Figura 1: Adoçante dietético líquido a
base de Sucralose da marca Linea.
O consumo de adoçantes a base de
sucralose pode provocar intoxicação por hidrocarbonetos policíclicos aromáticos
clorados (HPAC’s)?
Descrição do Produto: O Linea
Adoçante Líquido Sucralose é um edulcorante derivado da
cana-de-açúcar que contém zero calorias. Segundo a marca, é um adoçante seguro
que toda família pode consumir, sendo 100% eliminado pelo organismo não elevando
o açúcar no sangue e mantendo seu poder adoçante em altas temperaturas.
A sucralose é um derivado da sacarose
e hoje é o principal adoçante consumido no mundo. O açúcar comum possui átomos
de carbono, hidrogênio e oxigênio (C12H22O11).
Na sucralose (C12H19Cl3O8) alguns
átomos de oxigênio foram substituídos pelo átomo de cloro. Dentre outras
características, isso confere a ela um poder de dulçor maior. Entretanto, foi
observado que estes átomos de cloro aumentam não só o poder adoçante dela, mas
a sua reatividade (de Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R.).
Pesquisas recentes apontaram os riscos
do consumo da sucralose especificamente em alimentos quentes como café, chás,
bolos e tortas. Os resultados obtidos mostraram que quando aquecida a sucralose
tona-se quimicamente instável e libera compostos potencialmente tóxicos e
cumulativos no organismo humano, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos
clorados (HPAC’s) (Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R.).
A ativação metabólica dos HPAC’s não acontece pelo contato direto com o material genético, eles entram no organismo e sofrem ativações enzimáticas através do citocromo P450, formando metabólitos com elevada natureza eletrofílica denominados carcinógenos efetivos. Os novos compostos podem interagir com o DNA e RNA, possibilitando o surgimento de tumores.
Fundamentos
Bromatológicos:
O
Linea Adoçante Líquido Sucralose, produto à base de sucralose escolhido para exemplificar este trabalho, possui como ingredientes água,
edulcorantes artificiais como sucralose e acesulfame de potássio, espessante
carboximetilcelulose, conservante benzoato de sódio e ácido cítrico como
acidulante. Este produto, segundo a marca, não contém Glúten.
Tabela 1: Tabela nutricional para uma porção
de 3 gostas do Linea Adoçante Líquido Sucralose 75mL.
A sucralose é um derivado dissacarídeo
que consiste em unidades 4-cloro-4-desoxi-alfa-D-galactopiranose e
1,6-dicloro-1,6-didesoxi-beta-D-frutofuranose ligadas por uma ligação
glicosídica. Dentre as suas funções é classificado como adoçante. É um derivado
dissacarídeo e um composto organoclorado (PubChem).
A sucralose é um derivado do açúcar
que difere deste pela adição de átomos de cloro. Essa modificação química
confere um poder de adoçamento de até 400 vezes maior que a sacarose. A
sucralose possuí excelente solubilidade em água e é facilmente absorvida pelo organismo.
A sucralose foi planejada para atender o público de pessoa com diabetes, entretanto, por possuir praticamente nenhuma caloria, também tem alta adesão pelas pessoas que buscam uma alimentação menos calórica para emagrecer.
Legislação
Segundo
a ANVISA, o adoçante líquido é classificado como edulcorante isento de registro
sanitário (RDC nº 40/2018) e segundo a portaria n° 38, de 13 de janeiro de
1998, Alimentos
para Fins Especiais como o adoçante, são definidos como: “São os alimentos especialmente
formulados ou processados, nos quais se introduzem modificações no conteúdo de
nutrientes, adequados à utilização em dietas, diferenciadas e ou opcionais,
atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas
específicas”.
Segundo a RDC nº 149/2017 os limites permitidos nos adoçantes de mesa são a quantum satis, ou seja, uma quantidade suficiente para adoçar.
Discussão e
Conclusão
Em
seu sítio eletrônico a marca Linea alega que “toda família pode consumir”, “é
um doçante seguro, 100% eliminado pelo nosso organismo” e que “mantém seu poder
adoçante em altas temperaturas”. De acordo com as informações expostas neste
texto, a utilização do adoçante em temperaturas elevadas pode fazer com que
haja a formação de HPAC’s que sim, ao contrário do que afirma a marca, estudos
apontam que estes são absorvidos pelo organismo provocando, inclusive,
alterações no material genético de quem o está consumindo.
A legislação vigente, lamentavelmente, até a data de publicação deste texto, não obriga que produtos como este tenham dizeres em seu rótulo que contraindiquem a utilização em alimentos quentes. Somado a isso, os fabricantes desse tipo de alimento recomendam e fazem fortes campanhas para que também sejam utilizados em produtos como bolos e biscoitos que precisam ir ao forno, logo, podendo chegar a temperaturas superiores a 100 ºC.
Sendo assim, é preciso que o órgão responsável por regular essa classe de alimentos reveja suas diretrizes e atente-se aos riscos que o consumo indiscriminado e indevido do mesmo pode causar, sempre buscando informar de forma clara e objetiva a população.
Referências
Bibliográficas
*de Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R. Thermal degradation of sucralose: a combination of analytical methods to determine stability and chlorinated byproducts. Sci. Rep. 5, 9598; DOI:10.1038/srep09598 (2015).
*Douglas L. Bernardo*, Karina A.
Barros, Renato C. Silva e Antonio C. Pavão Departamento de Química Fundamental,
Universidade Federal de Pernambuco, 50740-540 Recife – PE, Brasil CARCINOGENICIDADE
DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS Quim. Nova, Vol. 39, No. 7,
789-794, 2016
*Linea Adoçante Líquido Sucralose 75mL
: https://www.lineaalimentos.com.br/410010021-linea-adocante-liquido-sucralose-75ml/p.
Acessado em 21/09/2020.
*Informações acerca da estrutura química da sucralose: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/71485#section=BioAssay-Results. Acessado em 01/10/2020.
Por: Naiara
Ferreira - DRE 116170822
Muito elucidativo, mais um exeplo da manipulação da indústria para venda de um produto alimentício. A legislação precisa ser atualizada com as informações dos malefícios quando utilizado esse produto em temperaturas altas, principalmente hoje em dia que a alimentação e dietas low carbs ou de baixo consumo de açúcar se tornam cada vez mais comuns.
ResponderExcluirMuito relevante a publicação feita e poucas pessoas sabem sobre isso, adorei a idéia de se escrever um texto a respeito dessa particularidade da sucralose.
ResponderExcluirEu queria aproveitar e complementar nessa publicação pois eu li o mesmo artigo que foi citado ao longo do texto que mostra o risco de se aquecer o adoçante sucralose. Esse estudo mostrou que ao aquecer a sucralose em banho-maria por 2 minutos em média, foi identificado a liberação de compostos organoclorados tanto no gás da fervura como na própria fase sólida (que é o caramelo formado após a sua fusão). Isso é algo extremamente importante e que deveria haver um controle mais rígido quanto a sua comercialização, visto que o seu uso é liberado sem restrições pelos orgãos de segurança alimentar do mundo inteiro, tanto pelo FDA, JECFA, FAO e pela ANVISA.
Essa classe de compostos, chamados de organoclorados é altamente tóxica e prejudicial por apresentarem efeitos cumulativos no organismo, podendo causar lesões renais, no fígado, no cérebro, no coração, na medula óssea, no córtex da supra-renal e até mesmo no DNA.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNota-se que a indústria alimentícia rotula seus produtos de maneira que induz o consumidor a pensar que alimentos intitulados "dietéticos" são mais saudáveis. Quando na realidade, quando paramos para analisar seus componentes, muitas vezes, nos deparamos com casos como este. A legislação de fato está mal escrita, e abre diversas brechas para que os fabricantes insiram seus produtos no mercado, sem alertar sobre seus riscos na embalagem. Não bastasse os perigos de se aquecer a sucralose, a marca ainda sugere que seu público faça isso. Além disso, a marca alega que toda família pode consumir, fato que também não pode ser garantido, uma vez que conta com acessulfame de potássio em sua composição, edulcorante artificial que não é aconselhado para quem precisa limitar a ingestão de potássio devido a alterações renais. No fim, com rótulos tão confusos, tem se tornado cada vez mais difícil, entendermos com clareza o que estamos consumindo e como podemos ou não manusear os alimentos.
ResponderExcluirOs adoçantes são muito utilizados por pessoas que não querem consumir o açúcar. Por isso são também indicados para diabéticos. Mas será que essa substituição é saudável? O post fala sobre o uso de Sucralose como base de adoçantes.
ResponderExcluirA sucralose é um edulcorante não-calórico, descoberto em 1976 por pesquisadores britânicos, e é aprovado globalmente para uso em alimentos e bebidas. É derivado da sacarose pela substituição seletiva de três grupos hidroxilo por átomos de cloro. A sucralose tem uma potência de doçura de cerca de 600 vezes maior que a sacarose, assim a adição de quantidades muito pequenas de sucralose pode ser usada para adoçar alimentos e bebidas. Ao contrário da sacarose, a sucralose não é digerida ou metabolizada em energia, portanto, não há calorias obtidas a partir da sucralose, também não afetando os níveis de glicose no sangue (TORLONI et al, 2007).
A sucralose pode ser usada como adoçante de mesa, em formulações secas (como refrescos e sobremesas instantâneas), em aromatizantes, conservantes, temperos, molhos prontos, compotas, etc. (TORLONI et al, 2007). Estudos recentes demonstram que a sucralose submetida a temperaturas maiores que 98ºC é decomposta em subprodutos extremamente tóxicos e com possível potencial cancerígeno (OLIVEIRA; MENEZES; CATHARINO, 2015). Estudos de caso identificaram a sucralose como um agente causador no desencadeamento de enxaquecas. Em um estudo, sugeriu-se que a sucralose seja o possível agente causador do aumento da incidência de doença inflamatória intestinal entre os canadenses devido à sua ação inibidora sobre bactérias intestinais (QIN, 2011).
A sucralose é um adoçante não nutritivo, e esses podem estar ligados a doenças como o Alzheimer, a depressão, a obesidade e o diabetes Mellitus tipo 2. De acordo com estudos realizados pela Faculdade de Medicina da Universidade de Boston (Estados Unidos), os edulcorantes artificiais não nutritivos podem aumentar o risco de AVC e demência, caso sejam ingeridos diariamente. Diante do exposto, chega-se a conclusão de que o consumo de adoçantes a base de sucralose pode levar a outras doenças, não sendo uma alternativa benéfica para a substituição do açúcar na dieta diariamente.
De acordo com a RDC de número 27, de 6 de agosto de 2010, os adoçantes dietéticos e de mesa são isentos de registro sanitário. O adoçante de mesa necessita ter os edulcorantes e veículos previstos nos Regulamentos Técnicos específicos.
Referências:
1 - GOMES, Guilherme Garcia Marinho. Sacarina e sucralose no potencial de desenvolvimento de doenças. 2017. 17 f. Artigo (Graduação em Nutrição) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2017.
2 - RDC, nº 27 de 6 de agosto de 2010.
A sucralose é um edulcorante, um adoçante não-nutritivo e é um composto quimiossensorial, com a capacidade de produzir um sabor intensamente doce com poucas ou nenhuma caloria. Eles são frequentemente usados em concentrações muito inferiores às dos adoçantes calóricos. Logo, são utilizados de forma recorrente no mercado global de alimentos e bebidas.[1][2]
ResponderExcluirContudo, como exposto no próprio texto da Naiara e complementado pelo Diogo, a sucralose está associada a diversos tipos de doenças. Um exemplo, é o estudo realizado por Pepino[3], no qual foi visto efeitos deletérios aumentando as concentrações de glicose após uma exposição aguda e de 7 dias à sucralose. Também relatou uma diminuição na sensibilidade à insulina, juntamente com o aumento das concentrações de insulina e peptídeo C, o que definitivamente não é bom quando se trata de um produto disponibilizado e aprovado pela ANVISA e associação de diabetes.
Além disso, um estudo sobre o efeito da sucralose no metabolismo da glicose e hormônios intestinais[6], relatou que a sucralose é capaz de estimular os receptores do sabor doce na língua e até mesmo no intestino. Desse modo, transmite sinais para o cérebro e estimula a liberação de insulina no plasma, que pode resultar em resistência à insulina, a longo prazo, e, por conseguinte, a diabetes. Outro ponto desse mesmo estudo, é que a sucralose pode estar envolvida na alteração da quantidade e dos tipos de bactérias consideradas benéficas e, também, as “maléficas”, que pode resultar no processo de disbiose, levando à sintomas como diarreia, gases e intolerância à lactose. E, ainda, devido a essa alteração na flora, pode enviar sinais ao cérebro, culminando no desequilíbrio da liberação dos hormônios associados ao controle da fome e, dessa forma, levando à obesidade.
Portanto, nota-se que embora a embalagem e propaganda dissertem sobre os “benefícios” que a sucralose pode fornecer aos seus consumidores e, principalmente, àqueles que possuem diabetes, os estudos supracitados apresentam um panorama totalmente distinto. E é neste ponto que entra a regulamentação da ANVISA. Sobre os edulcorantes, estamos realmente seguros? A RDC nº 27, de 6 de agosto de 2010, que dispõe sobre as categorias de alimentos e embalagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário, salienta que adoçantes dietéticos e mesa são isentos de registro sanitário, cujos os edulcorantes e veículos estejam previstos em Regulamentos Técnicos específicos; enquanto a RDC n° 149, de 29 de março de 2017, que autoriza o uso de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia em diversas categorias de alimentos e dá outras disposições, dispõe que os limites permitidos nos adoçantes de mesa são a quantum satis, ou seja, uma quantidade suficiente para adoçar. No entanto, a sensação de doçura é subjetiva, então a quantidade que para mim seria suficiente para adoçar algo, pode não ser para outrem e se não há um limite específico de restrição, como garantir a segurança do consumidor, seja ele com comorbidade ou não? É extremamente necessária a atualização dessa regulamentação conforme aparecem estudos técnicos-científicos com os tipos de problemas que não só a sucralose, mas outros edulcorantes podem causar.
REFERÊNCIAS:
Gardner C, et al. Nonnutritive sweeteners: current use and health perspectives: a scientific statement from the American Heart Association and the American Diabetes Association. Diabetes Care. 2012;35:1798–1808.
Mattes RD, Popkin BM. Nonnutritive sweetener consumption in humans: effects on appetite and food intake and their putative mechanisms. Am J Clin Nutr. 2009;89:1–14.
Pepino MY, et al. Sucralose affects glycemic and hormonal responses to an oral glucose load. Diabetes care. 2013;36(9):12-2221
Suez J, Korem T, et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature. 2014;514(7521):181–6.
Samar Y Ahmad, James K Friel, Dylan S Mackay, Efeito da sucralose e do aspartame no metabolismo da glicose e hormônios intestinais. Nutrition Reviews. V78(9):725–746. 2020