Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 30 de junho de 2019

Adição de DHA e ARA em fórmulas infantis x DHA e ARA no leite materno: Amamentar é sempre a melhor opção


Por que a amamentação é tão importante? Como o DHA e o ARA impactam na vida do recém-nascido?

               O aleitamento materno exclusivo é recomendado pelo Ministério da Saúde até os 6 meses e associado a outros alimentos até 2 anos de idade ou mais(1), no entanto, em casos de condições de saúde como a infecção pelo vírus HIV, HTLV ou uso de quimioterápicos, a lactante fica privada de amamentar(2). Nessas situações as fórmulas infantis surgem como solução ou opção para nutrir os recém-nascidos, e são, por definição, produtos em forma líquida ou em pó destinados à alimentação de lactentes, sob prescrição de profissional da saúde(3). Porém, mesmo tendo sido elaboradas com o intuito de se assemelhar ao leite materno, sua composição não se iguala as propriedades fisiológicas do mesmo, como já comprovado cientificamente. Além das fontes de carboidratos, proteínas e outros componentes presentes no leite humano diferirem em identidade e qualidade das formulações prontas(4).
              O DHA é um ácido graxo poli-insaturado de cadeia longa que possui funções bioquímicas e fisiológicas relevantes no metabolismo humano, como formação e funcionamento do sistema nervoso central e da retina, sendo um nutriente fundamental para o crescimento e desenvolvimento infantil. Está normalmente presente no leite materno e estudos demonstram que quando em altas concentrações está diretamente relacionado ao melhor crescimento e desenvolvimento do cérebro e do sistema visual em crianças, é considerado o ácido graxo mais importante no desenvolvimento neonatal(5). O ARA também tem cadeia longa, participa das estruturas celulares e do sistema imunológico, como precursor de mediadores inflamatórios. A importância do fornecimento de DHA e do ARA pela mãe se dá pela incapacidade do feto de sintetizar tais ácidos graxos, nesse momento estes são fornecidos através da placenta. Mesmo pós o nascimento o RN continua incapaz de sintetizá-los devido à imaturidade hepática, sendo assim, a mãe continua a suprir essas necessidades do RN, agora através do leite.
               Quando há a necessidade do uso de fórmulas infantis, mesmo as que contam com adição desses ácidos graxos, elas não se igualam em eficácia ao leite humano. Estudos bioquímicos em RN e prematuros indicam que os alimentados com formulações têm níveis significativamente mais baixos de DHA e ARA nas hemácias do que os bebês que se alimentam do leite materno, sugerindo que as formulações que contém apenas ácidos graxos essenciais podem não ser eficazes para atender as necessidades do RN. Além disso, recém-nascidos alimentados pelo leite humano apresentam maior acuidade visual(6).

Fórmulas infantis x leite materno

              Comparou-se a fórmula infantil Aptamil Premium 1 (DANONE) com o leite materno. Foi observado seu rótulo nutricional e este foi confrontado com os constituintes do leite fornecido pela mãe.

TABELA NUTRICIONAL APTAMIL PREMIUM 1 DANONE
Constituintes
Quantidade por 100mL
Carboidratos
7,3g
Proteínas
1,3g
Gorduras totais
3,5g
DHA
7mg
ARA
12mg

   




TABELA NUTRICIONAL LEITE MATERNO
Constituintes
Quantidade por 100mL
Carboidratos
7g
Proteínas
0,8 – 0,9g
Gorduras totais
3 – 4g
DHA
30mg
ARA
20mg


O que diz a lei?

               As RDC N° 42, 43, 44, 45 e 46 de 2011 são as resoluções que regulamentam as fórmulas infantis. A RDC 43/2011 dispõe sobre o regulamento técnico para fórmulas infantis para lactentes, esta regula quais componentes permitidos e em quais concentrações devem estar nos produtos. Sobre DHA e ARA, estes são elementos não obrigatórios nas formulações, sendo considerados aditivos. O DHA não deve ultrapassar 0,5% do conteúdo total de gorduras e o ARA deve atingir pelo menos a mesma concentração de DHA de acordo com a RDC. O produto Aptamil Premium 1 é uma fórmula de partida, indicada para o primeiro semestre de vida e se enquadra em todos os requisitos exigidos pela legislação brasileira, segundo informações contidas no rótulo.

Escolhendo a melhor opção

               Como citado em literatura e comprovado em estudos, o leite materno é a opção mais completa para alimentação do RN, pois possui os constituintes fundamentais para suprir a necessidade do mesmo. Alguns elementos sofrem alterações em suas concentrações de acordo com a alimentação da lactante, como o DHA e ARA, já outros, como os carboidratos, tem sua quantidade independente da dieta. Entretanto, quando não possível a amamentação as fórmulas infantis constituem a melhor opção, visto que o leite de vaca tem concentrações inadequadas e deficiências no que diz respeito a ácidos graxos, não atendendo a demanda dos bebês.
              Mesmo com a suplementação de DHA e ARA, estes não se encontram tão biodisponíveis nas formulações, como no leite materno. Isto é, apesar da presença e da quantidade, não são absorvidos de forma muito eficiente quando como na amamentação. Toda via, tendo em vista sua importância para o sistema cerebral e visual, optar por uma formulação com DHA e ARA é benéfico.

BIBLIOGRAFIA

1-    SAÚDE, M. Aleitamento materno, distribuição de leites e fórmulas infantis em estabelecimentos de saúde e a legislação. 1ed, Brasília: Ministério da Saúde, Brasília, p. 8, 2014.
2-    MANARINI, Thaís. Fórmulas infantis: modo de usar. Saúde é vital, p. 47-49, 2017.
3-    DE ARAÚJO, Thaíze. Fórmulas infantis: como e quando usar? Programa de pós graduação em alimentos e nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.unirio.br/ccbs/nutricao/ppgan_pt/alimentacao-e-saude/palestras/2015/formulas-infantis-quando-e-como-usar>. Acesso em: 16 Abril 2019.
4-    SAÚDE, M. Aleitamento materno, distribuição de leites e fórmulas infantis em estabelecimentos de saúde e a legislação. 1ed, Brasília: Ministério da Saúde, Brasília, pg. 17, 2014.
5-    Formula, Committee on the Evaluation of the Addition of Ingredients New to Infant. Infant Formula: Evaluating the Safety of New Ingredients. The national academies press, Washington, D.C., p. 17-18,2004.
6-    GONZALÉZ, Francisca Echeverría; BÁEZA, Rodrigo Valenzuela. In time: Importância dos ômega 3 na nutrição infantil.  Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, ed 35, p. 3-4, 2017.
7-    Simmer K, Schulzke SM, Patole S. Longchain polyunsaturated fatty acid supplementation in preterm infants. Cochrane Database Syst Rev, 2008.

Um comentário:

  1. Como o próprio trabalho já começa explicando a complexidade nutricional de um leita meter não se comparada ao de uma fórmula infantil, uma vez que os nutrientes provenientes de um leite são adquiridos através de uma alimentação balanceada e controlada para que o leite da lactante tenha todos os nutrientes necessários para suprir a necessidade do lactente. Enquanto em uma fórmula os ingredientes sintetizados e manipulados para que essa possa conter alguns dos nutrientes que são e importância para o desenvolvimento físico e intelectual do RN.
    O quadro de comparação da tabela nutricional, mostra que em relação aos macronutrientes a fórmula é muito similar ao leite materno, mas comparado com a quantidade DHA e ARA, não há comparação. O fato da RDC 43/2011 não indicar obrigação desses componentes e um limite máximo desses na composição, justifica os valores tão abaixo comparado ao leite materno, mesmo já tendo estudos comprovando a importância desses para o crescimento e desenvolvimento infantil, assim como atua no sistema visual e imunológico.
    O único a alerta a ser feio é que as fórmulas só deveriam ser utilizadas em casos de extrema necessidade onde a lactante é impossibilitada de amamentar, ou em casos de acima de 6 meses como complemento.

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