Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Nestogeno 1, é ideal para bebês?

Avaliação e comparação de aspectos bromatológicos

O consumo e a oferta de infant fórmulas vêm crescendo com o desenvolvimento e a criatividade da indústria alimentícia. Sabemos das vantagens do aleitamento materno e que sua composição nutricional é impossível de ser totalmente mimetizada, já que é um alimento biológico. Uma análise detalhada da composição nutricional do produto pode explicar os efeitos indesejados causados por esses alimentos. A marca Nestogeno® da Nestlé é uma das mais procuradas e bem difundidas no mercado. Sua composição é ideal como primeiro alimento para lactentes?


Descrição e fundamentos bromatológicos:

O Nestogeno® 1 é indicado para lactentes entre 0 a 6 meses em substituição total ou parcial do leite materno. É uma infant fórmula com predominância proteica de caseína; acrescidas de óleos vegetais, maltodextrina e enriquecidas com vitaminas, minerais, ferro e
 utros oligoelementos.

As duas principais proteínas encontradas no leite de vaca são a caseína, que representa cerca de 80% do total proteico, e as proteínas do soro, como a lactoalbumina e a lactoglobulina. No leite materno predominam estas últimas, atingindo cerca de 60 a 70%, dependendo do período de amamentação. Nas formulações com maior conteúdo de caseína, como no caso do Nestogeno 1 ®, haverá a presença de aminoácidos aromáticos que são dificilmente digeridos pelo neonato em comparação com os aminoácidos provenientes das proteínas do soro.

Em relação ao carboidrato, o principal presente no leite materno é a lactose, já no Nestogeno® o principal é a maltodextrina. A presença da maltodextrina contribui para aumentar a viscosidade do produto final, aumentando a sensação de saciedade do lactente, além de conferir um sabor mais doce ao alimento, o que contribui para uma maior aceitação do bebê ao produto. Por um lado a adição de maltodextrina é conveniente para as mães que não querem, ou não tem tempo para amamentar, já que o bebê pede por comida menos vezes. 

Além das diferenças citadas acima, vários fatores bioativos como insulina, esteróides adrenais, T3 e T4 estão entre os hormônios encontrados no leite materno e não estão presentes em fórmulas infantis, sendo esses hormônios essenciais para o desenvolvimento do lactente, principalmente para proteção, crescimento e prevenção de futuras doenças. Outro componente ausente no Nestogeno® são as fibras alimentares, o que pode explicar o aumento da constipação intestinal em lactentes que fazem uso dessa fórmula infantil.

Legislação:

De acordo com a Resolução RDC n. 44/2011 da ANVISA, a descrição de fórmula infantil de seguimento para lactentes e crianças de primeira infância é: “(...) produto, em forma líquida ou em pó, utilizado quando indicado, para lactentes sadios a partir do sexto mês de vida até doze meses de idade incompletos (11 meses e 29 dias) e para  crianças de primeira infância sadias (crianças de doze meses até três anos de idade, ou seja, até os 36 meses).” O CODEX emergiu com um extenso Preâmbulo, listando considerandos e reconhecimentos, um deles que afirma que é importante que os
lactentes recebam alimentação complementar apropriada - geralmente ao completarem quatro a seis meses de idade - e que deve-se mobilizar todas as forças para utilizar alimentos disponíveis localmente; persuadidos, porém, de que estes alimentos complementares não devem ser usados como substitutos do leite materno; e devido à vulnerabilidade dos lactentes nos primeiros meses de vida e os riscos envolvidos nas práticas de alimentação inadequadas, incluindo o uso desnecessário e inadequado dos substitutos do leite materno, a comercialização dos substitutos do leite materno requer tratamento especial, que torna as práticas normais de comercialização impróprias para este produto.

Discussão:

A partir dessa avaliação pode-se notar diferenças entre o leite materno e o Nestogeno 1® em caraccterísticas básicas da sua composição, como os caboridratos e proteínas. Por um lado a adição de maltodextrina é conveniente para as mães que não querem, ou não tem tempo para amamentar, já que o bebê pede por comida menos vezes. Porém bebê saciado não é sinônimo de bebê perfeitamente nutrido e isso pode levar a distúrbios alimentares no futuro, e até mesmo desnutrição. Um outro problema é o fato do bebê preferir a formulação com maltodextrina ao leite materno, pois aquele é mais doce, sendo mais saboroso, podendo gerar na bebê gastrite, além de diabete, cáries, distúrbio de comportamento, deixando a criança agitada e prejudicando sua concentração, além de provocar obesidade infantil no futuro. Além disso, a lactose é essencial para o desenvolvimento do cérebro, e sua baixa concentração em fórmulas infantis pode ser prejudicial.

Em relação a proteína predominante, as lactoalbuminas são essenciais para a proteção do recém-nascido, sendo proteínas essenciais para lactentes, porém vistas em baixas doses na 
maioria das fórmulas infantis, incluída o Nestogeno 1®.  Já as vitaminas estão presentes em quantidades superiores nessa fórmula infantil em relação ao leite humano, podendo causar hipervitaminose e obesidade precoce. 

Como conclusão temos que o leite materno é a melhor fonte de nutriente para bebês e pode ajudar a impulsionar o sistema imunológico dele. Quando um bebê não é amamentado por qualquer razão, fórmulas infantis são alternativas aceitáveis. Elas são disponíveis no Brasil e submetidas a um processo de controle rigoroso, que compreende na avaliação de dados para mostrar que a fórmula suporta o crescimento e o desenvolvimento de bebês normais. Porém, na maioria dos casos o uso de fórmulas infantis, substituindo o leite materno é feito de forma precoce, como o Nestogeno® 1, indicado para lactentes de 0-6 meses, enquanto o indicado pela anvisa é a partir do sexto mês.

Bibliografia:
https://www.saude.rj.gov.br/comum/code/MostrarArquivo.php?C=MTk4MA%2C%2C
http://www.fao.org/fao-who-codexalimentarius/sh-
proxy/fr/?lnk=1&url=https%253A%252F%252Fworkspace.fao.org%252Fsites%252Fcodex%252
FStandards%252FCODEX%2BSTAN%2B72-1981%252FCXS_072e.pdf
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/2810640/Formulas+infantis/b6174467-e510-
4098-9d9a-becd70216afa

5 comentários:

  1. Muito bom o trabalho!
    É muito importante ressaltar os riscos de uma alimentação incorreta, principalmente nos bebês. Hoje sabe-se que a microbiota interfere diretamente no metabolismo dos seres humanos, provavelmente esses substituintes do leite interfere na formação e manutenção da microbiota infantil, afetando diretamente sua homeostase e metabolismo.

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  2. Apesar de muito comum, são raras as situações em que o aleitamento materno não é indicado, devendo ser substituído pelo aleitamento artificial. São exemplos destes casos as infecções maternas com agentes de alta patogenicidade ou que exijam o uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação. As fórmulas infantis mais utilizadas no mercado têm como matéria-prima básica o leite de vaca, que não é apropriado para a alimentação do recém-nascido, necessitando de uma série de adaptações para se tornar mais digerível e absorvível. As principais modificações que podem ser feitas incluem a redução do teor de proteínas e eletrólitos, substituição de parte dos lipídios por óleo vegetal, adição de outros carboidratos como a maltodextrina e sacarose e adição de vitaminas e minerais.

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  3. Muito bom trabalho. É importante apontar as diferenças entre uma infant formula e o leite materno. Além do Nestogeno 1 não apresentar a mesma fonte de açúcar que o leite materno (maltodextrina no lugar de lactose), e ter maior concentração de proteínas como caseína, proteína majoritária do leite de vaca, diferente do materno que tem a lactoalbumina como fonte proteica principal, ele não consegue mimetizar a composição dos estágios do leite materno. O leite materno é formado por misturas altamente complexas de proteínas, carboidratos, minerais e vitaminas e gordura. E sua composição é variável de acordo com o estágio de lactação, sendo ele classificado como: precoce, colostro, leite de transição e leite maduro (ACCIOLY et al, 2005). O colostro é rico em β caroteno, produzido até 5 dias após o parto. Do 5º ao 15º dia é o leite de transição que é produzido pela mãe, e a energia fornecida pelo leite aumenta com os estágios de desenvolvimento, atendendo à demanda crescente por calorias para o crescimento e desenvolvimento da criança, ou seja, a quantidade de macronutrientes vai aumentando conforme a maturação. O leite maduro oferece todos os aminoácidos essenciais ao ser humano e calorias. Esta infant formula teoricamente supriria as necessidades de uma criança de 0 a 6 meses, mas com formulação fixa ao comparar com os estágios do leite materno que varia em dias, provavelmente a criança que se alimentar exclusivamente dessa infant formula pode ter inadequações calóricas e nutricionais.

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  4. Excelente matéria, que nos permite avaliar de forma crítica os produtos que a indústria farmacêutica disponibiliza em suas prateleiras. Considerando que essa infant fórmula é uma segunda opção para a nutrição dos lactentes, que por motivos particulares não recebem o leite materno, apesar dos contras, também precisamos avaliar os prós. O ideal para os bebês, de fato, é o leite materno. Mas na ausência deste, entendo que o ideal é nutrir o bebê com uma infant fórmula, por mais que ela contenha maltodextrina e que existam riscos correlacionados. Um ponto que eu gostaria de destacar é que as infant fórmulas, em sua maioria, não atuam de forma homeostática na microbiota do bebê como o leite materno. Além disso, em alguns casos a infant formula em pó é responsável pela infecção de bebês com Cronobacter sakazakii (Enterobacter sakazakii) e organismos relacionados. Visto que o leite não é estéril, se essas bactérias estiverem presentes, podem sobreviver por longos períodos no pó seco.

    Fonte: BM Lund , SJ O'Brien , em Encyclopedia of Food Safety , 2014
    https://doi.org/10.1016/B978-0-12-378612-8.00348-6

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  5. A Fórmula Infantil Nestogeno é um complemento para bebês para casos em que a mãe não consegue dar toda a amamentação necessária. A fórmula do ambos os produtos é carboidratos, proteínas, óleos, vitaminas e minerais como sulfato ferroso, sulfato
    de zinco, iodeto de potássio.
    No entanto, O Nestogeno 1 é uma fórmula infantil para lactentes de 0 a 6 meses e pode substituir de forma total ou parcialmente o leite materno em uma fase onde o leite é a única fonte de alimentação dos pequenos.

    fonte: https://www.nestlebabyandme.com.br/nossasarcas/nestonutri?gclid=CjwKCAjwkoz7BRBPEiwAeKw3qyGXen261HKxrDnP_hLH1tilfTrXQV0V4WKcA3ulBC12AaQUsGDsAxoCGU4QAvD_BwE
    Acesso em 17 de março de 2021
    https://www.panvel.com/panvel/nestle-formula-infantil-nestogeno-1-lata-800g/p-541150
    Acesso em 17 de março de 2021

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