Lactente: 0,3 - 9 / Crianças; 6 -9 (varia conforme faixa etária)
Adultos: 14 / Gestante: 27/ Lactante: 15
E segundo a tabela de composição de alimentos da USDA, sabe-se que:
- 1 pão francês (38 g): 1,03 mg de ferro
- 1 porção de macarrão (100 g): 1,28 mg de ferro
- 1 fatia de bolo (100 g): 1,95 mg de ferro
- 1 porção de biscoito de maisena (100 g): 1,8 mg de ferro
Supondo que todos estes alimentos foram consumidos em um dia, ao somar a quantidade de ferro destes produtos alcança-se 6,06 mg de ferro, que dependendo da faixa etária não atinge o valor mínimo estabelecido. Pois é sabido que essa adição não substitui a suplementação com ferro em uma dieta adequada, composta por vegetais, carnes e cereais.
Porém, deve-se também levar em consideração a atual tendência brasileira de distúrbios e compulsão alimentar, principalmente por “junk foods” ricos em farinha e trigo.
E esse consumo exacerbado junto a suplementação a longo prazo, pode acarretar em efeitos adversos como aumento das reservas orgânicas de ferro, com risco de acúmulo, levando o organismo à intoxicação aguda ou crônica. Bem como hipervitaminose, que pode causar lesões hepáticas, úlceras, vômitos, diarreias e choque hipovolêmico..
O panorama atual revela diversos estudos que mostram que mesmo com o programa, as prevalências se mantiveram elevadas, sobretudo nas porções de população com menor poder socioeconômico, possivelmente em decorrência de problemas nas políticas públicas, onde parte da população só consegue fazer uma refeição por dia. E embora não haja um levantamento oficial, pesquisas em diferentes regiões do país apontam resultados fracassados da fortificação, com persistência na prevalência de anemia ferropriva.
Tais estudos apontam que uma das entraves na fortificação de alimentos com ferro, é a baixa biodisponibilidade do ferro empregado. Biodisponibilidade é a fração de um composto ingerida, absorvida e transportada para o local metabólico de ação no organismo. Logo, nem todos os compostos de ferro são considerados biodisponíveis, porque a fração absorvida de alguns é praticamente nula, como é o caso dos mais populares e financeiramente acessíveis para as indústrias.
Além disso existem estudos como o realizado em Campinas por Thaís Rezende Boen et al., da Pontifícia Universidade Católica, em que foram analisadas três diferentes marcas de farinha no qual demonstraram a ausência de compromisso das empresas para obter um processo homogêneo e contínuo de adição do composto de ferro para a farinha. Pois foi verificado muitos erros e diferenças nos níveis de fortificação podem ser vistos, algumas marcas bem acima e outras inclusive abaixo do valor estabelecido.
O que demonstra falha na fiscalização, e reforça o questionamento de benefícios aos produtores de ferro, visto que passaram a vender mais de seu produto com a nova regra.
Contudo é importante ressaltar que os requisitos para o enriquecimento de farinhas de trigo e de milho com ferro e ácido fólico foram atualizados. A Anvisa publicou a resolução-RDC N° 150, de 13 de abril de 2017 que atualiza as regras, e os fabricantes têm 24 meses para adequação das novas regras.
O regulamento baseia-se nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e prevê quantidades mínimas de ferro e ácido fólico para cada uma das farinhas. Pelas novas regras, os fabricantes estão obrigados a enriquecer as farinhas de trigo e de milho com 4 a 9 mg de ferro para cada 100g de farinha.
E conjuntamente, também foram alteradas as listas de compostos de ferro. Agora são permitidos apenas o sulfato ferroso e fumarato ferroso e de suas formas encapsuladas. E as farinhas de trigo e de milho enriquecidas devem conter, até o vencimento do prazo de validade, teor igual ou superior a 4 (quatro) miligramas de ferro por 100 (cem) gramas de farinha observado o limite máximo de 9 (nove) miligramas.
Ou seja, o país passou a ter controle mais rigoroso sobre a qualidade do material fortificado, contribuindo assim para maior sucesso do programa, diminuindo inclusive os erros causados pela baixa biodisponibilidade de ferro no produto.
Conclusão
Ao estudar as taxas de anemia do país é possível concluir que trata-se de uma técnica extremamente necessária, pois consegue atingir grandes e distintas camadas da sociedade com um baixo custo, e resposta a curto prazo se for feita de maneira correta. Sendo uma importante medida de saúde pública principalmente em população vulnerável. Entretanto, é necessário buscar sempre por um método no qual o micronutriente utilizado deve possuir boa absorção, características que não mudem a cor e o sabor do alimento fortificado, sendo de fácil acesso, pertencendo à alimentação habitual da população alvo e de boa aceitação.
Sendo de extrema necessidade diminuir os riscos através de planejamento pois a Anvisa deve delinear muito bem os valores de fortificação, de forma a equilibrar entre público que consome muita farinha de trigo e os que comem muito pouco. A fim de alcançar o objetivo principal e evitar superexposição. Esta é uma das grandes dificuldades da nutrição universal, alcançar valores que atendam à população carente, sem prejudicar a saúde de quem tem um acesso mais fácil aos alimentos de interesse.
Conjuntamente, se faz necessária a criação de sistemas de monitoramento e fiscalização dos produtos fortificados, além do incentivo às pesquisas de avaliação de efetividade da ação e principalmente, garantir acesso à alimentação as camadas com menor poder econômico.
Referências bibliográficas
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- ANVISA. Resolução RDC n.º 150, de 13 de abril de 2017.
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