são
maiores que durante a maior parte da vida do indivíduo. Em 1980 aconteceu a
primeira Lei de Infant formulas, mas desde então aconteceram mudanças na sua
composição.
Os
cereais infant são muito utilizados por mães como forma de complementar a
alimentação de seu filho durante a sua fase de crescimento. Alguns elementos
químicos devem ser monitorados durante a produção dos cereais de arroz
infantis, como o arsênio inorgânico. O arsênio (As) é um elemento químico que
está presente no solo e água, sendo que o arsênio inorgânico, arsenito e
arsenato, é o mais tóxico. Visto isso, desde 2011 o Food and Drug Administration
(FDA) vem acompanhando os níveis de arsênio e depois de novos métodos para
diferenciar as formas de arsénio tornou-se disponível, a agência expandiu seu
teste para ajudar a melhor compreender e gerir eventuais riscos relacionados
com o arsênio associados ao consumo de alimentos nos Estados Unidos.
Arroz
é um alimento que possui os níveis mais elevados de arsênico inorgânico do que
outros alimentos, em parte porque as plantas de arroz crescem, a planta e grãos
tendem a absorver arsênico mais facilmente do que outras culturas alimentares.
Em
abril de 2016, a FDA propôs um nível de ação, ou limite, de 100 partes por
bilhão (ppb) de arsênico inorgânico no cereal de arroz infantil. Este nível,
que é baseada na avaliação do FDA de um grande corpo de informações
científicas, procura reduzir a exposição infantil ao arsênico inorgânico.
No
Brasil, em 2013, aconteceu um incidente de ser encontrado níveis altíssimos de
arsênio em arroz. A RDC nº 42 de 25 agosto de 2013 tornou-se vigente e estipula
valor máximo limite do metal, arsênio, para os alimentos e os cereais a base de
arroz devem possuir um limite máximo de 300ppb, não abrangindo alimentos para
lactantes e crianças de primeira infância.
Os
riscos da ingestão de arsênio inorgânico inclui a ocorrencia de câncer de
pulmão e bexiga, por exemplo, além de problemas no trato gastrointestinal.
2. FUNDAMENTOS
BROMATOLÓGICOS
O
arsênio é um metal da família 5A que está presente em água, solo e ar. Sendo
que o mesmo se apresenta nas formas orgânica e inorgânica. O arsênio inorgânico,
arsenito- As(III) e arsenato- As(V), é mais tóxico que o orgânico, cerca de 100
vezes, e a dose letal desse elemento para indivíduos adultos é cerca de 3-30mg/kg,
no entanto. No momento da ingestão, estima-se que 50-70% do arsenato é absorvido
e metabolizado à arsenito na corrente sanguínea através de uma enzima não
enzimática com a glutationa. O arsenito é mais tóxico que o arsenato e essa
etapa é chamada de biotransformação. No interior das células esse arsenito é
metilado à ácido monometilarsênico (MMA) e ácido dimetilarsênico (DMA). As primeiras
provas a serem eliminadas são as formas inorgânicas e após 8h são eliminas as
formas metiladas. O tempo de meia vida do arsênio é de 10h e 50-80% é eliminado
em até 3 dias e a meia vida biológica das formas metiladas é de 30 dias.
As
ações biológicas do As estão intimamente ligadas às suas formas químicas e a
seus estados de oxidação (sua especiação química) e a toxicidade também está
relacionada as suas ações. A exposição aguda e crônica desse elemento pode ser
associado a aparições de cânceres, doenças cardiovasculares, desordens
neurológicas, entre outros. As patologias resultantes da contaminação humana
pelo As advêm da produção endógena de espécies oxigenadas e nitrogenadas
reativas (ROS e RNS, respectivamente). Uma vez absorvido, os compostos do arsênico
sofrem biotransformações. No organismo, o arsênio não é capaz de se ligar às
proteínas do plasma, sendo rapidamente removido do sangue e distribuído aos
tecidos de forma ampla.
O
estresse oxidativo produzido por esses radicais, especialmente os radicais OH e
ONOO, produzidos durante a biotransformanção dos arsenicais, pode peroxidar
lipídios, formar adutos e quebras nas moléculas de DNA e aberrações
cromossômicas, o que acarreta desde alterações na pele até vários tipos de
câncer.
3. LEGISLAÇÃO
A
legislação vigente no Brasil que dispõe sobre os limites máximos aceitáveis de
contaminantes inorgânicos nos alimentos é a RDC nº 42, de 29 de agosto de 2013.
Sendo essa a mesma utilizada pelo Mercosul.
A
legislação vigente não se aplica aos alimentos para lactantes e crianças de
primeira infância. Porém, há uma Consulta Pública nº 209, de 20 de junho de
2016, que dispõe sobre Estabelece os limites máximos tolerados (LMT) dos
contaminantes arsênio inorgânico, cádmio total, chumbo total e estanho inorgânico
em alimentos infantis. Nessa consulta pública está estabelecido que o limite
máximo tolerado para alimentos à base de cereais para alimentação infantil será
de 0.10mg/Kg que corresponde à 100ppb. Contudo, essa Consulta Pública está em
proposta recebendo sugestões para estabelecer o limite toxicológico de alguns
contaminantes sendo um deles o arsênio. O FDA em abril de 2016 propôs um limite
de 100ppb para cereais a base de arroz.
Portanto,
os níveis de limite máximo tolerado da ANVISA pode-se observar que segue os
mesmos valores que o FDA estipulou meses antes.
4. DISCUSSÃO
O
arsênio é um elemento químico que está presente nos organismos vivos
apresentando ações essenciais no organismo, porém é sabido que o mesmo
apresenta efeito carcinogênico para humanos segundo a Agência Internacional de
Pesquisa sobre Câncer. Sabe-se que o
arsenato é biotransformado à arsenito no organismo e esse tem a capacidade de
reagir com grupamentos tiol de resíduos de cisteína formando uma estrutura
estável, o que acarreta uma inativação de proteínas e enzimas, além de
interferir na replicação e reparo do DNA.
O arsênio é encontrado no solo, ar e
alimentos. Em 2013, foram encontrados níveis elevados de As nas amostras de
solo (50-1000mg/g) coletados no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Esse
valor é muito superior ao limite recentemente indicado pelo Codex Alimentarius
que o valor máximo permitido seria de 0.3mg/Kg para arsênio total ou arsênio inorgânico
e é o mesmo limite máximo que preconiza a RDC nº 42, de 29 de agosto de 2013
para alimentos como cereais a base de arroz para adultos, que é o mesmo nível
utilizado pelo Mercosul. No Brasil, foram feitas coletas de amostras de arroz e
os níveis de arsênio se mantiveram superiores ao determinado pelo Codex
Alimentarius e as formas inorgânicas e DMA foram as espécies mais abundantes. Outros estudos utilizando
amostras de alimentos infantis como biscoitos, cereais à base de arroz, entre
outros, a concentração de As inorgânico encontrada foi significativamente maior
que nos cereais à base de trigo, expondo principalmente crianças celíacas a
altos riscos. Além disso, quando a ingestão de As por crianças entre 8 e 12
meses foi calculada, mostrou-se elevada. Algo interessante a ser pautato é que
o FDA em abril desse ano, 2016, delimitou um novo limite para 100ppb visto que
foram encontrados produtos no mercado que apresentavam um limite superior a
100ppb e isso geraria prejuízos às crianças de 8-12 meses que apresentam um
sistema hepático pouco desenvolvivo para a metabolização do arsênio e geraria
uma toxicidade mais eminente que em adultos. Visto isso, sabendo dos riscos que
o elevado nível de arsênio poderia causar em crianças e ainda, que na atual
legislação não possuia nenhuma resolução ou decreto que norteasse os níveis
máximo que esses alimentos poderiam conter, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) em junho desse ano, 2016, pouco tempo depois do FDA, propôs
uma Consulta Pública de número 209, de 20 de junho de 2016, que dispõe sobre
Estabelece os limites máximos tolerados (LMT) dos contaminantes arsênio
inorgânico, cádmio total, chumbo total e estanho inorgânico em alimentos
infantis. Essa Consulta Pública ainda recebe sugestões de limites, porém, nesse
documento aberto está descrito que o limite máximo para cereais a base de arroz
é de 100ppb que foi o estipulado pelo FDA. Assim, visto os ocorridos no Brasil e os
riscos evidentes que o arsênio pode proporcionar nos indivíduos, principalmente
nas crianças, deve-se monitorar os níveis desses alimentos mais fortemente.
5. CONCLUSÃO
O
arsênio causa muitos danos ao indivíduos e principalmente em crianças que pode
gerar problemas neurológicos até mesmo a morte devido a alta toxicidade que o
arsênio pode causar. Assim, até pouco tempo os alimentos infantis não
apresentavam respaldo da legislação quanto aos níveis máximos que seriam
permitidos desse elemento. Os produtos alimentares adultos apresentam um limite
superior máximo estipulado de 0.3mg/Kg, mesmo utilizado para o Mercosul, e a
absorção e metabolização desse elemento depende de fatores como idade e ainda fatores
inerentes ao consumidor. Após um ocorrido nos Estados Unidos da América, o FDA
determinou um novo limite para produtos infantis a base de cereais de arroz
vista a contaminação maior que os demais produtos e a ANVISA ainda está
implementando uma nova resolução para determinar os limites máximos para esses
alimentos. Assim, ainda sem a implementação de uma legislação que respalde o
consumidor no consumo desses alimentos infantis a base de arroz sem perigos
eminentes, os nossos bebês não estariam totalmente protegidos dos riscos que o
arsênio pode causar.
REFERÊNCIAS
Juliana Monteiro Bastos da Silva et. al. Arsênico - saúde: uma relação que exige vigilância. Vigilância Sanitária em Debate 2014; 2(1): 57-63.
Juliana M. O. Souza; Maria F. H.
Carneiro et. al. Arsênio e arroz:
toxicidade, metabolismo e segurança alimentar. Quim.
Nova, Vol. XY, No. 00, 1-10, 200_.
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Resolução de Diretoria colegiada nº
42, de 29 de agosto de 2013. Dispõe sobre Estabelece os limites máximos
tolerados (LMT) dos contaminantes arsênio inorgânico, cádmio total, chumbo
total e estanho inorgânico em alimentos infantis.
Disponível
em: <http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/Metals/ucm319870.htm>
Acesso em: 03/08/2016
Disponível
em: <https://www.federalregister.gov/articles/2016/04/06/2016-07840/inorganic-arsenic-in-rice-cereals-for-infants-action-level-draft-guidance-for-industry-supporting>
Acesso em: 03/08/2016.
Disponível
em: <http://www.fda.gov/ohrms/dockets/ac/02/briefing/3852b1_01.htm>
Acesso em: 03/08/2016.
Disponível
em: <http://portal.anvisa.gov.br/consultas-publicas#/visualizar/315604>
Acesso em: 03/08/2016.
Disponível
em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2016/06/anvisa-abre-consulta-sobre-limite-toxicologico-em-comida>
Acesso em: 03/08/2016.
Disponível
em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2862128/(1)CP+209-2016+-+Proposta+de+norma+em+discuss%C3%A3o.pdf/fbb4af9d-c374-4595-8d6e-097c11d870e1>
Acesso em: 03/08/2016.
O arsênio ocorre naturalmente na água, solo e rochas, mas seus níveis podem ser mais altos em algumas áreas do que outros. Ele entra facilmente na cadeia alimentar e pode acumular-se em quantidades significativas em animais e plantas, algumas das quais são consumidas por seres humanos. Como resultado das atividades humanas, a poluição por arsênio tem aumentado.
ResponderExcluirAs principais fontes de poluição por arsênio incluem certos pesticidas e herbicidas, conservantes de madeira, fertilizantes fosfatados, resíduos industriais, atividades de mineração, queima de carvão e fundição. O arsênio frequentemente drena para as águas subterrâneas, que são fortemente poluídas em certas partes do mundo. Das águas subterrâneas, o arsênio encontra seu caminho em poços e outros suprimentos de água que podem ser usados para irrigação e cozimento de culturas. O arroz é particularmente suscetível à contaminação por arsênio, por três razões:
1) É cultivada em campos alagados (arrozais) que requerem grandes quantidades de água de irrigação. Em muitas áreas, esta água de irrigação está contaminada com arsênio.
2) O arsênio pode se acumular no solo dos arrozais, agravando o problema.
3) O arroz absorve mais arsênio da água e do solo em comparação com outras culturas alimentares comuns.
Após ler a pesquisa, devo dizer que achei de extrema importância para o público ganhar conhecimento nessa área. Os alimentos infantis devem ser analisados cuidadosamente, entre tantas outras coisas, é uma fase intensa de desenvolvimento. É de conhecimento geral que arsênio pode ser danoso à saúde, mas saber que ele está tão próximo em produtos infantis é preocupante e acredito que nem todos possuem essa percepção. É um alivio saber que a legislação foi alterada. Atualmente a RDC Nº193/2017 é a que está em vigor. Nela determina o LMT como 0,15 mg/Kg, o que equivale a 150ppb, enquanto a FDA ainda mantém os 100ppb. Teria sido mais interessante se a RDC Nº193/2017 tivesse se mantido nos 0,10mg/kg para alimentos à base de cereais como constava na consulta, mas mesmo assim já é um avanço. Nessa RDC há os valores limites para alguns produtos infantis, o que garante mais seguridade para a população, já que esse componente é altamente tóxico.
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa! Foi esclarecedora.
O arsênio (As) é um elemento tóxico classificado como pertencente ao grupo 1A de carcinogenicidade pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC). A exposição a este metaloide pode levar a vários riscos à saúde, especialmente muitos tipos de câncer como de pulmão, rim, pele e bexiga. As principais fontes de exposição ao As são por meio da ingestão de água e alimentos contaminados. O arroz (Oryza sativa L.) é um dos alimentos que pode conter contaminação por altas concentrações de As, uma vez que possui maior capacidade de absorver este elemento e por sua forma de cultivo ser realizada, na grande maioria, em solos alagados com condições anaeróbicas. Neste trabalho, o As total (tAs) foi quantificado por espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) nos principais tipos e marcas de arroz (n=103) e cereais infantis (n=27) comercializados e consumidos pela população brasileira. As concentrações de tAs encontradas nas amostras de arroz foram comparadas com os limites máximos de As permitidos por agências regulatórias, bem como as concentrações obtidas em outros estudos. Adicionalmente, foi avaliada a estimativa de ingestão diária de As do arroz consumido.
ResponderExcluirFONTE:
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/188744#:~:text=A%20exposição%20a%20este%20metaloide,arroz%20(Oryza%20sativa%20L.)