Figura 1: Bala Fini Natural Sweets Ômega 3.
O ômega 3, presente em alguns alimentos, traz
diversos benefícios à saúde. Tendo isso em vista, muitas marcas da indústria de
alimentos vêm adicionando esse tipo de ácido graxo a produtos como margarinas,
leites, iogurtes, pães, sucos, ovos. Recentemente, foram lançadas as balas Fini
Ômega 3 da linha Natural Sweets, o que levanta o seguinte questionamento: será
que o consumo dessas balas contribui para alcançar os valores diários
recomendados de ômega 3?
Descrição do produto
O produto destacado é composto por balas ditas como
Fonte de ômega 3, com sabor morango e limão, dispostas em pacotes de 18g.
Possui como ingredientes: Açúcar, Xarope de
Glicose, Farinha de Trigo Enriquecida Com Ferro e Ácido fólico, Amido
Modificado, Óleo de Peixe, Água, Gordura Vegetal Parcialmente
Hidrogenada de Soja, Óleo Vegetal não Hidrogenado de Coco e Palmiste, Sal,
Reguladores de Acidez: Ácido Málico e Citrato Trissódico, Gelificante:
Gelatina, Acidulantes: Ácido Láctico e Ácido Cítrico, Aromas Naturais de
Morango e Limão, Emulsificante: Ésteres de Mono e Diglicerídeos com Ácidos
Graxos, Umectante: Glicerina, Antioxidantes: Lactato de Sódio e Ascorbato de
Sódio e Corante Natural Antocianina.
Sua tabela nutricional que encontra-se abaixo é
apresentada no verso da embalagem do produto:
Tabela 1: Informações nutricionais
Bala Fini Natural Sweets Ômega 3
Fundamentos Bromatológicos
Os ácidos graxos ômega-3 são uma classe
essencial de ácidos graxos polinsaturados, nos quais a primeira dupla ligação,
a partir do grupo metila se encontra no carbono 3. Dentre esses ácidos graxos,
os considerados clinicamente importantes incluem: ácido alfa linolênico (ALA; 18:3),
ácido eicosapentanoico (EPA; 20:5) e ácido docosahexaenoico (DHA; 22:6) (Figura
2).
Figura 2: Estrutura
química de três ácidos graxos ômega 3.
Disponivel em: < http://www.saberatualizado.com.br/2016/03/o-omega-3-previne-problemas-cardiacos.html>.
Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a
ingestão regular de peixe na dieta tem efeito favorável sobre os níveis de
triacilgliceróis, na pressão sanguínea, no mecanismo de coagulação, no ritmo
cardíaco, na prevenção do câncer de cólon e na redução da incidência de
aterosclerose (Santos & Bortolozo, 2008).
As
fontes dos ácidos graxos ômega-3 são:
·
Ácido alfa linolênico: encontrado em
folhas verdes e em sementes oleaginosas, como também na semente de linhaça,
mostarda e óleo de soja;
·
Ácido docosahexaenoico e Ácido
eicosapentaenoico (EPA): presentes principalmente nos peixes de aguas frias (como
a cavala, o arenque e o salmão). Os peixes brancos magros (como bacalhau e
linguado) contém apenas quantidades pequenas de EPA e DHA;
Nos casos de
deficiência de ômega 3, o indivíduo pode apresentar ansiedade, hiperatividade e
prejuízo de cognição (Bondi et al., 2013).
Em relação à toxicidade, quando consumido em altas quantidades, o ômega 3 pode causar um impacto negativo no tempo de
coagulação, na peroxidação lipídica, na função imune e no metabolismo lipídico
e de glicose, sendo estabelecido pelo FDA um consumo máximo de 3g/dia.
Legislação
De
acordo com a RDC n. 54/2012, para que haja alegações nutricionais do tipo
“Fonte de ômega 3” em alimentos, estes devem conter o valor mínimo de 40 mg de
EPA e DHA por porção do alimento.
Quanto
à definição de porção, a RDC 359/2003 na qual é apresentado o
Regulamento técnico de porções de alimentos embalados para fins de rotulagem
nutricional, define como “quantidade média do alimento que deveria ser
consumida por pessoas sadias, maiores de 36 meses de idade em cada ocasião de
consumo, com a finalidade de promover uma alimentação saudável”. Conforme essa
RDC, balas, pirulitos e pastilhas, que são alimentos de consumo ocasional, estão
enquadrados no grupo de alimentos VII – Açúcares e produtos que fornecem
energia provenientes de carboidratos e gorduras, e portanto devem conter 20g
por porção (é permitida variação máxima de ± 30% em relação ao valor em gramas
ou mililitros estabelecido para a porção do alimento).
Devido ao surgimento de numerosas evidências de benefícios à saúde
associados ao EPA e DHA, diversas agências e organizações ao redor do mundo
estabeleceram recomendações diárias para EPA e DHA, a fim de que haja promoção
da saúde e redução do risco de doenças crônicas. A ingestão adequada (AI) de Ácido
alfa linolênico (um tipo de ácido graxo ômega 3 de origem vegetal) determinada
pelo Institute of Medicine of the National Academies é de 1,6 g/dia para homens
entre 19 e 70 anos, e 1,1 g/dia para mulheres entre 19 e 70 anos. Ainda segundo
esse mesmo Instituto, o Intervalo de distribuição aceitável de macronutrientes
(AMDR) é de 0.6–1.2% de energia, onde 10% do AMDR de ácido alfa linolênico pode
ser consumido na forma de EPA e/ou DHA. Além disso, a American Dietetic
Association (ADA) recomenda consumo de 500 mg/dia de EPA e DHA.
Discussão
As balas Fini ômega 3 apresentam 56 mg de ômega 3 por porção de 18 g,
estando de acordo com a RDC n. 54/2012 ao defini-las como fonte
desse tipo de ácido graxo polinsaturados.
Em
sua composição, destaca-se o óleo de peixe como fonte de ômega 3, contendo
portanto EPA e DHA. Tendo como base a recomendação de
consumo diário de 500 mg/dia de EPA e DHA, para alcançar esse valor apenas pelo
consumo desses pacotes de 18g, seria necessário o consumo de aproximadamente 9
pacotes, resultando em uma alta ingestão de carboidratos e outros nutrientes. Apesar
de ser principalmente encontrados em peixes, EPA e DHA também estão presentes
em outras fontes de origem animal, que são exemplificadas na Tabela 3 (Martin et al., 2006).
Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura em 2013, o consumo per capita de peixe no Brasil é de
9 Kg/ano, valor abaixo dos 12 Kg/ano recomendados pela OMS, ressaltando a
importância da introdução de alternativas alimentares contendo ômega 3. Além
disso, foi apresentado em 2013 no Simpósio Latino Americano de Ciências de
Alimentos um estudo onde aponta maior consumo de ômega 3 pela população jovem
brasileira (1,25 g/dia) quando comparado com adultos e idosos. Esse mesmo
estudo atribui o resultado a uma maior ingestão de produtos industrializados,
como salgadinhos e biscoitos.
Conclusão
Apesar da
pequena quantidade de ômega 3 presente nas balas Fini em questão, existe uma
contribuição para que haja ingestão adequada de ômega 3, porém deve ser feito o consumo complementar de outros alimentos contendo ômega 3.
Referências
1.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Resolução RDC n. 359, de 23 de Dezembro de 2003. Aprova Regulamento
Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem
Nutricional. Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 26 de dezembro de
2003.
2.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Resolução RDC n. 54, de 12 de novembro de 2012. Dispõe sobre o
Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar. Diário Oficial
da União, Poder Executivo, de 13 de novembro de 2012.
3.
BONDI, C. O. et al. Adolescent behavior and dopamine availability are uniquely
sensitive to dietary omega-3 fatty acid deficiency. Biological psychiatry, v.
75, n. 1, 2014.
4.
Disponível em: < http://www.onu.org.br/consumo-per-capita-de-peixes-cresce-no-brasil-diz-fao/>.
Acesso em: 05/01/2016.
5.
FOOD AND DRUG
ADMINISTRATION. Letter Regarding Dietary Supplement Health Claim for Omega-3
Fatty Acids and Coronary Heart Disease. 2000, 34p.
6.
INSTITUTE OF MEDICINE. Food and
Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber,
Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids. Washington, DC:
National Academy Press, 2005, 1357p.
7. KRIS-ETHERTON, PENNY M. et al.
n-3 Fatty Acids: Food or Supplements? Journal of the American Dietetic
Association, v. 108, n. 7, p. 1125 – 1130, 2008.
8.
MARTIN, C. A. et al.
Ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 e ômega-6: importância e
ocorrência em alimentos. Revista de nutrição, v. 19, n. 6, p. 761-770, 2006.
10. SANTOS,
M. A.; RIZZATO, G. T. Estimativa da ingestão de ácidos graxos trans, ômega 6 e
3 pela população brasileira. Disponível em: https://proceedings.galoa.com.br/slaca/slaca-2013/trabalhos/estimativa-da-ingestao-de-acidos-graxos-trans-omega-6-e-3-pela-populacao-brasileira>.
Acesso em: 05/01/2016.
Muito interessante o trabalho apresentado, desconhecia dessa bala com Ômega 3.
ResponderExcluirPorém fica o questionamento, vale a pena o consumo desta bala com o ômega 3, mesmo tendo outros ingredientes como áçucar, corantes, acidulantes e outras coisas que se consumidos em grande quantidade não seria tão bom para a saúde?
Esse trecho do texto acho que responde o questionamento "Tendo como base a recomendação de consumo diário de 500 mg/dia de EPA e DHA, para alcançar esse valor apenas pelo consumo desses pacotes de 18g, seria necessário o consumo de aproximadamente 9 pacotes, resultando em uma alta ingestão de carboidratos e outros nutrientes."
O consumidor talvez sem muita instrução e com pouco conhecimento talvez poderia fazer um consumo muito alto deste produto, por ser vendido como um produto com ômega 3 e aparentemente saudável mas por outro lado ter um aumento da glicose.
O ideal é que o fabricante informe todas essas questões ao consumidor e que a pessoa também busque outros meios de consumo de ômega 3 como por exemplo os citados no texto: peixes, semente de linhaça e outro. Desta forma as pessoas irão obter ômega 3 e de uma forma mais saudável.
Definitivamente não vale a pena, maior enganação.
ResponderExcluirO texto possibilita o entendimento sobre os ácidos graxos ômega-3, sua importância nutricional e expõe detalhadamente as informações nutricionais contidas nas balas. Faz-se uma análise em relação a quantidade de balas deveriam ser consumidas para ter a dose de ômega 3 recomendada diariamente. Discute corretamente os dados relacionando-os às legislações.
ResponderExcluirSegundo o autor, seriam necessários o consumo de 9 pacotes de balas para suprir a necessidade recomendada de ômega 3. Nesse sentido faltaram informações a respeito das consequências que as outras substâncias contidas na bala poderiam causar para a saúde se ingeridas em excesso. Por exemplo, se a pessoa consumir 9 pacotes de bala por dia, quanto de açúcar iria ingerir?
Na discussão e conclusão do texto esse questionamento poderia ter sido melhor abordado.
(autora do último comentário)
ExcluirTexto bem formulado, compara as políticas públicas já definidas com o recorte desejado, possibilitando uma compreensão melhor do tema
ExcluirEntretanto, ainda fica um a pergunta: Há benefício real no consumo, considerando os outros nutrientes?
Há um ponto pacífico, onde esses precursores araquidônicos fazem parte do sistema endocanabinóide, podendo gerar desbalanços dopaminérgicos durante o crescimento.(1)
Os açúcares, sabidamente causam problemas endócrinos em consumo excessivo.
Não há evidências de que o consumo proposto seja mais benéfico do que outras fontes separadas.
Referências: (1) - BONDI, C. O. et al. Adolescent behavior and dopamine availability are uniquely sensitive to dietary omega-3 fatty acid deficiency. Biological psychiatry, v. 75, n. 1, 2014.
Seria interessante também ressaltar e esclarecer que, por ser um alimento, não é uma exigência que sejam feitos estudos para comprovar eficácia para que o fabricante consiga realizar o registro do produto. Existe apenas a exigência de quantidade mínima presente na composição do alimento para que o fabricante possa adicionar essa informação como destaque no rótulo. Ou seja, apesar da proposta do fabricante de entregar um produto enriquecido com algum nutriente, pode não haver uma garantia de que de fato será acrescido algum benefício ao consumidor. Para alimentos com a proposta de nutrientes adicionados na fórmula, é importante que o consumidor faça uma análise e se pergunte se realmente vale o investimento, pois existe a possibilidade de ser um produto cujo benefício proposto é incerto.
ResponderExcluirApesar da ideia de produzir um bala de goma com concentração de ômega 3 (proveniente do óleo de peixe) ser positiva, visto que há uma intenção de promoção à saúde por suplementação, na prática essa ideia se torna questionável. Como já foi abordado pelo autor do trabalho, para que se obtenha a quantidade diária necessária de ômega 3, a partir desse alimento, deve-se ingerir 9 pacotes do produto. Entretanto, com isso, há a ingestão de outros componente, como o carboidrato, por exemplo, que tem um dose diária estabelecida pela RESOLUÇÃO - RDC Nº 360, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2003 de 300g. Considerando essa informação, chega-se à conclusão que o consumo de carboidratos diário a partir dessa bala, é de, aproximadamente, 140g, o que é relativamente alto, pois representa 47% do recomendado para adultos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA Ideia inicial é muito boa, uma bala coisa que já consumimos no nosso dia a dia, que ainda vai suprir as porcentagens do ômega 3, a ideia para uma criança por exemplo a um primeiro olhar parece fantástica, já que muitas crianças só comem o que acham "gostoso" e as grandes fontes de ômega 3, como os óleos de peixes, não são tão palatáveis como um pacote de balas cheias de açúcar e edulcorantes para mascarar o sabor desagradável, mas qual o preço disso? Uma quantidade exorbitante de açúcares, corantes, mascarantes, os quais podem levar a quadros de cáries, alterar os padrões de açúcar e podendo levar a um quadro de diabetes ao longo de anos, fora que os níveis de ômega 3 presentes nessa bala, são muito baixos, afim de suprir as necessidades diárias, seria necessário o consumo de 9 pacotes, imaginar 9x o valor de açúcares, e edulcorantes contidos nesse produto me põe a pensar se ele realmente é tão "fofo" quanto nos aparenta, ou se é mais um vilão disfarçado de moçinho graças a falta de regulamentação que vá ser incisiva e rígida com alimentos, será que vamos continuar pagando esse preço? ou vamos ensinar as pessoas que se alimentar não deve ser só de coisas "gostosas" mas também de coisas que são necessárias?
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