Estariam as empresas que comercializam pó de café sendo desonestas para com seus consumidores?
LEIA MAIS...Descrição
A cafeína é hoje
considerada como a substância psicoativa mais consumida em todo o mundo, por
pessoas de todas as idades, independente do sexo e da localização geográfica.
Através de suas fontes comuns na dieta, que são chá, café, produtos de
chocolate e refrigerantes, o consumo mundial de cafeína é estimado em mais de
120.000 toneladas por ano [5]. Entre os alimentos que contém este alcaloide, o
café é o que mais contribui para a sua ingestão.
Em pesquisa anual
realizada desde 2003 pela InterSciense sobre consumo de café no Brasil mostra
que se manteve em 2006 a tendência de crescimento em todas as classes sociais e
faixas etárias, com certa estabilidade apenas no segmento mais jovem (15 a 19
anos). Constatou-se também que as pessoas estão tomando mais xícaras de café
por dia e que aumentou em 4% o consumo fora do lar, ou que está relacionado com
a melhor qualidade e o aumento do segmento de cafeterias, um exemplo das redes
estrangeiras que estão entrando no mercado [6]
A relação entre o consumo
de cafeína e o possível desenvolvimento de algumas doenças tem despertado há
muito tempo o interesse de cientistas [4]. Apesar de não existirem evidências
de que a ingestão de cafeína em doses moderadas (~300 mg/dia) sejam
prejudiciais à saúde de um indivíduo normal, esta substância vem sendo
continuamente estudada pois ainda persistem muitas dúvidas e controvérsias
quanto aos seus efeitos adversos na saúde [3]
A quantidade de cafeína
em café é dependente de uma série de fatores como a variedade da planta, método
de cultivo, condições de crescimento, além de aspectos genéticos e sazonais [2,
5]. No caso da bebida, por exemplo, além da quantidade de pó, influenciam
também o tipo do produto (torrado ou instantâneo, descafeinado ou regular) e o
processo utilizado no seu preparo [2]. Os valores determinados por CAMARGO e
TOLEDO (1998), situaram-se na faixa de 0,43 a 0,85 mg/ml para as bebidas
preparadas com cafés em pó.
Através do estudo de NOGUEIRA, L.S. (2019) foi possível observar que existe um grande número de embalagens que possuem alguma inconformidade com os itens obrigatórios proposto pela legislação vigente, seja pela falta de informação ou apresentação incompleta desta. Essas informações podem interferir diretamente na escolha do produto e na indução de erros por parte do consumidor
Fundamentos
bromatológicos
A composição química do
grão verde de café é bastante complexa. Durante o processo de torrefacção
ocorrem, ainda, diversas reações gerais, através das quais se degradam e / ou
formam inúmeros compostos. Estima-se que o grão de café torrado possua mais de
2000 compostos químicos alguns destes com atividades biológicas (adversas e /
ou benéficas). Deste modo, os efeitos do consumo de café irão depender da
qualidade e quantidade dos compostos químicos ingeridos, alimentação o consumo
moderado normalmente descrito como a ingestão de 3 a 5 doses diárias de café
(aproximadamente 150-300 mg de cafeína / dia)
No entanto, a composição
química da bebida é bastante variável e depende muito das espécies de café
utilizadas, sendo as mais comuns o Coffea
arabica (cerca de 70% da produção mundial) e o Coffea canephora var. robusto (mais de 25%). Quimicamente, essas
espécies diferem por seu conteúdo em vários componentes: cafeína (duas vezes
mais no café robusta), minerais, compostos fenólicos, trigonelina, aminoácidos,
aminas, biogênicos, diterpenos, ácidos graxos, esteróis, β-carbolinas, entre
muitos outros.
A frequência de ingestão,
os hábitos alimentares, o estilo de vida (consumo de álcool e / ou tabaco) e
uma predisposição genética individual para o desenvolvimento de doenças
causadas pelo mesmo modo que os efeitos do café na saúde do consumidor
Legislação
Tomando como exemplo o Café
Pilão Torrado e Moído Extra Forte Vácuo 250g, o produto apresenta em sua embalagem 250g de pó de café,
estando de acordo com a Portaria Inmetro nº 153 de 19 de maio de 2008 que
dispõe sobre quantidades permitidas para comercialização de café em embalagens.
A classificação do tipo de café está de acordo com a Instrução Normativa nº 16
de 24 de maio de 2010.
De acordo com a RDC nº
259 — Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados,
publicada no Diário Oficial no dia 20 de setembro de 2002, as embalagens de
café estão isentas da obrigatoriedade de fornecimento de tabela de rotulagem
nutricional e lista de ingredientes. Adicionalmente, o produto Café Pilão
Torrado e Moído Extra Forte Vácuo 250g possui a seguinte citação em sua
embalagem “Para informação nutricional, favor ligar para o SAC”.
A tabela abaixo demonstra
que o produto em questão cumpre com todas as exigências previstas em
legislação, incluindo ainda um selo de certificação de qualidade.
OBRIGATÓRIO |
|
Identificação de origem |
A |
Conteúdo líquido |
A |
Validade |
A |
Modo de conservação |
A |
Lote |
A |
Modo de preparo |
A |
Torra |
A |
FACULTATIVO |
|
Tabela nutricional |
NA |
Lista de ingredientes |
NA |
Certificação de qualidade |
A |
A = Apresenta; NA = Não
Apresenta.
Discussão e conclusão
Sabe-se que a quantidade
de cafeína na bebida depende da quantidade de pó utilizada, do tipo de café e
forma de preparo dos mesmos. As empresas não alertam sobre os malefícios do
consumo excessivo de café, porém nem a legislação preconiza esse cuidado.
Caberia às agências reguladoras determinar um consumo máximo recomendado de
café e estipular que o mesmo fosse indicado nos rótulos de pó de café afim de
proteger a população destes riscos.
Não há evidência de que o
consumo moderado de café (3 a 5 chávenas diárias), por saudável, seja
prejudicial. Existem, no entanto, alguns subgrupos da população que são mais
relacionados aos efeitos da cafeína, pelo que, casos, o consumo desta bebida
cafeinada será de evitar
Referências
1. CAMARGO, M.C.R. &
TOLEDO M.C.F. Teor de Cafeína em Cafés Bresileiros. Ciênc. Tecnol.
Aliment. vol. 18 n. 4 Campinas Oct./Dec. 1998
2.
BARONE, J.J. & ROBERTS, H. Human consumption of caffeine. In: DEWS,
P.B. Caffeine: Perspectives from recent research. Berlin: Springer-
Verlag, 1984. seção II, cap. 4, p. 59-73.
3. IFIC-review. Caffeine and
health : clarifying the controversies, April, 1998
4. IFT. Evaluation of caffeine
safety. Food Technology, Chicago, v. 40, n.3, p. 106-115, March, 1988.
5.
JAMES, J. E. Caffeine and Health. London : Academic Press, 1991. 432
p.
6. MACHADO, R. A. AVALIAÇÃO BROMATOLÓGICA
DE DIFERENTES MARCAS DE CAFÉS TORRADO E MOÍDO COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE
MUZAMBINHO - MINAS GERAIS. Disponível em
http://www.sbicafe.ufv.br/bitstream/handle/123456789/2192/179995_Art235f.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em 15 mar. 2007
Sabe-se que diferentes espécies de cafeeiros possuem quantidades diferentes de cafeína, então a princípio não se deveria estabelecer uma única quantidade de xícaras de café que podem ser tomadas por dia, sendo assim considerada uma quantidade saudável. Aliás, uma dose saudável é uma informação relativa, uma vez que as pessoas possuem sensibilidades diferentes à cafeína, ou seja, algumas delas têm predisposição genética a desenvolver alguns distúrbios mentais provocados pela estimulação do SNC causada pela cafeína que é conhecidamente uma substância psicoativa e que é comercializada legalmente devido a questões culturais. Uma informação importante que devia ser apresentada na embalagem de café é a lista de ingredientes, uma vez que o café possui milhares de compostos químicos e o balanço destes no fim das contas, além da cafeína, pode ser prejudicial ou benéfico à saúde e estudos mais detalhadas devem ser providenciados, uma vez que transtornos como ansiedade e depressão estão tendo seu número aumentado ao redor do mundo e a cafeína pode ser um fator a investigar, visto que em muitos países, incluindo o Brasil, é comum o hábito de ter um horário para tomar café e também onde essa incidência tem aumentado. Além disso, sabe-se que o café vicia por provocar uma certa sensação de prazer relacionada ao aumento de dopamina em algumas áreas cerebrais e ele ainda é vendido normalmente, provavelmente devido a alta pressão da indústria que é muito forte em vários países e isso acaba dificultando o processo investigatório acerca dos malefícios provocados pela cafeína. Outro ponto é que realmente devia ser estabelecido um limite de consumo diário e inclusive conter na embalagem um alerta sobre a questão do horário que o café deve ser tomado, pois pessoas que sentem fortemente o efeito do café podem ter muita dificuldade para dormir. Portanto, assim como outras drogas psicoativas de origem natural são proibidas, o café deve ser, no mínimo, estudado mais a fundo para que medidas legislativas mais duras possam ser tomadas.
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