Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

MFGM no Enfamil NeuroPro Infant

O Enfamil NeuroPro Infant é uma fórmula infantil para lactentes que possui em sua composição uma mistura de MFGM e DHA, e por isso, faz a promessa de entregar ao seu bebê um melhor desenvolvimento cognitivo nos primeiros 12 meses de vida quando comparado com outras fórmulas.

Descrição do produto:

O Enfamil NeuroPro Infant trata-se de uma Infant fórmula que assim como tantas outras marcas de leite infantil faz a promessa de mimetizar as características e, principalmente, os benefícios do leite materno. Mas diferentemente de outras fórmulas, a empresa afirma que o mesmo ajuda no desenvolvimento cognitivo dos bebês devido a presença de uma mistura de membrana de glóbulo de gordura do leite (MFGM, sigla em inglês para Milk Fat Globule Membrane) - que foi demonstrado que ajuda a diminuir a lacuna no desenvolvimento cognitivo entre bebês alimentados com leite materno e bebês alimentados com fórmula infantil - e doses clinicamente comprovadas de ácido docosahexaenóico (DHA), esse segundo comumente encontrado em outras fórmulas infantis.
Na descrição do produto, além do destaque com relação à presença de MFGM, outras 3 características são chamadas à atenção, são elas: DHA em quantidades adequadas de acordo com pesquisas clínicas; da mesma forma, presença de inositol em concentrações ideais; e por fim, destaque para a não presença de ingredientes geneticamente modificados.

Fundamentos bromatológicos:

Bromatologicamente falando, é importante destacar que nós não encontramos o principal componente, o MFGM, descrito nos ingredientes, mas sim a expressão “Whey Protein-Lipid Concentrate (Milk)”, que logo abaixo da descrição dos ingredientes, aparece destacado como “a source of MFGM”, ou seja, uma fonte do nosso componente principal. Isso também acontece com os probióticos, o ácido araquidônico e o DHA, que aparecem nos ingredientes como galactooligossacarídeos e polidextrose (probióticos), Mortierella alpina oil (fonte de ácido araquidônico) e Schizochytrium sp. oil (fonte de DHA).


Legislação:

As normas que regulamentam as fórmulas infantis são as Resoluções RDC n. 43 (Regulamento Técnico para fórmulas infantis para lactentes), n. 44 (Regulamento Técnico para fórmulas infantis de seguimento para lactentes e crianças de primeira infância) e n. 45 (Regulamento Técnico para fórmulas infantis para lactentes destinadas a necessidades dietoterápicas específicas e fórmulas infantis de seguimento para lactentes e crianças de primeira infância destinadas a necessidades dietoterápicas específicas), de 2011, que surgiram após a revogação da Portaria SVS/MS n. 977/1998 (Regulamento Técnico referente às fórmulas infantis para lactentes e às fórmulas infantis de seguimento).
Vale ressaltar que o processo de revisão da Portaria SVS/MS n. 977/1998 também culminou com a publicação de regulamentos sobre compostos de nutrientes e aditivos alimentares para uso nesses alimentos, conforme descrito nas Resoluções RDC n. 42 (Regulamento Técnico de compostos de nutrientes para alimentos destinados a lactentes e a crianças de primeira infância) e n. 46 (Regulamento Técnico de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia para fórmulas infantis destinadas a lactentes e crianças de primeira infância), também de 2011. Ainda deve ser observado que as resoluções de fórmulas infantis de 2011 tiveram alguns pontos alterados em 2014 pelas Resoluções RDC n. 45, 46, 47, 48 e 49 de 2014.
Por fim, destaca-se ainda que a comercialização e as práticas correlatas de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, incluindo as fórmulas infantis, estão regulamentadas pela Lei n. 11.265/2006 e pelo Decreto n. 8.552/2015.

Discussão:

No que se refere à discussão sobre produtos do tipo Infant fórmula, temos de dar destaque à comparação desses produtos com o leite materno, principalmente por parte das empresas que os produzem. A Organização Mundial da Saúde (OMS) mantém padrões rigorosos em relação à comercialização de produtos para fórmulas infantis, que devem ser considerados um "próximo recurso" para a amamentação. O órgão aconselha as marcas a não “prejudicar as práticas recomendadas de amamentação”, sugerindo, por exemplo, que as fórmulas infantis que são adequadas para crianças menores de seis meses, não sejam repassadas ao consumidor como “iguais” ou “superiores” ao leite materno ou podendo substituir a amamentação completamente. Mas as empresas chegam perigosamente perto de violar a orientação, usando cada vez mais afirmações como “nossa fórmula é a mais parecida com o leite materno”. 
A descrição do Enfamil NeuroPro como “inspirado no leite humano”, “semelhante ao leite materno”, “o melhor começo de vida” e “recomendado pelos pediatras” é susceptível de reacender o debate sobre marcas de fórmulas infantis e sua interpretação da orientação da OMS. O certo é que, as empresas atuantes nesse mercado, em sua grande maioria, estão sempre comparando seus produtos ao leite materno, seja pela adição de um componente que não existe em nenhuma outra fórmula, como no caso do Enfamil NeuroPro e a adição do MFGM, seja pelas quantidades de cada componente na sua fórmula.
Quanto ao MFGM, em seu próprio site, a marca o define como uma membrana bioativa natural que envolve as gotículas de gordura no leite materno. Dizendo também que a MFGM foi anteriormente encontrada apenas no leite materno, mas que agora este componente revolucionário está disponível pela primeira vez nas novas fórmulas para o cérebro. Acontece que na mesma página, a marca se contradiz de certa forma, pois encontra-se a  seguinte frase: “Enquanto alguns componentes MFGM podem estar presentes em outras fórmulas infantis, o ingrediente MFGM no NeuroPro é propositadamente adicionado para apoiar o desenvolvimento cognitivo. Esta combinação exclusiva de DHA e MFGM no NeuroPro foi anteriormente encontrada apenas no leite materno.”. Dessa forma, acredito que com essa afirmação de que o MFGM pode estar presente em outras fórmulas infantis, a própria marca desmente o principal argumento para que o consumidor compre seu produto.

Conclusão:

Com tudo isso, podemos nos fazer o seguinte questionamento: se as marcas de Infant fórmulas vendem seu produto como “semelhante ao leite humano”, logo, todos deveriam ser iguais entre si, correto? Mas não é o que observamos, tanto analisando bromatologicamente as suas composições, quanto apenas comparando as propagandas pesadas em cima desses produtos, que buscam sempre diferenciar suas fórmulas das demais, mas sempre buscando equiparar sua composição com a do leite humano. Esse perigoso jogo das empresas, só prejudica os pais que buscam uma nutrição adequada para seus filhos recém-nascidos, acreditando que esses produtos realmente trazem os mesmos benefícios de uma amamentação saudável, muitas vezes até mesmo abdicando da mesma, e aos próprios bebês que poderão sofrer as consequências da falta de nutrientes adequados para o seu desenvolvimento saudável.

Autor: Wallace Ferreira Gonçalves


Referências:

  • NUTRITION, Mead Johnson. Enfamil NeuroPro. Disponível em: <https://www.enfamil.com/feeding-my-baby/enfamil-neuropro>. Acesso em: 17 abr. 2019.
  • NUTRITION, Mead Johnson. DHA and MFGM benefits. Disponível em: <https://www.enfamil.com/articles/enfamil-neuropro-dha-and-mfgm-infant-formula-and-benefits>. Acesso em: 17 abr. 2019.
  • NUTRITION, Mead Johnson. Enfamil NeuroPro Infant. Disponível em: <https://www.enfamil.com/products/enfamil-neuropro-infant>. Acesso em: 17 abr. 2019.
  • SANTIN, Juliana. Mead Johnson lança fórmula infantil "inspirada em leite humano" nos EUA. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/colunas/novidades-lancamentos-lacteos/mead-johnson-lanca-formula-infantil-inspirada-em-leite-humano-nos-eua-207613/>. Acesso em: 19 abr. 2019.
  • S.PATTON; T.W.KEENAN. The Milk fat globule membrane. Biochimica Et Biophysica Acta (bba) - Reviews On Biomembranes. Usa, p. 273-309. out. 1975.
  • ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Fórmulas Infantis. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/2810640/Formulas+infantis/b6174467-e510-4098-9d9a-becd70216afa>. Acesso em: 23 abr. 2019.

3 comentários:

  1. Fórmulas infantis podem proporcionar diversos recursos para mães que não podem amamentar seus filhos e servem como auxilio nutricional para os bebês, porém não substitui diversas propriedades dadas pelo Leite materno, o leite materno auxilia na formação neurológica do bebê, além disso ele possui componentes como anticorpos que auxiliam a imunidade dos recém-nascidos e ajudam a combater diversas doenças que podem ser prejudiciais nessa fase inicial da vida. O leite materno possui 3 fases, nos primeiros dias o Leite é mais líquido, menos gorduroso e mais proteicos; na fase intermediária há um aumento de carboidrato e gordura. O leite materno contém nutrientes em proporções que acompanham a maturidade do sistema digestivo e as necessidades nutricionais do bebê para que ele possa crescer e se desenvolver. Além disso, ao longo da mamada o leite apresenta composição e aparência diferente: no início é mais aguado e ajuda a saciar a sede do bebê enquanto o leite do final da mamada, o chamado leite posterior é rico em gordura e possui mais calorias e nutrientes. Portanto nenhuma formula infantil deve prometer propriedades como o leite materno, por que ele é muito rico em nutrientes e outras substâncias e alimentos não podem substituir esse fenômeno natural da amamentação e os benefícios dados por ela.

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  2. As fórmulas são diferentes entre si para atender as exigências nutricionais de cada fase do desenvolvimento de um bebê ou necessidades especiais. Por isso, seu uso deve ser sempre recomendado por um pediatra ou nutricionista. Além disso, é preciso que população tenha acesso à informação desde a gestação e ainda na maternidade, com um seguimento e aconselhamento que não acontece hoje. Infelizmente, as informações que chegam às mães são conflitantes e faltam profissionais preparados para capacitação e treinamento em hospitais. Entretanto, fato é de que a amamentação é a forma mais completa de nutrição do bebê, fornecendo benefícios que vão além do óbvio. Então, por mais que as infant formulas, com suas novas tecnologias tentem se aproximar da composição do leite materno, as mesmas nunca o substituirão.

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  3. O MFGM é um componente bioativo estruturalmente complexo do leite, encontrado no leite humano e também no leite de outros mamíferos, logo este componente estaria presente em outras formulações tornando dessa forma mais uma jogada de marketing do que melhoria do produto.
    Em alguns aspectos, as infant fórmula são semelhante ao leite materno: ambos fornecem energia, hidratação e nutrientes, de forma que o bebê vai crescer com qualquer um que receber. Mas, apesar dos avanços na formulação e fabricação do leite em pó infantil, este nem chega perto de oferecer os benefícios para a saúde do leite materno, logo a primeira escolha sempre será o leite materno.
    É evidente que a indústria deve aprimorar suas formulas a fim de torna-las o mais parecidas com o leite materno e garantir todos seus benefícios e, ainda que não substituam a amamentação, venham suprir as necessidades de crianças que não podem ser amamentadas por suas mães.

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