Goma de mascar com xilitol e a promoção da saúde bucal

Figura 1. Goma de mascar Valda X

HIPÓTESE: O senso comum diria que goma de mascar e higiene bucal não se combinam. Porém o que antes parecia ser antagônico hoje tem demonstrado outra face. Com a aplicação de adoçantes não cariogênicos como o xilitol nos "chicletes", o hábito de mascar goma se tornou um possível aliado da saúde bucal. Nesta publicação se analisa a importância da goma de mascar e do xilitol dentro da odontologia, com enfoque no produto Goma de Mascar Valda X. Há evidências de eficácia e segurança, com seu consumo devendo ser incentivado pelos profissionais da área? O produto escolhido se aplica dentro dessa temática? 

1. Descrição do produto

A goma de mascar Valda X (figura 1) é uma goma a base de xilitol de sabor mentol, colorida artificialmente e revestida por drageamento com uma cobertura crocante sem açúcar.1

Segundo o site do fabricante, é composto por goma base, edulcorantes naturais (sorbitol, maltitol e xilitol), aromatizantes, espessante, goma acácia, umectante glicerina, corante inorgânico dióxido de titânio, edulcorante artificial sucralose, glaceante cera vegetal e corante artificial azul brilhante. É um produto que não contém glúten.1 

 

Figura 2. Informação nutricional do Valda X. 

Pela informação nutricional (figura 2), é possível perceber que se trata de um alimento de pobre composição nutricional, com baixo poder calórico. Mesmo assim, algumas alegações importantes sobre esse produto são atribuídas pelo fabricante, conforme figura 3.1

Figura 3. Claims atribuídos ao Valda X. 

2. Fundamentos Bromatológicos 

O xilitol é um poliol que atua como um aditivo alimentar, sendo aplicado em muitos doces com o papel de umectar, conservar e adoçar.2

Apesar de encontrados em frutas e outras fontes, a obtenção dos polióis por extração é antieconômica para a indústria de alimentos.2 Assim sendo, são aditivos artificiais, produzidos pela hidrogenação catalítica de sacarídeos em altas pressões e temperaturas.3 Seu poder dulçor é dificilmente semelhante ao da sacarose, mas, diferentemente desta, possuem baixo valor calórico, não provocam cáries e podem ser consumidos por diabéticos. Além do xilitol, outros exemplos relevantes dessa classe de adoçantes são o maltitol, manitol e o sorbitol, mas que são menos doces que o açúcar, enquanto o primeiro se assemelha da doçura da sacarose.4,5 

A sucralose, outro edulcorante presente no Valda X, possui outro perfil de características, destacando-se o fato de que possui alto dulçor, sendo superior ao da sacarose. Assim como os polióis, é não-cariogênico.6 

3. Legislação

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através da resolução RDC n. 3, de 2 de janeiro de 2001, o xilitol é um aditivo alimentar do tipo umectante, empregado em gomas de mascar e outros produtos do gênero na quantidade necessária para se obter o efeito desejado (quantum satis) .7 Uma outra resolução importante da ANVISA e que se aplica a esse produto é a Resolução n. 18, de 30 de abril de 1999, em que se preconiza que, ao se fazer uma alegação funcional, a mesma ocorra em acordo com a segurança do alimento e comprovações científicas, não induzindo o consumidor ao engano. 

Especificamente quanto ao xilitol, há uma alegação padrão aprovada pela ANVISA para gomas de mascar sem açúcar, sendo ela "Manitol / Xilitol / Sorbitol não produz ácidos que danificam os dentes. O consumo do produto não substitui hábitos adequados de higiene bucal e de alimentação". 

4. Discussão 

Atualmente há uma tendência mundial para a redução da ingestão de açúcar. Procura-se, portanto, substitutos ideais para a sacarose em alimentos industrializados e nessa batalha o xilitol tem se mostrado um forte aliado.2 

As gomas de mascar são um desses alimentos em que o xilitol parece ter encontrado "seu lugar", com sua função sendo ampliada de um simples ingrediente alimentar, para um componente com possíveis propriedades funcionais e aplicações clínicas. 

A saúde do organismo se relaciona diretamente com a saúde bocal, sendo a boa higiene fundamental na sua manutenção.2 Seja por prevenção ou tratamento, a odontologia busca ferramentas que possam auxiliar no combate a um dos seus principais vilões: a cárie.  

Nesse sentido, tanto o xilitol quanto a goma de mascar por si só têm comprovado benefícios para a saúde bucal.1,8 

A cárie resulta de um processo infeccioso promovido pelas bactérias cariogênicas (gênero Streptococcus) presentes na placa dentária. Em condições ácidas, produzem ácido lático e sintetizam polissacarídeos extracelulares (insolúveis), o que aumenta a adesão da placa bacteriana na superfície dos dentes. O aparecimento precoce e a grande quantidade de colônias dessas bactérias são fatores de risco no desenvolvimento da cárie. 2 

Estudos com xilitol comprovaram a contribuição desse adoçante para a saúde bucal2:  

(1) Reduz a incidência de cáries por não ser fermentativo pelas bactérias Streptococcus, cuja a proliferação, a acidificação da cavidade e a produção de polissacarídeos extracelulares insolúveis ficam restritas. Com isso, a placa bacteriana formada é menos aderente e mais facilmente removível.  

(2) É importante no aumento da salivação, no controle do pH e na remineralização dos dentes. O xilitol promove maior salivação e, assim, maior quantidade de minerais nela presentes. Em particular os íons cálcio e fosfato, os quais são estabilizados pelo xilitol, promovem a remineralização dos dentes, revertendo a desmineralização dos esmaltes provocada por cáries em estágio inicial. Ao se aumentar o fluxo salivar, eleva-se também o pH da placa bacteriana, neutralizando os ácidos já produzidos pelas bactérias cariogênicas em razão do consumo de outros carboidratos. Ademais aumentam os níveis de algumas enzimas, melhorando a capacidade tamponante e a atividade bacteriostática da saliva. Em suma, o ambiente bucal torna-se pouco favorável ao desenvolvimento das bactérias.  

(3) Estabiliza as cáries já formadas e reduz o crescimento de Streptococcus mutans e Lactobacillus na saliva. 

Com relação a sua segurança em alimentos, o xilitol é considerado uma substância atóxica, classificada como um aditivo GRAS (Generally Recognized as Safe) pela FDA (Food and Drug Administration), sendo sua incorporação em alimentos permitida. Estudos mostram que o xilitol é bem tolerado, quando ingerido em doses espaçadas de no máximo 20 g cada uma. É importante que a ingestão máxima diária não ultrapasse 60g, com um risco de efeito laxativo. Assim, o cuidado deve ser maior em alimentos ingeridos em grandes quantidades (não sendo então o caso da goma de mascar). 2 

Sobre a goma de mascar, destacam-se os seguintes pontos positivos9:  

(1) Aumento do fluxo salivar, que umedece os tecidos, tampona a cavidade bucal e ajuda na remoção de detritos alimentares. 

(2) Desenvolvimento da motricidade muscular local, sendo importante em condições patológicas específicas. 

Deve-se ressaltar que seu uso exagerado pode levar à hiperplasia benigna de músculos da face, à paralisação desses e a problemas gástricos devido à alta produção de suco gástrico.9 

No caso específico do produto Valda X, além do xilitol presente na composição da goma de mascar, verificou-se outros edulcorantes (sucralose, maltitol e sorbitol). O possível motivo para talvez ocorra devido a uma combinação de a alto preço do xilitol e baixo poder dulçor da classe dos polióis como um todo.  

O custo de produção do xilitol é alto, cerca de 10 vezes superior ao da sacarose ou do sorbitol. Assim sendo, é comum que seja combinado com outros polióis.1 Além disso, como se trata de uma goma de mascar, um dos principais atrativos para o consumidor é o gosto ou, mais precisamente, o doce. Para tanto, é de se imaginar que a sucralose foi adicionada à fórmula para aumentar o poder dulçor do produto, compensando o que os polióis possuem como ponto negativo. 

 5. Conclusão 

Os diversos estudos acerca do uso de goma de mascar e do xilitol em odontologia apontam para o efeito benéfico individual de cada um deles para a saúde bucal. Em conjunto, pode-se esperar uma sinergia dos efeitos, principalmente quanto ao aumento da salivação. 

O Valda X é uma goma de mascar a base de xilitol, mas que apresenta em sua composição outros polióis e sucralose. Visto que esses outros edulcorantes também são não-cariogênicos, não se espera que os mesmos diminuam o papel preventivo e terapêutico que essa goma pode exercer na higiene bucal. 

Quanto à adequação à legislação, observa-se que o xilitol é visto como um aditivo aplicável em gomas, com a ANVISA até mesmo reconhecendo uma alegação funcional padrão a esse ingrediente. Destaca-se aqui, no entanto, que no site do fabricante não foram identificadas referências para as alegações apresentadas, nem se observou a parte final da alegação padrão aos claims colocados ("O consumo do produto não substitui hábitos adequados de higiene bucal e de alimentação"). 

6. Bibliografia 

(1) VALDA X. Disponível em: https://valda.com.br/produtos-detalhes/18. Último acesso: 23 dez 2017.

(2) MUSSATO, S.I; ROBERTO, C. I. Xilitol: Edulcorante com efeitos benéficos para a saúde humana. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 38(4): 401-413, 2002. (3) FADINI, A.L. et al. Características Sensoriais e de Textura de Chicles Drageados Diet Produzidos com Diferentes Tipos de Polióis. Braz. J. Food Technol., 8(2): 113-119, 2005. 

(4) CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Doce Berlinda. 2016. Disponível: http://www.cfn.org.br/index.php/doce-berlinda/. Último acesso: 23 dez 2017. 

(5) CALORIE CONTROL COUNCIL. Maltitol. Disponível em: https://poliois.br.com/maltitol. Último acesso: 23 dez 2017. 

(6) MANDEL, ID.; GROTZ, VL. Dental considerations in sucralose use. J Clin Dent., 13(3):116-8, 2002. 

(7) BRASIL. Resolução RDC n°3, de 2 de janeiro de 2001. Aprova Regulamento Técnico que aprova o uso de Aditivos Edulcorantes, Estabelecendo seus Limites Máximos para os Alimentos. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/RDC_03_2001.pdf/de0ef06a-25a9-422f-b1f7-a9cf8eb22faa?version=1.0. Último acesso: 23 dez 2017. 

(8) ANVISA. Alimentos Com Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde. 2016. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/alegacoes. Último acesso: 23 dez 2017. 

(9) ANTUNES, M.E.M; DOS REIS, Y. B. Goma de mascar em odontologia. Adolesc. Saude, 9(4): 58-62, 2012.