Psyllium é um composto de fibras solúveis naturais que é conhecido por ajudar no tratamento da prisão de ventre e principalmente na perda de peso. Mas será que existem evidências que sustentam essa propriedade do produto?
Psyllium
é um composto de fibras solúveis naturais extraídas mecanicamente da semente de
uma planta asiática chamada Plantago ovata. Por ser um produto rico em fibras
que atrai água forma uma mucilagem, substância gelatinosa de estrutura
complexa, que na presença de água, aumenta de volume e forma uma solução
viscosa. Por suas características o Psyllium é conhecido por ajudar no
tratamento da prisão de ventre, e principalmente na perda de peso. Acredita-se
que por retardar o esvaziamento gástrico, estimula a saciedade, além de
melhorar a atividade intestinal também ajuda no controle lipídico e glicêmico.
No entanto estudos realizados não suportam
essa idéia apesar de sugerirem uma possível contribuição para uma perda de peso
saudável.
O Psyllium é considerado como um alimento
funcional. Alimento funcional é uma nova concepção de alimento que surgiu no
Japão na década de 80. De forma geral, são alimentos e bebidas que consumidos
no cotidiano podem trazer efeitos fisiológicos específicos. A legislação
Brasileira não define alimento funcional mas estabelece os requisitos para
alegação de propriedade funcional. As diretrizes permitem alegação de
propriedades funcionais e ou de saúde em caráter opcional; alimentos e
nutrientes que produzirem efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos
benéficos à saúde, devem ser seguro para consumo sem supervisão médica; as
alegações serão aceitas consoante demonstração de eficácia, a menos que tua
eficácia já tenha sido esclarecida pela sociedade científica; em caso de
produto inédito estudos de segurança de uso deverão ser realizados segundo as
Diretrizes Básicas para avaliação de Risco e Segurança dos alimentos; não são
permitidas alegações que sugiram cura ou prevenção de doenças.
No
Brasil, a regulamentação desse tipo de alimento é feito pelo Ministério da
Saúde através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). As resoluções
são:
·
Resolução da
ANVISA/MS 16/99 - trata de Procedimentos para Registro de Alimentos e ou Novos
Ingredientes
·
Resolução da
ANVISA/MS 17/99 - Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes
Básicas para Avaliação de Risco e Segurança de Alimentos
·
Resolução
ANVISA/MS 18/99 - Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes
Básicas para a Análise e Comprovação de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde,
alegadas em rotulagem de alimentos
·
Resolução ANVISA/MS 19/99 - Aprova o Regulamento
Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos com Alegação de
Propriedades Funcionais e ou de Saúde em sua
Em 2016, exercendo o seu poder a ANVISA,
suspendeu a publicidade do produto Hemadrin – Psyllium e colágeno com vitamina
C em cápsulas pois este alegava propriedades medicamentosas. Segundo a ANVISA o
psyllium deve alegar que ‘auxilia na redução da absorção de gordura. Seu
consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida
saudáveis’ quando o produto forneça no mínimo uma dose diária de 3 g.
O Psyllium está incluído dentro da legislação
das Fibras – oligossacarídeos: substancia indisponível como fonte energética,
mas que atuam na manutenção do transito intestinal, bem como da flora
intestinal. Regra geral, são substâncias de alto peso molecular encontradas
principalmente em vegetais. Podem ser classificadas quanto à sua função no
vegetal: Estruturais ou não estruturais; quanto à solubilidade: solúveis ou
insolúveis. As fibras solúveis tendem a formar géis em contato com água
aumentando a viscosidade, o que está associado à reabsorção dos sais biliares,
que se reflete numa propriedade hipocolesterolêmica. Tendem a diminuir o nível
de triglicerídeos, colesterol e insulina. Como é metabolizada por bactérias,
está associada a produção de gases, flatulência. Já as fibras insolúveis não
sofrem alteração, sendo importantes para incremento do bolo fecal e estimulo da
motilidade intestinal. Já as fibras insolúveis permanecem inalteradas
incrementando o bolo fecal e estimulando a motilidade intestinal; implicam uma
maior atividade de mastigação; aumentam a excreção de sais biliares e
apresentam propriedades antioxidantes. O uso de fibras esta associado a redução
dos níveis de colesterol e do risco de desenvolvimento de câncer no trato
gastrointestinal.
O uso do psyllium com auxílio na perda de peso
é amplamente divulgada nas redes sociais e a publicidade do produto recai
principalmente sobre esta característica. Sites de saúde, bem estar,
freqüentados principalmente por mulheres, trazem esse produto como inovador na
perda de peso.
Apesar de seus efeitos benéficos e importantes
na redução do colesterol e LDL não há um embasamento cienfitico na divulgação
de que o cunsumo diário de psyllium realmente leva a uma perda de peso.
Um estudo feito por Bergmann et al. demonstrou
que ensaios simples com ecografia gástrica são capazes de determinar a taxa de
esvaziamento gástrico com e sem pyssilium. O ensaio foi feito de forma
randomizada e cruzada, com 12 voluntários acima do peso por 8 dias
consecutivos, aonde se observou uma redução da velocidade de esvaziamento,
aumento da saciedade e redução do apetite quando comparado aos indivíduos que
fizeram uso do placebo. A simples redução da velocidade de esvaziamento não
pode ser associada a perda de peso, o que não foi observado, no entanto, a que entender que o estudo teve em
consideração apenas 8 dias e que o estudo demonstrou que o consumo de psyllium
reduziu o apetite dos voluntários, uma vantagem para qualquer processo de
emagrecimento.
Uma meta-análise realizada por Anderson et al.
baseado em 8 ensaios clínicos sugere que o uso de 10 gramas diárias Psyllium realmente
diminui os níveis de LDL e colesterol total plasmáticos. Os resultados na
redução da glicemia não são conclussivos eapenas 3 desses ensaios avaliaram a
diferença de peso que não demonstrou ser significativa.
Dessa forma, podemos concluir que o consumo de
psyllium não leva ao emagrecimento simplesmente pelo seu consumo. O
emagrecimento observado com o consumo de psyllium está associado a mudanças nos
hábitos alimentares e no estilo de vida e não no efeito desta fibra. É possível
que a saciedade ajude no processo de perda de peso, mas ela só não garante que
o individuo irá comer menos, principalmente se a obesidade estiver associada a
transtornos como a ansiedade, onde a comida não é apenas uma forma de alimento,
mas também um objeto de prazer, satisfação.
Bibliografia
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Alunos: Victor Azevedo de Souza e Camila Coelho Carmo
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ResponderExcluirInfelizmente a população como um todo anseia por produtos que realizem milagres de emagrecimento, justamente por querer alcançar os "ideais" almejados com um mínimo de esforço. Um indivíduo que atribui o emagrecimento à fibra alimentar, na realidade, não sabe o impacto dessa ingestão na dinâmica do processo digestório.
ResponderExcluirUm ponto importante é a utilização das fibras solúveis como substrato para bactérias da microbiota intestinal. Essa característica atribui ao produto o título de prebiótico, caso a fibra em questão esteja na concentração mínima exigida pela ANVISA. Os prebióticos são assim chamados devido à capacidade de alimentar e por consequência disso gerar o aumento da população de bactérias benéficas do filo Firmicutes. Esse filo já foi relacionado como sendo o predominante em indivíduos não obesos e com boas taxas glicêmicas, colesterolêmicas, entre outros. Além de promover a diminuição do pH intestinal, devido à produtos secundários da fermentação das fibras, estimulação da renovação da mucosa intestinal, maior absorção de macro e micronutrientes e regularização da evacuação. Devido a esse aumento populacional, o filo Bacterioidete diminui. Filo este que é predominante em indivíduos obesos. Bactérias comuns, presentes na microbiota do TGI, que pertencem ao filo Bacterioidetes são: E. coli, Shigella sp, Salmonela sp, klebisiella sp. entre outras. Portanto, a diminuição dessa população ocasiona a diminuição da inflamação nas mucosas do TGI, diminuição de ocorrência de diarreias e diminuição de infecções no organismo como um todo.
Desta forma é possível entender, que do ponto de vista microbiológico, a ingestão destas fibras também promovem grandes benefícios sistêmicos. O emagrecimento pode ser um efeito secundário no indivíduo, após essa adequação. Porém, os resultados estão atrelados a ingesta diária, em quantidades adequadas para este fim, e consumo diário de água adequado.