Catuaba: O selvagem pode estar todo na sua imaginação

 

    A bebida "Catuaba Selvagem" possui uma propaganda forte em relação a sua composição ter uma mistura de ervas amazônicas, como a catuaba, guaraná entre outras, fortificando um senso comum de que a bebida possui propriedades afrodisíacas, sem contar seus rótulos sugestivos. Logo, essa bebida de fato traz benefícios para a saúde sexual de seu consumidor?  

DESCRIÇÃO

    “Catuaba selvagem” é uma bebida alcoólica do fabricante Arbor, em sua composição é possível encontrar extrato de catuaba, marapuama e guaraná. Esse nome possui um peso importante dado as concepções em relação a própria catuaba, levando o consumidor a acreditar na existência de efeitos possivelmente terapêuticos, mesmo que não seja um produto farmacêutico.

     Catuaba é uma planta conhecida brasil a fora por efeitos afrodisíacos. Várias espécies são conhecidas como catuaba e são utilizadas para fins semelhantes. Muito usada na medicina popular para o tratamento de fadiga, estresse, impotência e déficit de memória (Martins et al., 2018). No Brasil, o seu extrato é considerado um estimulante do sistema nervoso central. Isso é usado em alguns remédios asiáticos para fraqueza sexual e diminuição da libido. Os fitoterapeutas europeus descobriram que a catuaba pode ter propriedades afrodisíacas e pode ser usada para combater a fraqueza sexual (Lim, 2017). 

             

FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS 

    Catuaba selvagem é uma bebida alcoólica que possui como base o vinho tinto além do suco, xarope e fermentado de maça com extrato de catuaba, guaraná e marapuama. Esse extrato composto de plantas atua como aditivo aromatizante por adicionarem sabor na bebida. A quantidade adicionada não é especificada. Bebidas alcoólicas podem possuir efeito deletério para a saúde, além de contribuir com disfunção erétil.

LEGISLAÇÃO

RDC n. 2/2007 define que os aromatizantes são substâncias ou misturas de substâncias com propriedades odoríferas e/ou sápidas, capazes de conferir ou intensificar o aroma ou sabor dos alimentos, podendo ser apresentados sob as seguintes formas: sólida (pós, granulados, tabletes), líquidas (soluções, emulsões) e pastosa. Desta forma, a GEARE/GGALI/ANVISA considera que os vegetais inteiros ou suas partes, empregados diretamente no alimento ou bebida (ex.: casca de catuaba na bebida) não são, conceitualmente, aditivos aromatizantes. Portanto, em todos os casos desta IN a espécie botânica regional será componente de um aditivo aromatizante, ou seja, esta IN se aplica aos aditivos aromatizantes obtidos a partir de espécies botânicas regionais, mediante processo específico (ex.: extração, destilação etc.), e usados em pequena quantidade na qual não se observa efeito terapêutico ou medicamentoso, com a finalidade exclusiva de conferir ou intensificar o sabor dos alimentos.

DISCUSSÃO

Como é demonstrado na lista de ingredientes, é utilizado um extrato de catuaba, guaraná e marapuama e de acordo com a RDC nº 2/2007 que está harmonizada com a MERCOSUL/GMC/RES. N° 10/06 aditivos aromáticos não devem possuir efeitos terapêuticos ou medicamentosos, além de precisarem estar listados nesses documentos.

Outras fabricantes de bebidas, como Casa di Conti e Athenas passaram por um processo judicial acerca do mesmo assunto, pois utilizam catuaba como aromatizante. A ANVISA orientou pelo não registro de produtos contendo aromas/extratos das espécies vegetais como catuaba, marapuama, entre outras, visto que as mesmas não constam na farmacopeia brasileira publicada em sua 5ª edição (e também na 6ª edição).

Além disso, catuaba selvagem se trata de uma bebida alcoólica e existem diversos estudos que demonstram seus efeitos negativos na saúde sexual masculina tanto quanto feminina. As disfunções sexuais mais comuns relatadas são disfunção erétil, seguido por ejaculação precoce, ejaculação retardada e diminuição do desejo sexual entre homens e dispareunia e secura vaginal entre mulheres (Pendharkar, Matto e Grover, 2016)

Todas essas informações entram em desacordo com a propaganda de ser “selvagem”. Isso porque é possível perceber pelas propagandas uma insinuação sexual associada a bebida. A marca fez uma campanha publicitaria especial do dia dos namorados em 2018 em colaboração com o Tinder, onde é possível visualizar garrafas de catuaba simulando posições sexuais do kama sutra “selvagem”.  

CONCLUSÃO

Baseado nisso, a propaganda e a crença popular acerca dos possíveis efeitos da Catuaba Selvagem da Arbor pertencem ao senso comum pelo uso do extrato dessas plantas e o uso do nome de forma inapropriada, não com os efeitos comprovados dessas substancias na bebida. De acordo com a RDC vigente, esses extratos devem possuir efeito exclusivamente de aromatizantes sem qualquer efeito terapêutico para estarem em uma bebida. Além disso, o uso ainda se demonstra controverso considerando a ausência de um posicionamento em relação a esses extratos que possuem catuaba, não sendo possível registrá-los na ANVISA. 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada- RDC Nº 2, de 15 de janeiro de 2007. Disponível em: Acessado em: 22 de setembro 2020.

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JUSBRASIL. Página 22 da judicial I – Interior SP e MS do tribunal regional federal da 3ª região (TRF-3) de 27 de fevereiro de 2018. Disponivel em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/179316470/trf-3-judicial-i-interior-27-02-2018-pg-22?ref=topic_feed. Acessado em: 29 de setembro de 2020.

Lim, P. H. C. (2017). Asian herbals and aphrodisiacs used for managing ED. Translational Andrology and Urology, 6(2), 167–175. doi:10.21037/tau.2017.04.04 

Martins, N. O., de Brito, I. M., Araújo, S. S. O., Negri, G., Carlini, E. de A., & Mendes, F. R. (2018). Antioxidant, anticholinesterase and antifatigue effects of Trichilia catigua (catuaba). BMC Complementary and Alternative Medicine, 18(1). doi:10.1186/s12906-018-2222-9 

Pendharkar S, Mattoo SK, Grover S. Sexual dysfunctions in alcohol-dependent men: A study from north India. Indian J Med Res [serial online] 2016 [cited 2020 Sep 29];144:393-9. Available from: http://www.ijmr.org.in/text.asp?2016/144/3/393/198681

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Empresa obtém autorização judicial para seguir comercializando bebidas. Disponivel em: https://www.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_noticia=14301. Acessado em: 29 de setembro de 2020.