Devido a necessidade crescente de produtos mais
práticos e prontos para consumo, além do avanço da tecnologia de alimentos, se
tem notado um aumento de novos produtos alimentícios, como por exemplo, o
néctar de fruta industrializado. Estes estão disponíveis no mercado em grande
número e variedades de sabor, marca e para diferentes públicos (dietéticos e
light).
O mercado brasileiro de néctares de fruta,
especialmente o de laranja, vem crescendo consideravelmente, visto que é uma
opção considerada prática, “saudável” e conveniente para os consumidores, e,
além disto, uma grande oportunidade para os fabricantes, visto que o Brasil é o
maior produtor de laranjas do mundo, segundo o MAPA.
Para estes néctares de fruta serem considerados de boa
qualidade, devem apresentar atributos semelhantes ao produto original, o qual
seria o suco de fruta in natura. Para isto, muitas marcas aderiram a
adição de ácido ascórbico (vitamina C). Porém, pode ocorrer degradação desta
vitamina em diferentes etapas da fabricação do produto e pós fabricação. Tendo
em vista esta informação, surge o questionamento: seria o néctar de fruta uma
boa fonte de vitamina C para o ser humano?
DESCRIÇÃO DO PRODUTO
Segundo o artigo 21 do decreto Nº 6.871,
de 4 de Junho de 2009, néctar é a bebida não fermentada, obtida da diluição em
água potável da parte comestível do vegetal ou de seu extrato, adicionado de
açúcares, destinada ao consumo direto. No parágrafo segundo deste mesmo artigo
encontra-se a definição de néctar misto, onde tem-se que este trata-se de uma
bebida obtida da diluição em água potável da mistura de partes comestíveis de
vegetais, de seus extratos ou combinação de ambos, e adicionado de açúcares,
destinada ao consumo direto.
O produto em questão oferecido pelo
fabricante Del Valle se apresenta como néctar misto de
laranja e maçã com vitaminas, minerais e sem conservantes, assim como a
fruta. Como informado no site do
fabricante (figura 1), as receitas são fortificadas com os principais nutrientes
de cada fruta perdidos no processo de fabricação. Assim, garantem que 1 copo de
Del Valle Laranja seja rico em Vitamina C, assim como 1 laranja.
Figura 1. Principais características do néctar de fruta Laranja Del
Valle.
Figura 2. Informação
nutricional do Del Valle néctar laranja.
Figura 3. Embalagem do
néctar misto de laranja e maçã Del Valle.
LEGISLAÇÃO
A legislação vigente que regula a padronização, a classificação,
o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas trata-se da Lei
no 8.918, de 14 de julho de 1994, a qual é regulamentada pelo decreto Nº 6.871,
de 4 de Junho de 2009.
Além destas, o MAPA (Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, através das intruções normativas Nº 12, de 4 de
Setembro de 2003 e Nº 42, de 11 de Setembro de 2013, aprova o regulamento
técnico para fixação dos padrões de identidade e qualidade dos sucos tropicais
de abacaxi, acerola, cajá, caju, goiaba, graviola, mamão, manga, mangaba,
maracujá e pitanga; e os padrões de identidade e qualidade dos néctares de
abacaxi, acerola, cajá, caju, goiaba, graviola, mamão, manga, maracujá, pêssego
e pitanga, além de laranja e uva.
Na instrução normativa Nº 42, de 11 de Setembro de
2013 é apresentado no artigo terceiro a quantidade mínima de suco da fruta para
os néctares de laranja e uva, as quais devem seguir:
I - 30% (m/m) (trinta por cento massa massa) a partir
da publicação desta Instrução Normativa;
II - 40% (m/m) (quarenta por cento massa massa) a
partir de 31 de janeiro de 2015; e
III - 50% (m/m) (cinquenta por cento massa massa) a
partir de 31 de janeiro de 2016.
A RDC Nº 360 de 2003 informa sobre a rotulagem
nutricional obrigatória, onde no item 3 informa que é obrigatório declarar na
rotulagem nutricional a quantidade do valor energético e dos seguintes
nutrientes: carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas,
gorduras trans, fibra alimentar e sódio. A declaração do teor das vitaminas e
minerais que constam no anexo A é opcional, sempre e quando estiverem presentes
em quantidade igual ou menor a 5% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) por
porção indicada no rótulo.
Nenhuma das legislações vigentes torna compulsório a
adição de vitamina C nos néctares de fruta ou trata de quantidade mínima
necessária para os mesmos.
DISCUSSÃO E FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS
Os seres humanos não são capazes de sintetizar
vitamina C, e para isto devem ingeri-la em sua alimentação, visto que a mesma
possui grande importância para o organismo, sendo antioxidante, facilita
absorção do ferro, fortalece o sistema imunológico, participa da sintese de
alguns aminoácidos e síntese do colágeno e atua com função antiescorbútica.
Um produto que se propõe como fonte de vitamina C é o
néctar de fruta, o qual é fortificado com a mesma. Devido a termolabilidade
desta vitamina e de sua alta instabilidade há uma degradação da mesma durante a
fabricação do néctar de fruta, especialmente em consequencia do tratamento
térmico e da temperatura de estocagem. Portanto, a exposição à luz ou ao calor
seriam prejudiciais para a garantia da quantidade de vitamina C no produto,
tanto durante o processo de fabricação quanto durante sua estocagem até o
consumo final. Este dado foi comprovado em estudo pela EMBRAPA, o qual verificou que os parâmetros temperatura e tempo influenciaram significativamente na degradação
do ácido ascórbico.
Além disto, estudos apresentados no estudo de Cardoso et al. sugerem que o acréscimo de açúcar
também reduz o teor vitamínico e, visto que os néctares de fruta possuem alta
concentração de açúcar, sendo este seu segundo principal componente, este
também seria um agravante para a degradação da vitamina C adicionada.
Dos fatores que contribuem para a degradação da vitamina C, podemos destacar além da temperatura, a concentração sal e açúcar, o pH, o oxigênio, as enzimas e os catalisadores metálicos. A perda desta vitamina pode ocorrer durante processos de aumento de temperatura, na lixiviação de alimentos, em pH maior que 4 devido a um rearranjo irreversível a material biológico inativo, o qual também ocorre na presença de íons Cobre.
Ademais, existem estudos brasileiros onde foram
analisados néctares de laranja, uva, manga, goiaba, tangerina e abacaxi a
partir de três diferentes marcas para cada sabor onde os resultados mostraram
que a maioria dos néctares apresentou quantidade de vitamina C inferior ao
informado no rótulo, mostrando que há uma degradação da vitamina em questão.
Estes mesmos estudos informam que para atingir a ingestão diária recomendada de
acordo com a quantidade de ácido ascórbico verificado nos sucos os consumidores
deveriam ingerir, no caso do néctar de laranja, quatro copos e no caso do
néctar de uva, cinquenta copos.
CONCLUSÃO
Considerando os estudos analisados, a legislação vigente
e o produto analisado pode-se concluir que o néctar de fruta não é a opção mais
indicada para ser utilizada como única ou principal fonte de vitamina C, pois esta sofre
degradação durante o processo de fabricação, estocagem e após aberto. Além
disso, trata-se de uma bebida altamente calórica, contendo inclusive mais
carboidrato do que refrigerantes. Porém, deve-se informar que o produto
analisado néctar misto de laranja e maçã Del Valle encontra-se dentro das
normas vigentes quanto a rotulagem e informação nutricional e não possui
obrigação de fortificar com vitaminas o néctar de fruta produzido.
Para ingestão adequada e saudável dessa vitamina, a
melhor opção apresentada nos estudos analisados foi o suco de laranja in
natura produzido para consumo imediato para evitar degradação da vitamina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Presidência da República. Casa
Civil. Decreto Nº 6.871, de 4 de Junho de 2009. Brasília: 2009.
CARDOSO, Josieli Ayres da Cruz; ROSSALES, Rosimeri;
LIMONS, Bruna; REIS, Simone Farias; SCHUMACHER, Bianca Oliveira; HELBIG,
Elizabete. Teor e estabilidade de vitamina C em sucos in natura e
industrializados. O Mundo da Saúde, São Paulo, v.
39, n. 4, p. 460-469, 2015. Disponível em
<http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/155572/A07.pdf>. Acessado
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Del Valle, Del Valle. Disponível em: <
http://www.delvalle.com.br/pt/produtos/del-valle-nectar/>. Acesso em: 14 de
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FERRAREZI, Alessandra Carvalho; SANTOS, Karina Olbrich
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fruta, com ênfase no suco de fruta pronto para beber. Rev. Nutr., Campinas, v.
23, n. 4, p. 667-677, Ago. 2010. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732010000400016&lng=en&nrm=iso>.
Acessado em 14 Jan. 2017.
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Instrução Normativa Nº 42, de 11 de Setembro de 2013. Disponível
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Acesso em: 14 de Janeiro de 2017.
OLIVEIRA, Maria Elisabeth Barros; ALMEIDA, Ricardo Farias de. Estabilidade do ácido ascórbico em suco de caju em função da temperatura, dulcificação e tempo de estocagem. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/34612/1/AT10058.pdf>. Acesso em: 18 de Janeiro de 2017.
PEREIRA, Vinicius Rodrigues. Ácido Ascórbico – características, mecanismos de
atuação e aplicações na indústria de alimentos. 2008. 40 f. Monografia - Departamento de Ciência dos Alimentos, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. 2008.
Autora: Rebecca da Fonseca Marques de Abrantes
Estudante de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
DRE: 111273235
Este trabalho mostra exatamente o que as pessoas vem fazendo para adquirir a vitamina C, de maneira mais pratica, porém esta maneira não necessariamente é a mais correta.
ResponderExcluirVisando que é um alimento industrial e que passa por processos que podem influenciar e acabar alterando o seu principal objetivo. Como dito no trabalho, que a temperatura, a forma de estocagem, a quantidade de açúcar ali presente interfere e degrada esta vitamina C.
Então podemos optar por outras fontes de vitamina C mais seguras como a ingestão de frutas. Além do que suco de caixa tem um teor muito alto de carboidratos que acaba prejudicando a saúde do individuo.
Por se apresentar como um produto rico em vitaminas, minerais, sem conservantes e como néctar misto de laranja e maçã acaba trazendo a ideia de que é algo saudável e benéfico para a população consumir diariamente. Porém, ao analisar o rótulo percebe-se que é um alimento extremamente calórico possuindo alto teor de carboidratos, sendo assim, mesmo com a vitamina C presente, não seria uma boa opção uma vez que a mesma sofre influência de diversos fatores e degrada facilmente. O ideal é substituir estes produtos industrializados e ricos em açúcares por outras fontes de vitamina C, como por exemplo, a própria fruta, que além de ser mais saudável possui a recomendação de vitamina C diária necessária.
ResponderExcluirA vitamina C deve ser ingerida pois o organismo humano não é capaz de sintetiza-la. Com isso, existem diversas fontes no mercado que possibilitam a ingestão desta vitamina que é tão importante para o nosso corpo.
ResponderExcluirObservou-se nesse trabalho que a quantidade de Vitamina C em sucos industrializados é menor devido a degradação da vitamina por ser bastante instável por ser termolábil e pela adição de açúcar.
Então se existe um indivíduo com deficiência de vitamina C, antes de começar a ingerir sucos industrializados, a pessoa deverá consultar um médico para que o mesmo possa recomendar outras fontes mais saudáveis como a fruta in natura ou medicamentos a base de acido ascórbico que também são muito eficazes e vão aumentar a quantidade de vitamina C no organismo do paciente e melhorar a carência desta vitamina.