Suplementação de Ômega 3 em cápsulas: existem riscos associados ao seu consumo?
Figura 1. Imagem ilustrativa de cápsulas de Ômega 3.
O consumo de alimentos riscos em
ômega 3 é essencial para a saúde, sendo associado à prevenção e tratamento de algumas
doenças; com isso a busca pela suplementação de ômega 3 em cápsulas aumentou
muito ao longo dos anos, inclusive devido à grande propaganda que se faz somente
dos benefícios do uso desse suplemento. Porém, será que o consumo de cápsulas
de ômega 3 é sempre indicado para combater doenças de qualquer pessoa, mesmo
quando não há recomendação médica?
Introdução
Os ácidos
graxos ômega 3 são uma classe essencial de ácidos graxos poliinsaturados
(AGPIs), nos quais a primeira dupla ligação, a partir do grupo metila se
encontra no carbono 3 e são encontrados principalmente no óleo de peixe. Os
ácidos graxos ômega 3 clinicamente importantes incluem: ácido (α) linolênico
(LNA), ácido eicosapentanoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) (Shils et
.al., 2003).
Estudos epidemiológicos demonstram que a ingestão regular de peixe
na dieta tem efeito favorável sobre os níveis de triacilgliceróis, na pressão
sanguínea, no mecanismo de coagulação, no ritmo cardíaco, na prevenção do
câncer colônico e na redução da incidência de aterosclerose (Frank et
al.,1994).
Na década de 70 foi descoberto que os ácidos graxos ômega 3 podiam
desempenhar um papel importante em doenças cardiovasculares, quando Bang e
Dyerberg (1972) relataram que os esquimós apresentavam baixas taxas desta
doença, apesar de consumirem uma dieta rica em gordura; porém, a dieta ocidental é atualmente deficiente
em ácidos graxos ômega 3 (Simopoulos,1991), sendo muitas vezes o consumo de
suplementos em cápsulas de ômega 3 estimulado, sendo possível encontrar no
mercado físico e virtual uma gama de suplementos alimentares à base de óleo
concentrado de peixe ou microalga, assim como produtos industrializados
enriquecidos com este ácido graxo.
No entanto, já está comprovado que o excesso
de ômega 3 no organismo pode trazer problemas à saúde, devendo a suplementação ser
feita somente com orientação médica e de acordo com as necessidades de cada
paciente.
Fundamentos Bromatológicos e Legislação
A Sociedade Brasileira de
Cardiologia indica a ingestão de um grama por dia de ômega 3 para auxiliar no
tratamento de doença coronariana. Já segundo a Organização Mundial da Saúde,
recomenda-se o consumo de duas porções de peixe por semana, o que forneceria de
200 mg a 500 mg de EPA e DHA, quantidade que seria considerada suficiente para
auxiliar na prevenção de doenças. Pessoas que não incluem peixes na dieta podem
optar ainda pela inclusão de algas marinhas, que também são fontes de EPA e DHA
e de alimentos ricos em ALA que, uma vez no organismo, é convertido em EPA e
DHA através da ação de enzimas.
Além disso, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) aponta que suplementação de ômega 3 é benéfica para mulheres
grávidas, pois este ácido graxo é fundamental para o desenvolvimento cerebral
do feto durante o período gestacional, sendo indicado o consumo de 133 mg a 3 g
de ômega 3 diariamente, variando de acordo com fatores avaliados pelo médico durante
o pré-natal.
O primeiro risco relaciona-se
inclusive à ingestão de uma dose superior à 3 gramas diárias de ômega 3, que de
acordo com informações da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA, seria
suficiente para favorecer a ocorrência de episódios hemorrágicos em algumas
pessoas, devido à propriedade anticoagulante do ômega 3, sendo o risco ainda
maior em gestantes.
Um estudo de Jorge e
Colaboradores (1997) mostrou outros riscos do consumo de ômega 3 em excesso: a
elevação do colesterol e a peroxidação lipídica (destruição dos ácidos graxos
poli insaturados que constituem as membranas das células pela ação dos radicais
livres, favorecendo o estresse oxidativo). Este estudo, feito em animais,
mostrou que a administração de ácidos graxos ômega 3, na dependência da dose
utilizada e do animal de experimentação, aumenta a peroxidação das LDL e da
parede arterial, elevando assim o colesterol plasmático e comprometendo a
função endotelial, favorecendo, assim, o desenvolvimento da aterosclerose;
resultado este inverso dos que mostraram a diminuição da mortalidade por doença
coronária, que então puderam ser interpretados como decorrentes da ação
antitrombótica do ômega 3.
Por fim, um estudo recente de
Brasky e Colaboradores (2013), publicado no Journal of the National Cancer, relaciona
quantidades muito altas de ômega 3 no organismo com a maior incidência de
câncer de próstata, sendo esta relação ainda não muito bem esclarecida, devendo
ser melhor investigada em outros estudos.
Discussão
O rótulo da embalagem (com 30 cápsulas)
de uma marca que comercializa cápsulas de ômega 3 (Figura 2), especifica que 1
cápsula contém 320 mg de ômega 3; já outra marca (Figura 3) especifica que uma cápsula
contém 1000 mg de ômega 3, e ambas as
dosagens estão de acordo com o especificado pela OMS.
Figuras 2
e 3. Rótulo de cápsulas de Ômega 3 (Farmacis Natural
e TopTherm).
Conclusão
Mesmo com todos os benefícios que
a ingestão de ômega 3 traz aos humanos, como mostrado por diversos estudos, a
suplementação de ômega 3 só é recomendada como método auxiliar de tratamento de
doenças já existentes, e sob prescrição médica, visto que o uso indiscriminado
pode desencadear problemas de saúde relacionados ao excesso de ômega 3 no
organismo. Porém, estes efeitos adversos do excesso desta substância no corpo
ainda são assunto muito recente, pois decorrem, sobretudo, da prática de
suplementação.
Portanto, para pessoas que não
estão sob tratamento médico, não é recomendado suplementar o ômega 3 com o uso
de cápsulas por conta própria; recomenda-se que seu consumo seja feito exclusivamente
através de alimentos naturalmente ricos nessa substância, como peixes.
Referências
Bibliográficas
Brasky T. M., et al. Plasma Phospholipid Fatty Acids and Prostate Cancer Risk in the SELECT Trial. Journal of the National Cancer Institute. 2013; 105 (15): 1132-1141.
Hooper L., et al. Omega 3 fatty acids
for prevention and treatment of cardiovascular disease. Cochrane Database
of Systematic Reviews. 2004; Issue 4. Art. No.: CD003177. DOI:
10.1002/14651858.CD003177.pub2.
Jorge P.A.R., et al. Efeito dos Ácidos Graxos Ômega-3 sobre o Relaxamento-Dependente do Endotélio em Coelhos Hipercolesterolêmicos. Arq Bras Cardiol. 1997; 69 (nº 1), 13-18.
Santos R.D., Gagliardi A.C.M.,
Xavier H.T., Magnoni C.D., Cassani R., Lottenberg A.M. et al. Sociedade Brasileira
de Cardiologia. I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular.
Arq Bras Cardiol. 2013; 100(1Supl.3):1-40.
O ômega 3 é um conjunto de ácidos graxos da família dos poli-insaturados e sua composição contém três tipos diferentes: o alfa-linolênico (ALA), o eicosapentaenoico (EPA) e o docosahexaenóico (DHA). Esses ácidos atuam na proteção da saúde cardiovascular e das funções cerebrais, e não são produzidos pelo nosso organismo, podendo ser obtidos através apenas da alimentação ou suplementação.
ResponderExcluirApesar dos inúmeros benefícios já comprovados da ingestão de ômega 3, existem riscos no caso de ingestão exagerada do mesmo, pois o excesso desses ácidos no organismo pode desenvolver ou agravar doenças. Portadores de problemas de coagulação, como hemofílicos por exemplo devem evitar altas doses, porque o ácido graxo concentrado nas cápsulas deixa o sangue mais fluído e pode provocar sangramento, o mesmo se aplica a quem possui prótese cardíaca.
Estudos realizados com doses diárias de 4000 mg de Ômega 3 mostraram que os consumos diários de doses a partir de 3000 mg trouxeram efeitos colaterais negativos. Dentre os mais comuns, encontram-se a sensação de náuseas, cólicas abdominais, diarreia e excesso de gases no intestino.
Por isso é necessário o uso controlado desse suplemento em nossas dietas a fim de apresentar um benefício e não um malefício ao nosso organismo.