Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Dióxido de titânio na alimentação infantil e possível toxicidade




1.       Descrição

O dióxido de titânio (TiO2) é um derivado mineral com muitas aplicações industriais. Podemos citar como exemplo seu uso em tintas, plásticos, papéis, medicamentos, protetores solares e cremes dentais. Na indústria alimentícia esse pigmento é utilizado como um corante branco, principalmente em balas e doces infantis.

O seu uso como aditivo alimentício é aprovado pela ANVISA e pode ser justificado pois, inicialmente, esse pó foi classificado como sendo pouco solúvel e biologicamente inerte, ou seja, sem perigos para a saúde humana. Porém, com o avanço da tecnologia e o crescente uso do dióxido de titânio na forma de nanopartículas (tamanho de partícula <100 nm) muitos pesquisadores identificaram a necessidade de uma nova avaliação sobre os efeitos desse pigmento, principalmente dessa nova apresentação em nanopartículas. Isso porque ao alterar o tamanho da partícula altera-se também as propriedades físico-químicas e o perfil toxicológico de um composto, e o entendimento sobre essas alterações se mostrou primordial para determinar a real segurança de sua utilização. Hoje podemos observar a publicação de diversos artigos que discutem a toxicidade das nanopartículas de dióxido de titânio (NP TiO2).

2.       Fundamentos bromatológicos

De acordo com alguns estudos in vitro realizados, as NP TiO2 apresentaram potencial citotóxico e genotóxico, principalmente por estarem associadas com a formação de espécies reativas de oxigênio (ROS) intracelular, causando dano ao DNA e morte celular. Entretanto, a literatura sobre esse tema é muito extensa e controversa, devido à falta de caracterização das partículas e padronização dos métodos de pesquisa. Além disso há pesquisadores que defendem que a toxicidade das NP TiO2 é baixa, uma vez que não foi observada uma absorção expressiva dessas nanopartículas em estudos em humanos.

Em respostas a essas pesquisas, o dióxido de titânio entrou em um programa de reavaliação dos nanomateriais utilizados em alimentos que será finalizado em 2020, de acordo com a resolução da European Food Safety Authority (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos). Provavelmente, até a finalização das análises dos dados gerados por este estudo as NP TiO2 continuarão sendo usadas pela indústria alimentícia sem restrições, e sem o conhecimento do consumidor.  

3.       Legislação

Atualmente não há nenhuma legislação que controle o uso das nanopartículas como aditivos alimentícios ou que exija a informação do uso dessa tecnologia no rótulo dos produtos. Foi apontado em um estudo que aproximadamente 36% do dióxido de titânio encontrado em alimentos está no tamanho de nanoparticulas, e esse valor foi equivalente com o determinado em outro estudo que quantificou uma variação de 18–44% de NP TiO2 em uma marca de chicletes. Devido a prevalência desse aditivo em alimentos infantis foi estimado que as crianças consomem por dia 2x mais dióxido de titânio que os adultos (cerca de 2 mg/peso corporal/dia), podendo esse valor aumentar com um uso excessivo de doces e balas. E não há como o consumidor estimar o valor diário ingerido, uma vez que a legislação não prevê a discriminação no rótulo da concentração dos aditivos alimentícios.     

4.       Discussão

Além da presença de estudos avaliando a toxicidade ambiental e ocupacional das NP TiO2, existem inúmeros trabalhos discutindo os efeitos biológicos causados pelo consumo dos produtos com esse pigmento. Devido a esses trabalhos, as autoridades regulatórias estão reavaliando o perfil de segurança da utilização desse composto. A IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer) classificou o dióxido de titânio como possivelmente cancerígeno (grupo 2B) para o ser humano quando inalado. Apesar disso, a sua toxicidade por via oral ainda não está completamente elucidada, havendo estudos que indicam que não há nenhuma evidência de toxicidade oral induzida pela administração do composto.

Entretanto, devido a literatura controversa, ainda não podemos mensurar quais são os riscos, a curto, médio e longo prazo, que o consumo desse mineral pode estar ocasionando na população. Principalmente devido à falta de controle na utilização de suas nanopartículas. Nesse ínterim, as NP TiO2 continuarão sendo consumidas majoritariamente por crianças e adolescentes, população que inspira maior precaução frente a exposição a agentes carcinogênicos.  

5.       Referências

SHA B. et al. The potential health challenges of TiO2 nanomaterials. Journal of Applied Toxicology. V. 35, Ed. 10, Outubro 2015, Pag. 1086–1101.
CHEN XX. et al. Characterization and Preliminary Toxicity Assay of Nano-Titanium Dioxide Additive in Sugar-Coated Chewing Gum. Small Nano Micro. V. 9, Ed. 9-10, 27 de Maio de 2013, Pag. 1765–1774.
WARHEIT D. B. How to measure hazards/risks following exposures to nanoscale or pigment-grade titanium dioxide particles. Toxicology Letters. V. 220, Ed. 2, 4 de Julho de 2013, Pag. 193–204
WANG J. et al. Acute toxicity and biodistribution of different sized titanium dioxide particles in mice after oral administration. Toxicology Letters. V. 168, Ed. 2, 30 de Janeiro de 2007, Pag. 176–185
WARHEIT D. B., DONNER E. M. Risk assessment strategies for nanoscale and fine-sized titanium dioxide particles: Recognizing hazard and exposure issues. Food and Chemical Toxicology - Nanotoxicology and Nanomedicine. V. 85, Novembro 2015, Pag. 138–147.
SHI H. et al. Titanium dioxide nanoparticles: a review of current toxicological data. Part Fibre Toxicol. 15 de Abril de 2013.
SONG ZM. et al. Biological effect of food additive titanium dioxide nanoparticles on intestine: an in vitro study. Journal of Applied Toxicology. V. 35, Ed. 10, Outubro 2015, Pag. 1169–1178.
URRUTIA-ORTEGA I. et al. Food-grade titanium dioxide exposure exacerbates tumor formation in colitis associated cancer model. Food and Chemical Toxicology. V. 93, Julho 2016, Pag. 20–31.
JONES K. et al. Human in vivo and in vitro studies on gastrointestinal absorption of titanium dioxide nanoparticles. Toxicology Letters. V. 233, Ed. 2, 4 de Março de 2015, Pag. 95–101

ANVISA. Informe Técnico n. 68. de 3 de setembro de 2015. 

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