Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 30 de junho de 2019

Prebióticos (GOS/FOS) no Aptamil Pro Futura


Muitas fórmulas infantis utilizam em sua composição prebióticos (GOS/FOS), com a intenção de estimular o crescimento de bactérias específicas com ação benéfica na flora intestinal, facilitando o funcionamento intestinal de lactentes. Mas quais são os reais efeitos da utilização de prebióticos na saúde da criança? Eles são realmente efetivos e vantajosos?



Descrição do caso e Fundamentos Bromatológicos

Os oligossacarídeos são o terceiro maior componente presente no leite materno, após a lactose e os lipídeos, e os não-derivados do leite materno ganharam muita atenção nos últimos anos. A suplementação de prebióticos em fórmulas infantis tem aumentado significativamente, como tentativa de manter uma flora bifido-dominante no sistema digestivo de crianças que não são amamentadas, impulsionando a indústria a destacar esses ingredientes nos rótulos e a difundir recomendações para a utilização de seus produtos.

Ao adicionar prebióticos às suas formulações, o objetivo da indústria de alimentos é tentar fazê-las parecer o máximo possível com o leite humano, de modo a atender à demanda de crianças que não recebem ou que recebem parcialmente esse alimento, fundamental para o desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Dessa forma, têm sido adicionados com a intenção de regular e facilitar a função intestinal do bebê, resultando em uma proliferação de bifidobactérias e lactobacilos, uma flora intestinal mais parecida com a de crianças amamentadas. Seu uso tem sido associado com uma redução na incidência e gravidade da diarreia infantil e reproduz os benefícios funcionais do leite humano, como o desenvolvimento do sistema imune.

Muitas fórmulas infantis no mercado utilizam prebióticos (GOS/FOS). Uma delas é o produto Aptamil, da marca Danone, que possui diversas variações, comercializadas em latas de 400g ou 800g.  Em praticamente todas as variações de Aptamil, é possível observar a presença desses prebióticos. Como exemplo, temos o Aptamil Profutura:






Análise da Legislação

Segundo a RDC n° 46 de 25 de setembro de 2014 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), quando estiverem presentes na composição do produto os nutrientes ácido araquidônico (ARA), ácido decohexaenoico (DHA), taurina, nucleotídeos, L-carnitina, fruto-oligossacarídeos (FOS), galacto-oligossacarídeos (GOS) ou outros nutrientes opcionais, devem ser declaradas suas quantidades na informação nutricional.

Com relação aos prebióticos, deve-se ter no máximo 0,8 g / 100 ml em uma combinação de 10% de FOS e 90% de GOS. E devem ser declarados na tabela nutricional logo abaixo de fibras alimentares, conforme determina o §3º do artigo 35 das Resoluções RDC n. 43 e 44/2011. E, de acordo com o artigo 21 da Resolução RDC n. 45/2011, os ingredientes opcionais previstos nos Regulamentos Técnicos para fórmulas infantis para lactentes podem ser adicionados, desde que comprovada a segurança de uso para os lactentes com necessidades específicas decorrentes de alterações fisiológicas, de doenças ou para a redução de risco de alergias em indivíduos predispostos, conforme o caso.

Ainda, para as fórmulas infantis, de acordo com o Informe Técnico nº 36 de 27 de junho de 2008 da ANVISA, os valores da informação nutricional devem ser declarados por 100g ou 100 ml do alimento preparado e pronto para o consumo ou declarados por 100 kcal.

Discussão

No caso do Aptamil, que tem alguns desses nutrientes presentes em sua composição, é declarado em “ingredientes” a presença desses constituintes, e na tabela de “informação nutricional” é especificada suas respectivas quantidades, incluindo os prebióticos GOS e FOS, que constam suas quantidades logo abaixo de fibras alimentares. Portanto, agem conforme é exigido na resolução. O critério do Informe Técnico nº 36 de 27 de junho de 2008 da ANVISA também é atendido.

Conceitualmente, a composição das fórmulas lácteas pretende se aproximar o máximo possível ao leite materno. Entretanto, há uma variedade de substâncias no leite humano (como os oligossacarídeos) que são de difícil incorporação nas fórmulas. São estruturas muito complexas, não estão disponíveis ingredientes com estrutura idêntica ao dos humanos. Assim, na busca por alternativas, as fórmulas lácteas e produtos para crianças têm sido suplementados com prebióticos (que devem ser utilizados com uma dosagem adequada, por um período correto). Nesse sentido, a mistura de GOS neutros e de FOS de cadeia longa tem sido identificada como ingredientes prebióticos eficazes, e sua atividade bifidogênica já foi comprovada em adultos. Eles têm sido combinados em fórmulas lácteas infantis para reproduzir o efeito prebiótico dos oligossacarídeos humanos do leite materno, entretanto sua ação não está completamente esclarecida.

Ainda, a fibra dietética solúvel afeta as disponibilidades de cálcio, ferro e zinco de formas positivas e negativas, dependendo do tipo de fibra alimentar utilizada. Alguns estudos mostram que a fibra oligofrutose reduziu significativamente a disponibilidade de ferro, e outros verificaram que a adição de inulina melhora a absorção de cálcio, aumentando sua disponibilidade de 13,5% para 17,2%. Porém, outros ensaios mostraram exatamente o contrário (menor absorção de cálcio com a suplementação). Todavia, pode ter sido associada ao baixo consumo, por isso é necessário estudos adicionais para verificar se a suplementação promove impacto na absorção de substâncias.

Conclusão e Recomendações

Embora os produtos disponíveis no mercado cumpram com as exigências legislativas e os prebióticos de fato apresentem efeitos benéficos, conclui-se que alguns aspectos duvidosos devem ser mais bem investigados, afim de avaliar a real eficácia e segurança da utilização desse suplemento em caráter imediato e a longo prazo, cumprindo com o artigo 21 da Resolução RDC n. 45/2011, onde diz que os ingredientes opcionais devem ter segurança comprovada de uso para os lactentes.

O real papel dos prebióticos na infância e a dimensão de seus efeitos não estão totalmente esclarecidos, é necessário a realização de novas pesquisas com o intuito de melhorar a compreensão de seus efeitos na flora intestinal das crianças. É importante verificar a tolerância em diferentes faixas etárias, em quantidades variadas do suplemento e considerando as características clínicas de saúde em que as crianças se encontram. Com isso, auxiliando a definir qual seria a dose segura de prebióticos a ser administrada às crianças suplementadas. As indústrias de alimentos também devem ter cautela na incorporação de prebióticos FOS/GOS em produtos lácteos, já que efeitos de sua utilização a longo prazo ainda não estão cem por cento esclarecidos.

Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITÁRIA. Perguntas & Respostas sobre Fórmulas Infantis. 2ª edição, 19 de junho de 2018. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/2810640/Formulas+infantis/b6174467-e510-4098-9d9a-becd70216afa > Acesso em 18 de abril de 2019.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 997, de 05 de dezembro de 1998. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1998/prt0977_05_12_1998_rep.html> Acesso em: 18 de abril de 2019.

DANONE. Nossos produtos: Fórmulas infantis. Disponível em: <http://www.danonebaby.com.br/formulas-infantis/> Acesso em: 18 de abril de 2019.

Elisabete Millani; Tulio Konstantyner; José Augusto de A. C. Taddei, Efeitos da utilização de prebióticos (oligossacarídeos) na saúde da criança. Revista paulista de pediatria vol.27 no.4 São Paulo Dec. 2009

Douwina Bosscher, Micheline Van Caillie-Bertrand, Rudy Van Cauwenbergh, e Hendrik Deelstra. Availabilities of Calcium, Iron, and Zinc From Dairy Infant Formulas Is Affected by Soluble Dietary Fibers and Modified Starch Fractions. Nutrition 2003;19:641– 645. © Elsevier Inc. 2003





Um comentário:

  1. A suplementação de fórmulas infantis com os prebióticos FOS e GOS podem facilitar o trânsito intestinal de lactantes no primeiro e segundo semestres de vida. Os prebióticos podem ser adjuntos dietéticos úteis para controlar infecções no sistema gastrintestinal e podem ser utilizados para modificar uma composição microbiológica complexa, principalmente quando grupos de lactentes que usam fórmula láctea com adição de prebióticos são comparados a lactentes que recebem fórmula láctea sem prebióticos.

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