A PORTARIA Nº 30, DE 13 DE JANEIRO DE 1998, ainda em vigor, da ANVISA (5) trata dos chamados “alimentos para controle de peso”, categoria em que se encaixam os shakes Fórmula 1 da Herbalife. Eles são definidos como “ alimentos especialmente formulados e elaborados de forma a apresentar composição definida, adequada a suprir parcialmente as necessidades nutricionais do indivíduo e que sejam destinados a propiciar redução, manutenção ou ganho de peso corporal.”
A portaria ainda divide esse tipo de alimento em de substituição parcial das refeições e de substituição total. De acordo com as informações disponibilizadas em seu rótulo (figura 1 – obs.: os valores nutricionais alteram-se muito pouco entre os diferentes sabores), os shakes Herbalife se enquadram na categoria de substituição parcial das refeições.
DISCUSSÃO
De acordo com a portaria, esse tipo de alimento deve ter um mínimo de 200 kilocalorias. A empresa recomenda o consumo do de 2 colheres e meia de shake, dissolvidas em leite desnatado, totalizando 204 kcal. Assim, o shake Fórmula 1 se enquadra no mínimo calórico exigido pela ANVISA.
O shake consumido com leite desnatado oferece 25% das necessidades diárias de proteína, também estando dentro do mínimo preconizado. Dessas proteínas, 11g de um total de 19g são provenientes do próprio shake, o que novamente atende aos requisitos.
Apesar de não haver legislação proibindo, um ponto negativo da formulação é a opção pela frutose como açúcar. Apesar de ser frequentemente ser considerado uma opção mais saudável e relação ao açúcar refinado tradicional, por ser associado à frutas (logo, “natural”). A frutose utilizada em alimentos industrializadas é sabidamente danosa ao fígado, sendo comprovadamente associada com o aumento da gordura hepática devido a sua metabolização por vias alternativas.
Apesar de sua possível participação na dieta de inúmeros pacientes, essa categoria de produtos é isenta de registro, devendo apenas ter sua comercialização notificada à ANVISA. Não é necessário comprovar cientificamente a eficácia das fórmulas. A Herbalife disponibiliza por meio de seu SAC, no entanto, estudos comparativos com formulações sem marca, nutricionalmente semelhantes aos shakes comercializados no Brasil (6, 7, 8 e 9). Nas publicações, os “shakes” foram considerados seguros, embora nenhuma delas registre perda de peso significativa na média dos pacientes.
O que frequentemente não é levado em conta, também, é que esses produtos tem sua venda livre junto aos promotores da marca. Muitas pessoas também os utilizam sem acompanhamento de um nutricionista ou de um médico. Com isso, na esperança da promessa de perda de peso fácil, não há como controlar que esse tipo de produto seja consumido nas quantidades recomendadas. Por meio de uma pesquisa rápida em sites de busca, é fácil encontrar relatos de pessoas utilizando água ao invés de leite desnatado, visando diminuir o consumo de calorias. Nesses termos, o produto não apresentaria o valor energético e nutricional mínimo recomendado para uma refeição.
A ausência de necessidade de acompanhamento profissional também não impede o consumo exagerado ou prolongado desses produtos, ou seu consumo junto com outros produtos do tipo ou suplementos alimentares.
Outro ponto a ser discutido em relação ao shake Fórmula 1 é seu preço. A embalagem inclui 21 sachês e custa, atualmente, R$140,00. Para substituir duas refeições por dia, por um mês, seriam necessários pelo menos 60 sachês. Logo, é necessário comprar 3 embalagens, totalizando 420 reais. Esse valor é mais do que o suficiente para fazer diversas compras em supermercados e hortifrútis, e garantir uma alimentação saudável por todo um mês, possibilitando uma dieta variada e com nutrientes que o shake, sozinho, não é capaz de prover.
É possível comparar o Shake Fórmula 1 com outro muito popular no mercado, o Diet Shake Nutrilatina, cujo preço costuma ser próximo de R$30,00 em drogarias e lojas de suplementos. Ele inclui 11 porções, totalizando R$180 reais pelas caixas om as porções necessárias para um mês. De acordo com sua tabela de informações nutricionais, ambos os shakes são bastante semelhantes em termos de nutrientes. Há variações, mas ambos possuem os mesmos componentes, em concentrações próximas.
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Informações nutricionais - Diet Shake Nutrilatina sabor chocolate |
Relatos de consumidores na internet associam o shake Fórmula 1 a maior saciedade após a ingestão e melhor sabor. No entanto, é difícil encontrar justificativa nutricional para a diferença tão grande de preço entre os dois.
CONCLUSÃO
Diferentemente do que esses produtos propõem, não há fórmula mágica para a perda de peso, principalmente quando se deseja que ela venha acompanhada de saúde e qualidade de vida. Embora não seja possível afirmar que o consumo de shakes para a substituição de refeições traz malefícios, é certo de que seu consumo a longo prazo não é recomendável. Não há substituição para uma dieta variada e equilibrada, associada a hábitos de vida saudáveis.
Referências.
(4) Herbal does not mean innocuous: Ten cases of severe hepatotoxicity associated with dietary supplements from Herbalife products. Schoepfer, A. et al. Journal of Hepatology 47 (2007) 521–526.
(6) 1- Frestedt JL, Young LR, Bell M. Meal repleacement beverage twice a day in overweight and obese adults (MDRC2012-001). Current Nutrition & Food Science, 2012, 8, 320 – 329.
(7) 2-Koohnak S, Schaffner D, Milliron BJ, et al The impact on weight reduction program with and without mealreplacement on health related quality of life in midle – aged obese females. BMC Women’s Health, 2014. 14:45.
(8) 3- Tovar AR, Caamaño MC, Garcia PS. The inclusion of a partial meal replacement with or without inulin to a calorie restricted diet contributes to a reach recommended intakes of micronutrientes and decrease plasma triglycerides: a randomized clinical trial in obese Mexican Women, Nutri. J. 2012 jun 18. 18;11:44
(9) 4- Fernández GMM, Breton LI, Basulto MJ., Quiles IJ, Formiguera SX, Salas SJ. Evidence-based nutritional recommendations for the prevention and treatment of overweight and obesity in adults (FESNAD-SEEDO consensus document): The role of diet in obesity treatment (III/III). Nutr. Hosp. [revista en la Internet]. 2012 Jun [citado 2014 Mar 21] ; 27(3): 833-864.
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