Descrição do caso e Fundamentos Bromatológicos
Os oligossacarídeos são o terceiro maior componente presente no leite materno, após a lactose e os lipídeos, e os não-derivados do leite materno ganharam muita atenção nos últimos anos. A suplementação de prebióticos em fórmulas infantis tem aumentado significativamente, como tentativa de manter uma flora bifido-dominante no sistema digestivo de crianças que não são amamentadas, impulsionando a indústria a destacar esses ingredientes nos rótulos e a difundir recomendações para a utilização de seus produtos.
Ao adicionar prebióticos às suas formulações, o objetivo da indústria de alimentos é tentar fazê-las parecer o máximo possível com o leite humano, de modo a atender à demanda de crianças que não recebem ou que recebem parcialmente esse alimento, fundamental para o desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Dessa forma, têm sido adicionados com a intenção de regular e facilitar a função intestinal do bebê, resultando em uma proliferação de bifidobactérias e lactobacilos, uma flora intestinal mais parecida com a de crianças amamentadas. Seu uso tem sido associado com uma redução na incidência e gravidade da diarreia infantil e reproduz os benefícios funcionais do leite humano, como o desenvolvimento do sistema imune.
Muitas fórmulas infantis no mercado utilizam prebióticos (GOS/FOS). Uma delas é o produto Aptamil, da marca Danone, que possui diversas variações, comercializadas em latas de 400g ou 800g. Em praticamente todas as variações de Aptamil, é possível observar a presença desses prebióticos. Como exemplo, temos o Aptamil Profutura:
Análise
da Legislação
Segundo a RDC n° 46 de 25 de setembro de 2014 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), quando estiverem presentes
na composição do produto os nutrientes ácido araquidônico (ARA), ácido
decohexaenoico (DHA), taurina, nucleotídeos, L-carnitina, fruto-oligossacarídeos
(FOS), galacto-oligossacarídeos (GOS) ou outros nutrientes opcionais, devem ser
declaradas suas quantidades na informação nutricional.
Com relação aos prebióticos,
deve-se ter no máximo 0,8 g / 100 ml em uma combinação de 10% de FOS e 90% de
GOS. E devem ser declarados na tabela nutricional logo abaixo de fibras
alimentares, conforme determina o §3º do artigo 35 das
Resoluções RDC n. 43 e 44/2011. E, de
acordo com o artigo 21 da Resolução RDC n. 45/2011, os ingredientes
opcionais previstos nos Regulamentos Técnicos para fórmulas infantis para
lactentes podem ser adicionados, desde que comprovada a segurança de uso para
os lactentes com necessidades específicas decorrentes de alterações fisiológicas,
de doenças ou para a redução de risco de alergias em indivíduos predispostos,
conforme o caso.
Ainda, para as fórmulas infantis, de acordo com o
Informe Técnico nº 36 de 27 de junho de 2008 da ANVISA, os valores da
informação nutricional devem ser declarados por 100g ou 100 ml do alimento
preparado e pronto para o consumo ou declarados por 100 kcal.
Discussão
No caso do Aptamil, que tem alguns desses
nutrientes presentes em sua composição, é declarado em “ingredientes” a
presença desses constituintes, e na tabela de “informação nutricional” é
especificada suas respectivas quantidades, incluindo os prebióticos GOS e FOS,
que constam suas quantidades logo abaixo de fibras alimentares. Portanto, agem
conforme é exigido na resolução. O critério do Informe Técnico nº 36 de 27 de junho de
2008 da ANVISA também é atendido.
Conceitualmente, a
composição das fórmulas lácteas pretende se aproximar o máximo possível ao
leite materno. Entretanto, há uma variedade de substâncias no leite humano
(como os oligossacarídeos) que são de difícil incorporação nas fórmulas. São
estruturas muito complexas, não estão disponíveis ingredientes com estrutura
idêntica ao dos humanos. Assim, na busca por alternativas, as fórmulas lácteas
e produtos para crianças têm sido suplementados com prebióticos (que devem ser
utilizados com uma dosagem adequada, por um período correto). Nesse sentido, a
mistura de GOS neutros e de FOS de cadeia longa tem sido identificada como
ingredientes prebióticos eficazes, e sua atividade bifidogênica já foi
comprovada em adultos. Eles têm sido combinados em fórmulas lácteas infantis
para reproduzir o efeito prebiótico dos oligossacarídeos humanos do leite
materno, entretanto sua ação não está completamente esclarecida.
Ainda, a fibra dietética
solúvel afeta as disponibilidades de cálcio, ferro e zinco de formas positivas
e negativas, dependendo do tipo de fibra alimentar utilizada. Alguns estudos
mostram que a fibra oligofrutose reduziu significativamente a disponibilidade de
ferro, e outros verificaram que a adição de inulina melhora a absorção de
cálcio, aumentando sua disponibilidade de 13,5% para 17,2%. Porém, outros
ensaios mostraram exatamente o contrário (menor absorção de cálcio com a
suplementação). Todavia, pode ter sido associada ao baixo consumo, por isso é necessário
estudos adicionais para verificar se a suplementação promove impacto na
absorção de substâncias.
Conclusão
e Recomendações
Embora os produtos
disponíveis no mercado cumpram com as exigências legislativas e os prebióticos
de fato apresentem efeitos benéficos, conclui-se que alguns aspectos duvidosos
devem ser mais bem investigados, afim de avaliar a real eficácia e segurança da
utilização desse suplemento em caráter imediato e a longo prazo, cumprindo com
o artigo 21 da Resolução RDC n. 45/2011, onde
diz que os ingredientes opcionais devem ter segurança comprovada de uso para os
lactentes.
O real
papel dos prebióticos na infância e a dimensão de seus efeitos não estão
totalmente esclarecidos, é necessário a realização de novas pesquisas com o
intuito de melhorar a compreensão de seus efeitos na flora intestinal das
crianças. É importante verificar a tolerância em diferentes faixas etárias, em
quantidades variadas do suplemento e considerando as características clínicas
de saúde em que as crianças se encontram. Com isso, auxiliando a definir qual
seria a dose segura de prebióticos a ser administrada às crianças suplementadas.
As indústrias de alimentos também devem ter cautela na incorporação de
prebióticos FOS/GOS em produtos lácteos, já que efeitos de sua utilização a
longo prazo ainda não estão cem por cento esclarecidos.
Referências Bibliográficas
Elisabete Millani; Tulio
Konstantyner; José Augusto de A. C. Taddei, Efeitos da utilização de
prebióticos (oligossacarídeos) na saúde da criança. Revista paulista de pediatria vol.27 no.4 São
Paulo Dec. 2009
Douwina Bosscher, Micheline Van
Caillie-Bertrand, Rudy Van Cauwenbergh, e Hendrik Deelstra. Availabilities of
Calcium, Iron, and Zinc From Dairy Infant Formulas Is Affected by Soluble Dietary
Fibers and Modified Starch Fractions. Nutrition 2003;19:641– 645. © Elsevier
Inc. 2003
A suplementação de fórmulas infantis com os prebióticos FOS e GOS podem facilitar o trânsito intestinal de lactantes no primeiro e segundo semestres de vida. Os prebióticos podem ser adjuntos dietéticos úteis para controlar infecções no sistema gastrintestinal e podem ser utilizados para modificar uma composição microbiológica complexa, principalmente quando grupos de lactentes que usam fórmula láctea com adição de prebióticos são comparados a lactentes que recebem fórmula láctea sem prebióticos.
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