Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Dieta com excesso de ácido fólico



Até que ponto os aditivos e coadjuvantes alimentares respaldados pela legislação são benéficos para a saúdes?




A adição proposital de substâncias nos alimentos é utilizada para fins de modificar sabor, aroma e a aparência em prol das vendas e até mesmo da saúde, nutrientes como o ácido fólico são adicionados obrigatoriamente na farinha como determina a ANVISA



Descrição e Legislação: O FDA (Food and Drug Administration) é um órgão do governo dos Estados Unidos equivalente a ANVISA no Brasil, com a função de controlar os alimentos e medicamentos através de testes e pesquisas. Em 1998 o FDA estabeleceu que os produtos derivados da farinha de trigo e a mesma deviam ser mandatoriamente fortificadas com folato (ácido fólico ou vitamina B9), essa regulamentação se baseou em pesquisas que mostravam que a ingestão de folato diminuía os riscos de má formação congênita relacionados ao tubo neural (responsável pelo desenvolvimento do sistema nervoso central do feto). No Brasil, através da RDC nº 344/02, a ANVISA seguiu o mesmo caminho do adotado no exterior e preconizou a adição obrigatória de 150 µg de ácido fólico a cada 100g nas farinhas de trigo e milho. Atualmente a adição é ainda maior, pois, está em vigor a RDC nº 150/17  que revogou a antiga estabelecendo que a cada 100g deve-se enriquecer de 140 a 220 µg de ácido fólico. Esses valores foram baseados na RDC nº 360/03 da ANVISA que estabelece a ingestão diária recomendada (IDR) do ácido fólico de 400 µg podendo chegar até 800 µg nos três primeiros meses de gravidez, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).



Fundamentos Bromatológicos: O folato biodisponível no organismo é utilizado na divisão celular, portanto, tecidos como: cabelo, parede do trato gastrointestinal e a hematopoiese são os que mais utilizam folato, estando sua deficiência relacionada a falta de cabelo e a tipos de anemia megaloblástica.
Contudo, essa suplementação na dieta benéfica para mulheres que pretendem engravidar vez que com que toda população fosse exposta ao excesso de folato sem escolhas. O excesso de ácido fólico pode levar a diminuição da absorção de zinco pelo organismo. A deficiência de zinco pode levar a quadro de alteração do apetite, alteração na pele e cabelos, dentre outros.(Smith et al., 2007).
Apesar de ser benéfico na formação neurológica dos bebês, o uso excessivo do folato pode aumentar o risco de autismo, de acordo com estudo americano como conclui o estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos. Esse estudo nos mostra que o folato atua na hipermetilação do DNA do feto. O excesso de ácido fólico também pode gerar convulsões em pessoas predispostas.
O folato é facilmente obtido da alimentação, encontrado em frutas, ovos, frutos do mar, carnes estando concentrado nos vegetais folhosos de cor verde escura. As consequências dessa dieta rica em folato se mostraram promissoras na prevenção de cânceres e doenças cardiovasculares, porém em estudos de metanálise essa ação do folato é questionável (Ulrich et al., 2006; Kim Yi et al., 2008; Li Y et al. 2016).

A ingestão de produtos como base a de farinha de trigo no Brasil vão desde o tradicional pão francês até o preparo de massas, em levantamentos feitos para dosagem dos níveis séricos de folato no sangue da população brasileira mostrou que quase a totalidade da população está com os níveis de vitamina b9 acima do limite. Segundo levantamentos bibliográficos, a população que se beneficia única e exclusivamente deste enriquecimento com folato são mulheres em apenas um estágio de vida (grávidas) enquanto, entra em questão a exposição de todo o resto da população. Por fim, ainda não está de acordo o risco relacionado a esse aumento, porém, a adição da quantidade de folato deve ser diminuída e mais estudos sobre o excesso precisam ser conduzidos.

 Referências: 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária  (ANVISA), Brasil 2017.
Estudo da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, disponível em:<https://www.jhsph.edu/news/news-releases/2016/too-much-folate-in-pregnant-women-increases-risk-for-autism-study-suggests.html>, acesso Out. 2017.
Smith et al. Folic acid fortification: the good, the bad, and the puzzle of vitamin B-12, Am J Clin Nutr 2007 vol. 85 no. 1 3-5)

Li Y, Huang T, Zheng Y, Muka T, Troup J, Hu FB. Folic Acid Supplementation and the Risk of Cardiovascular Diseases: A MetaAnalysis of Randomized Controlled Trials. J Am Heart Assoc. 2016, 15;5(8).

Ulrich CM, Potter JD. "Folate supplementation: too much of a good thing?". Cancer Epidemiol. Biomarkers Prev. 2006, 15 (2): 189–93.

Smith AD, Kim YI, Refsum H "Is folic acid good for everyone?"Am. J. Clin. Nutr. 87 (3): 517–33. 2008


Juliana Ricardo Barbosa 
Matheus Macedo Lopes Vasques Monteiro

Um comentário:

  1. Níveis elevados de folato na maioria da população na verdade é muito comum, ocorre principalmente em pessoas que estão fazendo suplementação de ácido fólico que mesmo em excesso não é necessariamente um risco para a saúde, porque o excesso de vitaminas do complexo B são normalmente excretado do corpo através da urina. Entretanto, as grávidas não são o único grupo que se beneficiaria desse enriquecimento nutricional. A demência está associada a níveis de folato mais baixos. Pacientes com Parkinson apresentam significativa baixa de folato e Vitamina B12, como colocado pela Dra. Birgit Schiel. A presença de demência, depressão e polineuropatia é uma realidade entre estes pacientes. A terapêutica complementar com folato e vitamina B12 deverão ser mais frequentes nestes doentes de forma a normalizar os níveis séricos e possivelmente atrasar o aparecimento das consequências sintomáticas observadas, de forma a diminuir a incapacidade motora e as alterações cognitivas que podem surgir ao longo da evolução da doença de Parkinson.

    Fonte: http://johnwomenot.ru/cozinhando/20798-n%C3%ADvel-elevado-de-%C3%A1cido-f%C3%B3lico.html
    Tangney CC1, Aggarwal NT, Li H, Wilson RS, Decarli C, Evans DA, Morris MC. Vitamin B12, cognition, and brain MRI measures: a cross-sectional examination. Neurology. 2011 Sep 27;77(13).
    Ferreira, Maria Isabel. Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa. Porto, Universidade do Porto, 2013. 64 f. Dissertação de Mestrado em Nutrição Clínica, Universidade do Porto, Porto, 2013.


    Dalgia Lemos Portella
    DRE: 113203692

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