Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O consumo de balas de gelatina contendo adoçantes do tipo polióis podem causar efeitos gastrointestinais em crianças?

A empresa de balas e gomas Fini possui em sua linha as balas Fini Natural Sweets Diet. As balas são do tipo goma e apresentam formato de ursos de pelúcia, sugerindo o consumo é entendido para o público infantil em regime de ingestão controlada de açúcar. Entretanto, as balas contém dois adoçantes do tipo poliol (maltitol e sorbitol) que compreendem 80% do peso do produto. A rotulagem como zero açúcar poderia induzir o consumo excessivo por crianças e, devido ao conteúdo de poliois, poderia levar à ocorrência de perturbações gastrointestinais como diarreia osmótica. Apesar de ser difícil prever a ocorrência de tais distúrbios em crianças, o consumo exacerbado deste produto deve ser evitado, sobretudo por este público-alvo.

DESCRIÇÃO DO PRODUTO

Figura. Parte frontal da embalagem com os termos DIET, AROMAS NATURAIS e NATURAL SWEETS em destaque.
Tabela. Composição nutricional 

A empresa de balas e gomas Fini possui em sua linha as balas Fini Natural Sweets Diet. Este produto é vendido como diet e rotulado como indicado para utilização em dietas com restrição de carboidratos. Em sua composição encontramos os edulcorantes maltitol e sorbitol, ambos do tipo polióis, e a sua tabela de composição nutricional indica que de 18 g do produto, 15 g são de carboidratos, sendo que, destes, 14 g são de edulcorantes polióis. No rótulo, ainda se encontra a seguinte frase de advertência: “Não contém glúten. Este produto pode ter efeito laxativo. Consumir preferencialmente sob orientação nutricional ou médica.”. O rótulo apresenta na sua parte frontal em grande destaque os termos natural sweets (doces naturais, em inglês) e a palavra diet, em caixa alta. 

LEGISLAÇÃO

 Segundo a Resolução da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos nº 12, de 1978, as balas Fini Natural Sweets Diet atendem os critérios para serem designadas como bala de goma pois, segundo o texto, elas são um “produto preparado à base de gomas naturais, açúcares e adicionado de óleos essenciais ou extratos vegetais”. A Resolução RDC nº 18, de 24 de março de 2008 estabelece que não há limites máximos de quantidade dos edulcorantes maltitol e sorbitol como aditivo na fabricação de alimentos. De acordo com a Portaria SVS/MS Nº 29, de 13 de janeiro de 1998 o produto é categorizado como alimentos para dietas de ingestão controlada de açúcares por não ser adicionado de nenhuma quantidade de açúcar na fabricação. Ainda segundo a Portaria 29, o produto possui os requisitos legais para conter no seu rótulo o termo ‘diet’, uma vez que não possui açúcares. 

DISCUSSÃO

 O rótulo traz o anúncio de que o produto pode causar efeitos laxativos quando consumido em excesso. Este alerta é feito devido à presença de substâncias conhecidas como polióis ou álcoois de açúcar, que são usados como edulcorantes. Ambos os edulcorantes encontrados na composição nutricional do produtos são do tipo poliol. A agência americana Food and Drug Administration (FDA) define polóis como carboidratos que possuem características químicas de açúcares e álcoois. Estes compostos são encontrados naturalmente em pequenas quantidades em diferentes frutas e outros vegetais e também são comercialmente produzidas a partir de açúcares e amido. Quando produzidos, são adicionados como adoçantes de baixa caloria em produtos livres ou reduzidos de açúcar, tais como goma de mascar, sobremesas, balas e coberturas. Além do sabor doce, os polióis conferem massa e textura, ajudam a reter umidade e previne o escurecimento do alimento. Em doces mastigáveis, a adição de alguns tipos de poliois ajudam a diminuir a incidência de cáries dentárias. Apesar das suas propriedades bromatológicas benéficas, o consumo destes compostos é frequentemente associado a distúrbios intestinais (Makinen, 2016) O maltitol é produzido a partir da hidrogenação de hidrolisados de amido e contém uma alta proporção de maltose, um dissacarídeo natural. Após a ingestão, o maltitol é lentamente hidrolisado por enzimas do intestino, gerando glicose e sorbitol. Ao passo em que a glicose é absorvida, a absorção do sorbitol é incompleta e este acaba sendo digerido pela microbiota intestinal. A fermentação dos poliois não absorvidos gera flatulência e, quando não fermentados, estes compostos provocam diarreia osmótica. (Ruskone-Fourmestraux, 2003) Um estudo de tolerância ao maltitol (Ruskone -Fourmestraux, 2003) realizado em adultos após ingestão ocasional e regular de chocolate contendo este tipo de edulcorante mostrou que apenas o seu consumo muito elevado é capaz de aumentar a frequência de diarreia nos pacientes. Entretanto, os pacientes avaliados no estudos eram adultos e sabe-se que a idade do consumidor pode influenciar na aceitabilidade dos poliois (Grabitske, 2008). Outros estudos (Livesey, 2001) demonstram o aumento da frequência de laxação relacionado à quantidade ingerida de sorbitol e maltitol presentes em diferentes tipos de produto. Quando a quantidade de 0.7 g de sorbitol por kg de massa corporal é capaz de provocar diarreia em 60% dos pacientes testados enquanto que a mesma frequência de eventos diarreicos é provocada por 0.6 g de maltitol por kg de peso corporal. Outros edulcorantes do tipo poliois – isomalte e xilitol – são conhecidos por causar efeitos laxantes mais pronunciados em crianças do que em adultos (Storey, 2002; Makinen, 2016). O destaque dado aos termos diet e natural sweets na embalagem poderia induzir o consumo exacerbado das balas por crianças e aumentar o risco de perturbações gastrointestinais. Uma legislação específica para produtos diet entendidos para uso infantil, como já ocorrem em outros países, como Austrália e Nova Zelândia (FSANZ), incluindo normas para rotulagem, poderia diminuir as probabilidades de ocorrência de tais eventos.

 CONCLUSÕES

 A maioria dos estudos envolvendo os edulcorantes maltitol e sorbitol envolvem indivíduos adultos. Não se pode, portanto, toma-los por base prever a tolerância de crianças a estes aditivos quando consumindo as balas de goma em questão. O menor peso corporal, a fisiologia diferenciada e a maior frequência de consumo destes produtos podem interferir na tolerabilidade a estas substâncias. Ao examinar a embalagem do produto, podemos concluir que o produto estudado aqui está adequado às normas da legislação. O produto também cumpre as exigências das Listas de referência de compostos de nutrientes para sua utilização em alimentos para fins dietéticos especiais destinados a lactentes e crianças menores do Codex Alimentarium.

 REFERÊNCIAS


  •  MÄKINEN, Kauko K.. Gastrointestinal Disturbances Associated with the Consumption of Sugar Alcohols with Special Consideration of Xylitol: Scientific Review and Instructions for Dentists and Other Health-Care Professionals. International Journal Of Dentistry, [s.l.], v. 2016, p.1-16, 2016. Hindawi Publishing Corporation. http://dx.doi.org/10.1155/2016/5967907. 
  • GRABITSKE, Hollie A.; SLAVIN, Joanne L.. Low-Digestible Carbohydrates in Practice. Journal Of The American Dietetic Association, [s.l.], v. 108, n. 10, p.1677-1681, out. 2008. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.jada.2008.07.010. 
  • LIVESEY, Geoffrey. Tolerance of low-digestible carbohydrates: a general view. British Journal Of Nutrition, [s.l.], v. 85, n. 1, p.7-16, mar. 2001. Cambridge University Press (CUP). http://dx.doi.org/10.1079/bjn2000257. 
  • STOREY, David M.; LEE, Adam; ZUMBÉ, Albert. The comparative gastrointestinal response of young children to the ingestion of 25 g sweets containing sucrose or isomalt. British Journal Of Nutrition, [s.l.], v. 87, n. 04, p.291-297, abr. 2002. Cambridge University Press (CUP). http://dx.doi.org/10.1079/bjn2001513. 
  • A RUSKONÉ-FOURMESTRAUX, et al. A digestive tolerance study of maltitol after occasional and regular consumption in healthy humans. European Journal Of Clinical Nutrition, [s.l.], v. 57, n. 1, p.26-30, jan. 2003. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1038/sj.ejcn.1601516.

3 comentários:

  1. Como um saco e caguei até umas hora... Obrigada pela confirmação

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  2. Idem. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Comi meio saquinho a noite e tive diarréia na madrugada. Aí, antes de voltar do almoço para o trabalho comi o resto de sobremesa sem peso na consciencia por causa da ausência do açucar. Foi quando li na embalagem sobre o possível efeito laxativo e entendi o que tinha me causado a diarréia. Aí já era tarde demais. Não foi um dia nada agradável.

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  3. Não deem para crianças ! Um crime o efeito laxativo do sorbitol !!!! Dos males o menor, prefiro dar poucas balinhas com açúcar do que estás com adoçante !! NÃO COMPREM !

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