O extrato de Cranberry em cápsulas pode ser utilizado para prevenir infecções do trato urinário?

Tema:
O extrato de Cranberry em cápsulas pode ser utilizado para prevenir infecções do trato urinário? 

Hipótese:
Infecções do trato urinário são muito comuns, especialmente em mulheres jovens. A fruta conhecida como Cranberry, é frequentemente utilizada na forma extrato para a prevenção de infecções no trato urinário (TU). No entanto, especialistas ainda divergem sobre a eficácia e segurança dessa prática. Há evidências científicas da sua eficácia como proteção do TU contra infecções?

Descrição do Produto:
O Cranberry (Vaccinium macrocarpon) é uma espécie norte-americana que forma um arbusto com pequenas frutas vermelhas comestíveis. O extrato padronizado de Cranberry é frequentemente encontrado em sua forma seca, contido em capsulas gelatinosas com 400 a 500mg de extrato. 

A maioria das grandes marcas registra o produto final como suplemento alimentar. No entanto, também é possível encontrar o extrato registrado como medicamento fitoterápico. Ambos os casos são aceitáveis, pois o uso de Cranberry como suplemento alimentar por ser rico em vitamina C e antioxidantes naturais. 

O extrato seco analisado, da marca Orient Mix, se apresenta em cápsulas de 420mg. O rótulo recomenda a ingestão de 2 cápsulas, 1 a 2 vezes por dia, conforme a orientação do médico ou nutricionista prescritor.

Fundamentos Bromatológicos:
Não há consenso aparente sobre eficácia do Cranberry no tratamento de infecções do trato urinário (ITU). Há diversos estudos publicados, porém com resultados diferentes. O que se sabe, por certeza, é: não são todos os perfis de pacientes que podem se beneficiar do tratamento com extrato de Cranberry e, também, que o Cranberry não pode ser usado em substituição ao tratamento com antibióticos para infecções já existentes.

Uma revisão realizada em 2008 avaliou os resultados de 10 estudos. A revisão mostrou que, em comparação com placebo, foi observada uma redução da incidência de ITUs em mulheres jovens e adultas que antes sofriam de infecções recorrentes. Os mesmos resultados não foram observados em pacientes idosos (tanto homens quanto mulheres), e na prevenção de infecções em pacientes hospitalizados.

Há duas hipóteses para a ação do Cranberry no Trato Urinário. A primeira, mais amplamente divulgada, trata de sua capacidade de acidificação da urina, devido à grande concentração de Vitamina C presente no extrato, tornando o ambiente do TU mais hostil para bactérias. Recentemente, estudos mostraram que o Cranberry possui também grandes concentrações de substâncias, como o polímero proantocianidina e a frutose, que dificultam a adesão de bactérias como a E. coli na parede do TU. 

Não há, ainda, um consenso sobre a dosagem recomendada.

Os estudos frisam, no entanto, a necessidade de padronização do extrato para garantir seus padrões de qualidade e a potência.

Legislação:
O extrato de Cranberry pode ser comercializado como suplemento alimentar, podendo ser enquadrado na categoria "novos alimentos e novos ingredientes" de acordo com a resolução nº 16, DE 30 de abril de 1999, pois é um alimento sem tradição de consumo no país. 


A segunda opção é o registro como medicamento fitoterápico, de acordo com a RDC n° 26, DE 13 de maio de 2014 da ANVISA.


Discussão e Conclusão:
Nas cápsulas de Cranberry da Orient Mix não há nenhum tipo de informação que associe o consumo do produto à prevenção de ITUs ou qualquer tipo de indução ao consumo visando o bem estar. Há apenas a advertência de que o produto não deve ser consumido por pessoas que sofrem de "pedra nos rins" e pacientes em uso de Varfarina.

Apesar da Orient Mix se identificar no rótulo do produto como uma indústria de fitoterápicos, as capsulas de Cranberry foram registradas dentro da categoria "novos alimentos e novos ingredientes", o que a isenta da apresentação de bula. No entanto, a rotulagem não está de acordo com o preconizado pela legislação para essa categoria, pois não contém o nome científico do Cranberry (Vaccinium macrocarpon) e a finalidade do uso. O rótulo também não menciona se o extrato utilizado é padronizado. 

No caso de mulheres com ITUs recorrentes, que são o perfil de paciente onde há evidências da eficácia do Cranberry, o consumo do extrato do Cranberry em cápsulas parece ser uma boa opção de prevenção. No entanto, deve-se observar que ela nunca deve ser isolada dos cuidados básicos com a higiene, ou em substituição ao tratamento com antibióticos se confirmado o retorno da infecção. 

É recomendável, no entanto, a procura por marcas que registrem as cápsulas de Cranberry como medicamento fitoterápico, onde há maior garantia de controle dos processos de Boas Práticas de Fabricação, e por incluírem uma bula com informações de segurança sobre o uso.

Em outros perfis de pacientes, não há comprovação de eficácia, logo, o consumo não é recomendado.


Referências:
1. Raz et al. Cranberry Juice and Urinary Tract Infection. Clinical Infectious Diseases, Volume 38, Issue 10, 15 May 2004, Pages 1413–1419. Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/38/10/1413/345228
2. Jepson e Craig. Cranberruies for preventing urinary tract infections. Disponível em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD001321.pub4/full
3. http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/3322895/Documento+de+base+sobre+regulamenta%C3%A7%C3%A3o+de+suplementos+alimentares/2e334a9e-a456-48ef-981e-ef54f3b9029a
4. http://portal.anvisa.gov.br/en/novosalimentos
5.http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/RESOLUCAO_16_1999.pdf/66b77435-cde3-43ce-839f-f468f480e5e5

6. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf