Dióxido de titânio na alimentação infantil e possível
toxicidade
O dióxido de titânio (TiO2) é um derivado mineral
com muitas aplicações industriais. Podemos citar como exemplo seu uso em
tintas, plásticos, papéis, medicamentos, protetores solares e cremes dentais.
Na indústria alimentícia esse pigmento é utilizado como um corante branco, principalmente
em balas e doces infantis.
O seu uso como aditivo alimentício é aprovado pela ANVISA e
pode ser justificado pois, inicialmente, esse pó foi classificado como sendo
pouco solúvel e biologicamente inerte, ou seja, sem perigos para a saúde humana.
Porém, com o avanço da tecnologia e o crescente uso do dióxido de titânio na
forma de nanopartículas (tamanho de partícula <100 nm) muitos pesquisadores identificaram
a necessidade de uma nova avaliação sobre os efeitos desse pigmento,
principalmente dessa nova apresentação em nanopartículas. Isso porque ao
alterar o tamanho da partícula altera-se também as propriedades físico-químicas
e o perfil toxicológico de um composto, e o entendimento sobre essas alterações
se mostrou primordial para determinar a real segurança de sua utilização. Hoje
podemos observar a publicação de diversos artigos que discutem a toxicidade das
nanopartículas de dióxido de titânio (NP TiO2).
2.
Fundamentos bromatológicos
De acordo com alguns estudos in vitro realizados, as NP TiO2 apresentaram potencial
citotóxico e genotóxico, principalmente por estarem associadas com a formação
de espécies reativas de oxigênio (ROS) intracelular, causando dano ao DNA e morte
celular. Entretanto, a literatura sobre esse tema é muito extensa e controversa,
devido à falta de caracterização das partículas e padronização dos métodos de
pesquisa. Além disso há pesquisadores que defendem que a toxicidade das NP TiO2
é baixa, uma vez que não foi observada uma absorção expressiva dessas
nanopartículas em estudos em humanos.
Em respostas a essas pesquisas, o dióxido de titânio entrou
em um programa de reavaliação dos nanomateriais utilizados em alimentos que
será finalizado em 2020, de acordo com a resolução da European Food Safety
Authority (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos). Provavelmente,
até a finalização das análises dos dados gerados por este estudo as NP TiO2
continuarão sendo usadas pela indústria alimentícia sem restrições, e sem
o conhecimento do consumidor.
Atualmente não há nenhuma legislação que controle o uso das
nanopartículas como aditivos alimentícios ou que exija a informação do uso
dessa tecnologia no rótulo dos produtos. Foi apontado em um estudo que
aproximadamente 36% do dióxido de titânio encontrado em alimentos está no
tamanho de nanoparticulas, e esse valor foi equivalente com o determinado em
outro estudo que quantificou uma variação de 18–44% de NP TiO2 em
uma marca de chicletes. Devido a prevalência desse aditivo em alimentos
infantis foi estimado que as crianças consomem por dia 2x mais dióxido de
titânio que os adultos (cerca de 2 mg/peso corporal/dia), podendo esse valor
aumentar com um uso excessivo de doces e balas. E não há como o consumidor
estimar o valor diário ingerido, uma vez que a legislação não prevê a discriminação
no rótulo da concentração dos aditivos alimentícios.
Além da presença de estudos avaliando a toxicidade ambiental
e ocupacional das NP TiO2, existem inúmeros trabalhos discutindo os
efeitos biológicos causados pelo consumo dos produtos com esse pigmento. Devido
a esses trabalhos, as autoridades regulatórias estão reavaliando o perfil de
segurança da utilização desse composto. A IARC (Agência Internacional de
Pesquisa sobre Câncer) classificou o dióxido de titânio como possivelmente
cancerígeno (grupo 2B) para o ser humano quando inalado. Apesar disso, a sua
toxicidade por via oral ainda não está completamente elucidada, havendo estudos
que indicam que não há nenhuma evidência de toxicidade oral induzida pela
administração do composto.
Entretanto, devido a literatura controversa, ainda não
podemos mensurar quais são os riscos, a curto, médio e longo prazo, que o
consumo desse mineral pode estar ocasionando na população. Principalmente
devido à falta de controle na utilização de suas nanopartículas. Nesse ínterim,
as NP TiO2 continuarão sendo consumidas majoritariamente por
crianças e adolescentes, população que inspira maior precaução frente a
exposição a agentes carcinogênicos.
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